Inteligência Artificial em Música – parte 1

José Fornari – fornari @ unicamp . br

17 de julho de 2023

 

Em maio de 2023, eu fiz uma palestra sobre Inteligência Artificial (IA) e Música. 

A ideia dessa palestra foi trazer considerações sobre o impacto, na esfera musical, da revolução criada pelo lançamento público e gratuito, em março de 2023, pela sua empresa criadora, a Open IA, do ChatGPT 3.5, um modelo computacional de IA que, a meu ver, em sua versão atual, conseguiu passar no “teste de Turing“. Isto significa dizer que esta versão do ChatGPT  é, para mim, o primeiro modelo de IA capaz de conversar por texto com um humano exatamente como se fosse outro humano. Por comparação, é interessante checar a versão anterior do ChaGPT, online via Hugging Face, que apesar de ser competente em gerar texto, não me parece passar no teste de Turing pois sua conversa soa artificial e idiossincrática; algumas vezes até parecendo criada por alguém com grande falta de atenção ou ligeiramente insano. Passar no teste de Turing representa ser impossível para um humano distinguir se está conversando por texto com um outro humano ou com uma máquina. O modelo de IA utilizado no ChatGPT, que origina seu nome, é o GPT, cuja sigla significa Generative Pre-Training Transformer. Trata-se assim de um modelo de IA previamente treinado (que não aprende automaticamente, por si só, mas que antes passa pela supervisão de técnicos humanos, que avaliam a informação nova e decidem se irão inserir, modificar ou apagá-la do banco de dados deste modelo), de geração de linguagem (na forma de texto escrito, como se este tivesse sido gerado por um humano), baseado na tecnologia de aprendizado de máquina (machine learning) conhecida por Transformer, lançada em 2017, no artigo de Vaswani e colegas “Attention is All You Need“. 

Como música e linguagem são comunicações humanas irmanadas, que apesar de distintas, compartilham áreas cerebrais para o seu processamento, é de fato pertinente ponderar como modelos de IA tais como o ChatGPT podem também influenciar a produção musical. No caso da linguagem, o ChatGPT decisivamente impactou e assombrou a nossa sociedade atual, virtualizada pelos abundantes recursos das TIC (tecnologias de informação e comunicação), que para mim elevaram a interação remota ao patamar de significância semântica e expressiva da interação presencial.

Tais modelos de linguagem permitem a análise, o processamento e a produção de texto em larga escala, desde a sua utilização em chats online, substituindo humanos (com grande vantagem), até a produção de código (em linguagens de programação), criação e correção de artigos acadêmicos, produção de ficção, prosa, poesia e muito mais. Sendo a linguagem a qualidade que mais nos define como humanos, um modelo computacional que simula tão bem esta nossa habilidade comunicacional, como é o caso do ChatGPT a partir de sua versão 3.5, representa um profundo impacto social e uma enorme relevância econômica. Nos próximos artigos e irei descrever e expandir as ponderações que apresentei na palestra acima citada. Enquanto isso, segue um vídeo longo com uma boa explicação sobre o ChatGPT e afins

 

Até breve,

 

 


Como citar este artigo:
José Fornari. “Inteligência Artificial em Música – parte 1”. Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas. Data da publicação: 17 de julho de 2023. Link: https://www.blogs.unicamp.br/musicologia/2023/07/17/inteligencia-artificial-em-musica-parte-1/