“A Planta do Padre” – Apoie uma produção documental sobre a vida e o ativismo de Padre Ticão

Publicado por portadesaida em

Quem acompanhou o Porta de Saída desde o princípio talvez se lembre que nosso podcast começou como um Trabalho de Conclusão de Curso. Era o primeiro ano do distanciamento social no Brasil, devido à COVID-19, e a migração de boa parte das atividades para o modelo remoto via streaming permitiu que participássemos da quarta edição do Curso Livre de Cannabis Medicinal, oferecido pela UNIFESP em parceria com o Movimento Pela Regulamentação da Cannabis Medicinal (MOVRECAM), a Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC) e a Paróquia São Francisco de Assis.

Para quem não conhece a trajetória do Padre Ticão – um dos responsáveis por tornar a Paróquia em Ermelino Matarazzo (Zona Leste de São Paulo) em um importante ponto de acolhimento focado na fitoterapia, naturopatia e, nas últimas décadas, na medicina Cannábica –, é comum se espantar com esta parceria entre uma paróquia católica e um tema tão moralizado como a planta da liamba. Mas, até aí, a trajetória do Padre Ticão é realmente de espantar muita gente.

Retrato do Padre Ticão durante cerimônia religiosa, com vestes sacerdotais, segurando uma vela.  Ele é um homem de meia idade, de pele bege claro, com cabelos pretos levemente calvos. Suas vestes são brancas e compridas, sobre as quais há um uma faixa verde escuro com bordados dourados. Ele fala ao microfone, em frente a uma mesa de sua igreja, onde há objetos religiosos como uma bíblia aberta, vela e decorações.
Retrato do Padre Ticão durante cerimônia religiosa, com vestes sacerdotais, segurando uma vela. (Foto: Natália Dourado/Assessoria de Imprensa da EACH-USP)

O texto de hoje é sobre um filme sendo produzido a respeito desta história de resistência e enfrentamento, de um padre que foi perseguido pelo Regime Militar e que, mais recentemente, colocou o acolhimento a famílias que dependiam da Cannabis para sua saúde a frente de preconceitos, ataques e do conservadorismo religioso.

O filme

Para além de ser uma das figuras responsáveis pelo curso — e, indiretamente, pelo nosso projeto de comunicação — o Padre Ticão foi uma figura de resistência. Instrumental nas lutas populares por moradia, acesso à saúde e educação e Escolas de Cidadania na periferia de São Paulo, tornou-se uma figura importante no cenário social brasileiro. E também no canábico: oferecendo todo o suporte para as famílias, inclusive apoio jurídico e médico na forma de parcerias, organizando eventos, palestras e encontros para doação de sementes, e debatendo o mérito da importância de uma sociedade na qual a Cannabis não seja criminalizada. Antonio Luiz Marchioni, mais conhecido como Ticão, faleceu no primeiro dia do ano de 2021 após décadas dedicado à promoção do acesso à planta e a seus potenciais benefícios.

Para contar a história de parte de sua vida e luta, em especial no que diz respeito ao acolhimento e suporte para o tratamento à base de extratos de Cannabis, a produtora CINEMATA está preparando o trabalho de DocuDrama “A Planta do Padre”, um média-metragem que contará quatro histórias das quais Ticão participou, com a intenção de divulgar não apenas a figura do Padre Ticão, mas também os benefícios da Cannabis à saúde, pelos quais ele lutava. DocuDramas são reencenações de fatos reais, pesquisados com o rigor de um documentário, mas contando com atuações profissionais para reconstruir as cenas.

Retrato de rosto de um homem de pele clara, de meia idade, com cabelos e costeletas grisalhos, olhos castanhos, sobrancelhas finas, lábios pequenos. Ele usa uma camisa estampada colorida e atrás de si há uma parede laranja.
Retrato de Tarcísio Vecchini, idealizador do projeto.

O projeto, idealizado pelo cientista social e produtor Tarcísio Penteado Vecchini, foi selecionado pelo edital Mercado de Indústrias Culturais Argentinas (MICA) 2023, promovido pelo Ministério da Cultura, que ocorrerá entre os dias 01 e 04 de junho em Buenos Aires, para participar do encontro e firmar parcerias para financiamento e distribuição do filme. A CINEMATA está agora em busca de apoios no Brasil, para cobrir os custos da ida à Argentina e contar esta história. Quem se interessar pode entrar em contato com o produtor pelo e-mail tarcisio@escolaviveiro.org.br para saber mais sobre as doações e as recompensas (como nome nos créditos do filme).

70% de toda a arrecadação que o filme obtiver após seu lançamento será destinada ao Instituto Padre Ticão, para dar continuidade às obras iniciadas pelo padre em vida.

Neste momento, são possíveis doações em valor ou em milhas para hotéis, que serão utilizadas para diárias, passagens aéreas, alimentação, transporte interno, internet e reuniões locais no evento.

Apoiando este projeto, você estará fortalecendo a cena de cinema brasileiro independente e colaborando para combater o estigma negativo que a Cannabis tem até os dias de hoje.

Mais sobre cinema e Cannabis

A produção brasileira de audiovisual, seja de DocuDramas, documentários ou filmes ficcionais sobre a Cannabis tem um histórico importante, especialmente por ter sido marcado, no princípio do Séc. XX, por peças de propaganda proibicionista como o filme “Maconha, erva maldita” de 1949, que já foi debatido no XXVIII Simpósio Nacional de História.

Reprodução de um frame cinematográfico em preto e branco, onde há uma pessoa segurando uma placa onde lê-se "Maconha Cena 51C Take 1 Seg Kal". Atrás há uma estacionamento de carros da década de 40 com prédios ao redor.
Frame do filme “Maconha, erva maldita”, de 1949, disponível no Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira

Mais recentemente, documentários como “Ilegal: A Vida não Espera”, Xeque-Mate”e “O Verão da Lata”, além de filmes ficcionais como “Apto. 420”, tratam uma série de ângulos a respeito da planta, sem se guiar por desinformação e abordando temas como a luta pelo acesso ao uso terapêutico e ao autocultivo, a cultura canábica no Brasil e os argumentos pró e contra sua legalização. A busca destes filmes por informar com base em dados e pesquisa é ilustrada, por exemplo, no fato de que o historiador que levou o filme Maconha, erva maldita ao Simpósio Nacional de História é um dos personagens de “Apto. 420”.

Bate-papo do Porta de Saída com Bruna Piantino (diretora de Xeque-Mate), Dellani Lima (diretor de Apto420 e Eu não me calo) e Tocha Alves (diretor de Verão da Lata).

O Porta de Saída conversou com os diretores de três dos filmes citados acima a respeito da importância do Cinema para a Cannabis no Brasil, em uma Live produzida pela Associação Cultural Cannábica de São Paulo, a ACuCa. Exatamente por entendermos o Cinema como uma parte importante desta caminhada pela legalização e regulamentação desta planta que decidimos divulgar e apoiar o trabalho da CINEMATA.


portadesaida

Conteúdo de divulgação científica focado no uso terapêutico da Cannabis sativa.

1 comentário

Tarcísio Penteado Vecchini · 9 de maio de 2023 às 18:46

A Planta do Padre é mais que um filme. É um movimento.

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