Este blog contém 0% de gordura trans


Você já se perguntou o que raios é gordura trans? Talvez tão importante quanto isto seja a pergunta: podemos confiar nos alimentos com os dizeres “0% Trans”? Pasme. A resposta para esta última pergunta parece ser NÃO! Já explico…

Primeiro o que é gordura trans. Não vou re-escrever aqui o que está tão didático e sucinto no site da todo-poderosa ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Lá você acha o que é a gordura trans (está curtinho, vale a pena. Leia e volte para esta postagem!). Aqui vai também um videozinho do Mcdonalds (sim, ele mesmo), que explica a mesma coisa do texto da ANVISA e o porquê de se ter usado gorduras trans na indústria até hoje. Mas não é merchandising meu. O vídeo é bem feitinho, só tem aquela puxada de sardinha básica, mas você, leitor crítico, sabe bem perceber esse tipo de interesses.

Até aí ok, mas percebam que não há níveis seguros de gordura trans. E se nem no vídeo institucional do Mac eles falam que as batatas deixam de ter trans (elas apenas tem menos desta gordura), qual o segredo dos produtos serem ZERO TRANS? Ora, tudo uma questão de lingüística, meu caro. Novamente aqui, recorrerei à ANVISA, que é quem decide o que deve estar no rótulo ou não. Esta pergunta é do FAQ da ANVISA:

Pode ser utilizado o claim (alegação) “livre de gorduras trans” nos rótulos dos alimentos?

Sim, desde que o alimento pronto para consumo atenda às seguintes condições: – máximo de 0,2g de gorduras trans por porção; e – máximo de 2g de gorduras saturadas por porção. Os termos permitidos para fazer este claim são: “não contém…”, “livre…”, “zero…”, “sem…”, “isento de…” ou outros termos permitidos para o atributo “Não contém” da Portaria SVS nº 27/98. Não podem ser utilizados outros atributos para gordura trans.

Hum, ok. Então se o produto tiver menos de 0,2g por porção posso pôr “0% Trans” na embalagem. E quem define quanto é uma porção? A ANVISA de novo, menos para os produtos de “consumo ocasional”, como sorvetes, balas pirulitos, e imagino que salgadinhos e bolachas também entrem nessa categoria. Portanto, quem produz esse tipo de alimento é quem decide quanto é uma porção.

Notaram o estratagema? Explico. Um pacote de batata frita “0% TRANS” tem 150g, mas a porção indicada na embalagem é 15g. QUEM COME SÓ 15g DE BATATA FRITA?! Só eu, que não sou guloso, como dois pacotes de 150g inteiros!!! Mas 15g é provavelmente a porção limite que contém 0,2g de gordura trans permitidas por lei em cada porção. Se for isso mesmo, o pacote inteiro de batata teria pouco menos de 2g de gordura trans, que é o limite máximo que a ANVISA indica por dia numa dieta saudável.
É isso ae, 0% TRANS, 100% malandragem.

P.S.: Algumas coisas hilárias sobre o filme do Mcdonalds:

O cientista genérico do McDonalds – Percebeu que em dado momento o locutor apresenta “o nosso cientista”? Que seria quem mesmo? Não tem nome não?

Dê-me os dados! – Aparece um gráfico com o nível de gordura da batata caindo vertiginosamente. Desculpe a chatice, mas qualquer cientista (ou pessoa atenta) perguntaria: Caiu de “um montão” para “um pouquinho”? E os números?

Quem disse que Lamarck está errado?

Esta postagem é parte integrante do Carnaval de Blogs idealizado pelo Atila do Transferência Horizontal, e se baseia no tema “E se Lamarck estivesse certo?”.

Três coisas sobre Lamarck:

  • Ele é o famoso cara que ERROU a evolução. Passou raspando, Lamarck, foi mal… Mas algo que todo biólogo sabe, mas nem todo professor de ensino médio conta é: esse cara criou a idéia de que os organismos evoluem. ANTES do Darwin. Pode-se pensar até mesmo que a teoria de Darwin é uma correção que refina a idéia de Lamarck. Isso é um imenso mérito.
  • Quem disse que ele estava errado? Ele só errou o alvo. A evolução das espécies não acontece do jeito bacana que ele sugere, com a natureza recompensando os esforços dos pais com essa herança passando para seus filhos e lhes facilitando a vida. Mas outras áreas de nossa vida funcionam assim sim. Imagine a evolução do guarda-chuva. Ele foi criado com um objetivo (coisa que na teoria de Darwin não existe), e as melhorias vão se acumulando em projetos posteriores (herdabilidade), enquanto que as idéias que não funcionam são abandonadas de imediato (uso e desuso) refinando o guarda-chuva para melhor se ajustar ao seu fim. Uma tendência apareceu para estudar a evolução das idéias na sociedade, se chama Memética.Mas mesmo na própria biologia algumas coisas podem mudar ainda. Alguns processos que alteram a ação do gene, sem mudar a sua sequência, podem ser herdadas (epigenética). Isso seria a lei de herdabilidade do Lamarck em ação. Ainda não se sabe se essa participação no processo evolutivo tem alguma significância, mas é o Lamarck aí gente!
  • A famosa história da girafa. Que faz a idéia do Lamarck ficar até simpática. Parece tão lógico não? Estica, come, estica mais um pouco, come mais um pouco, filho mais pescoçudo come também e assim vai. Legal mesmo. Mas nem o Lamarck usou essa história pra se justificar! Então porque ficou ela tão famosa? Uma Malla já escreveu sobre isto neste carnaval de blogs, só venho reforçar a idéia com uma citação do saudoso Jay Gould sobre este tema:

Se seguíssemos de volta os rastros desse exemplo onipresente até os primeiros fragmentos de especulação e não descobríssemos fundamento algum, ou. Ainda, encontrássemos apenas um engraçado pontinho de origem equivalente a um rei querendo ir ao banheiro, então aprenderíamos duas lições de potencial importância: primeiro, que a repetição de uma história não necessariamente se correlaciona com o seu valor de verdade, e que mesmo as certezas mais pias devem ser periodicamente reexaminadas até os seus fundamentos; e segundo, que a relevância e a finalidade atuais de um fenômeno não nos fornecem nenhuma compreensão em particular sobre as circunstâncias de sua origem histórica.

Pois é. De repente, ninguém sabe o porquê, o exemplo hoje em dia tido como clássico de evolução acaba se revelando uma história da carochinha que nunca preocupou Lamarck e mal incomodou Darwin. Será que a memética explica?

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Mais um rosto em Marte

Finalmente os ufólogos de todo o mundo têm o que queriam, uma confirmação da NASA com relação a rostos na superfície de Marte. Por muito tempo houve uma briga com relação a fotos de uma montanha que lembrava um rosto humanóide.

Mas vista de outros ângulos a figura não lembrava mais um rosto.

A imagem mostrada agora é incontestável prova de uma inteligência superior em solo marciano. Afinal, já conheciam os emoticons do MSN!


Fonte da imagem: G1

O rosto para os humanos é muito importante, e mais importante é reconhecer as expressões de um rosto com quem se conversa, para saber se está dizendo a verdade ou mentindo. Assim, nós desenvolvemos uma habilidade fantástica de reconhecer rostos e expressões, mesmo em coisas que não são rostos. Qualquer borrão com pontos aleatórios vai conter algo que nos lembre um rosto. Sempre veremos mais rostos do que patos ou qualquer outra forma. Faça o teste olhando para um pedaço de granito bem manchado. Quantos olhinhos e bocas você vê?

Eu Sou a Lenda 2: o microondas

Nasce mais uma lenda urbana. Nada novo na verdade, pois em se tratando de microondas as lendas são inúmeras, e se dependesse delas os microondas estariam banidos da face da terra.

Este email que recebi, e em busca na internet percebi que muita gente pelo mundo recebeu, fala sobre os riscos em aquecer comida em recipientes plásticos ou congelar água em garrafas plásticas. Essas ações liberariam dioxinas que seriam prejudiciais e poderiam gerar câncer.

O email apesar de ser bem feito, com fotos ilustrativas, não passa de uma bravata alarmista.

Dioxinas estão ainda sendo estudadas. Seus efeitos parecem ocorrer apenas em grandes quantidades, quando plástico é queimado. As embalagens especiais para microondas são normalmente certificadas por agências de saúde, sendo que a quantidade liberada é muito pequena e segura. É o que diz a Associação Brasileira de Câncer e o dr. Rolf Halden do Hospital Jonhs Hopkins, hospital este que é citado no email como fonte do alarme contra as dioxinas.

Uma coisa que me chamou atenção foi que no email, quando é citada a fonte do alarme (uma entrevista de 2 minutos com um doutor de um hopital do Hawai), a palavra TELEVISÃO está em maiúsculas como aqui. Como se o fato de maior importância para a credibilidade da notícia fosse o fato de ela ter passado na TV. Está mais do que na hora das pessoas saberem que quase todos, senão todos os veículos de notícia, não possuem um assessor cientifico. Se não podemos nem acreditar na TV como podemos repassar uma notícia de email?

Uma dica, não acredite cegamente em nada. Nem da TV e muito menos da internet. É aí que encontramos um problema: este blog está também na internet! Bom, a única coisa que posso falar em minha defesa é: estou sempre aberto a críticas.

Mas que o microondas pode ser perigoso, ah isso pode:

Revista lista sete mitos da medicina que enganam até médicos

Do G1, em São Paulo

“Às vezes, até os médicos se enganam”, dizem os pesquisadores ingleses Rachel C. Vreeman e Aaron E. Carroll em artigo publicado neste fim de semana no “British Medical Journal”, na Inglaterra. Segundo o estudo, muitos dos médicos sabem que precisam atualizar seu conhecimento com freqüência, mas acabam não questionando algumas crenças populares relacionadas à saúde.

Os principais mitos são:

As pessoas devem beber pelo menos oito copos de água por dia
“Não existe nenhuma evidencia médica para sugerir essa quantidade específica”, diz o artigo. Segundo os pesquisadores, o mito pode ter surgido em 1945, depois que o Conselho de Nutrição da Inglaterra passou a recomendar oito copos de “fluidos” por dia. A diferença é que esses fluidos incluíam frutas, vegetais, café, leite e outros líquidos. O estudo lembra que o excesso de água pode ser perigoso.

Apenas 10% do cérebro é usado
Normalmente creditada de forma errônea a Albert Einstein, a crença provavelmente surgiu no início do século 20, quando as pessoas queriam incentivar a população a atingir todo seu potencial. Mas ela está longe da verdade segundo estudos recentes. Pesquisas que analisam imagens do cérebro e o metabolismo das células cerebrais apontam para a inexistência de áreas inativas no cérebro.

Cabelo e unhas continuam crescendo após a morte
Impossível. O que acontece, segundo os pesquisadores, é que a pele da pessoa morta se resseca e encolhe, o que faz com que unhas e cabelos fiquem mais proeminentes.

Raspar a cabeça faz o cabelo crescer mais rápido, mais escuro e menos liso
“Fortes evidências científicas negam esta crença”, diz o artigo do British Medical Journal. Um estudo realizado em 1928 de fato comparou o formato de cabelo raspado com o cabelo não-raspado para concluir que ele não cresce mais rápido, nem mais grosso. Os pesquisadores dizem que a aparência de ser mais escuro se dá porque o cabelo mais recente ainda não perdeu cor, o que acontece naturalmente com o tempo.

Ler com pouca luz estraga a visão
É verdade que ler com pouca luz cansa a visão, e pode diminuir temporariamente sua capacidade, mas nenhum estudo encontrou danos permanentes por causa disso.

Comer peru deixa as pessoas sonolentas
O estudo reconhece que muitas vezes as pessoas comem peru e se sentem dessa forma, mas dizem que isso se dá pelo fato de a ave ser normalmente consumida em grandes banquetes e festas, especialmente de fim de ano, acompanhado e álcool e outras substâncias que podem causar sono. O estudo admite que o peru tem triptofano, substância química envolvida no controle do sono, mas diz que a ave tem tanto dela quanto galinhas e mesmo carnes vermelhas.

Celulares podem causar interferência em hospitais
Nenhuma morte foi registrada até agora por causa de interferência de celulares em equipamentos hospitalares, mas de fato já foram reportadas interferências menores e menos sérias. A pesquisa aponta, entretanto, que o uso de celulares pelos médicos melhora o fluxo de comunicação e pode ajudar em seu trabalho de tratar os pacientes.

Tequila contra câncer. Um brinde ao sensacionalismo!


Não precisa ser nenhum biólogo ou médico oncologista para sentir um leve incômodo com o titulo da reportagem da folha online desta semana: Tequila diminui risco de câncer. Assim que li percebi que tinha algo estranho nisso. Fico imaginando o que levaria um pesquisador a jogar tequila nas plaquinhas de células ou a dar de beber a seus camundongos. Indo a fundo, percebi que a folha simplesmente repassou a informação de outra agência de notícias, a ANSA. Esta, por sua vez, cita um artigo de uma tal Associação Americana de Química, que com certa dificuldade fui descobrir que se trata da American Chemical Society.
Claro que ao ler o artigo original descubro que os pesquisadores usaram apenas o extrato da Agave, planta da qual se faz a tequila (e a relação do trabalho com a tequila termina aqui), para utilizar como carregador de medicamentos e fazer com que estes passem pela acidez do estômago.
Vários são os problemas que podemos encontrar nesta reportagem e que estão muito presentes nesse tipo de notícia online:
– bom, o título é uma pérola, reflete o erro da informação da reportagem em nome do sensacionalismo;
– nenhum link direto para a fonte foi disponibilizado, o que dificulta a confirmação e o aprofundamento na notícia;
– o nome da fonte original foi traduzido de uma maneira que não permite procurá-lo com facilidade em sistemas de busca como o Google, sendo o melhor deixar o nome original;
– a aparente falta de comprometimento das agências de notícia em confirmar as informações técnicas de suas notícias, sendo a solução um consultor técnico da área (com tantos biólogos desempregados por aí).
Assim como não precisa ser biólogo ou médico para perceber esses disparates, também não é preciso diploma para relatar erros ou confusões e exigir uma posição das agências de notícias. Neste caso a Folha e a ANSA já foram notificadas. Claro que um puxão de orelha a mais é sempre bom, portanto se sintam a vontade para enviar suas impressões e reclamações a ambas.