Cientistas derrubam a Lei da Gravidade! NOT!

Uau, ficaram sabendo que existem religiosos questionando a Lei da Gravidade e buscando o ensino do princípio da “Queda Inteligente” nas escolas dos EUA! Pois é!

Calma, eu não enlouqueci. Explico: quem pensa que o costume de encaminhar “notícias”, “revelações” e “polêmicas” sem nem ao menos se dar ao trabalho de verificar a veracidade do conteúdo é exclusivo de gente com pouco estudo, desfavorecida e blablabla, engana-se. O causo abaixo chegou ao Rafael e a mim por um amigo em comum, com a mensagem:

“Biólogos: mensagem que está circulando na lista de e-mails da graduação em CURSO X da USP. Nem li, mas se interessar… Abraço”

"Santo Google, mais uma piada levada a sério!"

O e-mail encaminhava uma mensagem indignada de um dos alunos. Uma descoberta que, sem dúvida, agitaria todos que ensinam Ciências. Leiam por si próprios:

http://www.theonion.com/articles/evangelical-scientists-refute-gravity-with-new-int,1778/

Cara, só pode ser piada…. Não basta a disputa entre o ensino do evolucionismo X criacionismo, agora alguns religiosos norte-americanos (sempre eles) questionam também a lei da gravidade!!! Palhaçada….

Traduzo um trechinho para os preguiçosos que não quiserem ler tudo em inglês, ou simplesmente traduzir tudo com algum tradutor:

“Vamos dar uma olhada nas evidências,” disse pesquisador sênior do ECFR (Centro Evangélico para o Raciocínio baseado na Fé), Gregory Lunsden. “Em Mateus, 15:14, Jesus disse, ‘se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.’ Ele não diz nada sobre a gravidade fazer eles caírem – apenas que eles cairão. Então, em Jó 5:7, nós lemos, ‘Mas o homem nasce para a tribulação, como as faíscas se levantam para voar.’ Se a gravidade puxa tudo para baixo, por que as faíscas voam para cima com grande certeza? Isso claramente indica que uma inteligência consciente governa tudo que cai.”

Dá para acreditar nesses caras???”

Minha pronta resposta para a tal mensagem foi “Não, gente, não dá.” Desse modo, logo parti em busca da notícia original para tirar essa história bizarra a limpo.

Óbvio, me deparei com mais um belo exemplo de como muita gente perde tempo – e talvez cérebro – simplesmente confiando em qualquer coisa disponível na internet. Existe um passo a passo básico para filtrar bobagens como essa e não pagar mico, como vocês lerão a seguir. Além disso, sugiro que aproveitem essas dicas em qualquer leitura, conversa ou aula daqui em diante. Pensamento crítico, crianças, só não é melhor que canja de galinha =)

Primeiro: encontrar a fonte original. Nesse caso específico só essa ação que não vai tomar mais do que 5 minutos do seu precioso tempo já resolve qualquer dúvida. O artigo encaminhado como “polêmico”, “absurdo” e “inimaginável” foi publicado pelo The Onion. Case closed, next!

“Ué, peraí, e daí? Nunca ouvi falar!”

Não tem problema, o titio explica: o The Onion é famoso por criar sátiras de notícias reais ou simplesmente inventar conteúdo absurdo sobre assuntos importantes. No caso, uma sátira que aplicação semelhante à maluquice do Desing Inteligente para explicar a Lei da Gravidade. E pensar que alguém levou essa notícia a sério, tsc tsc.

Segundo: descobrir a data de publicação e encontrar a mesma notícia veiculada em outros portais, jornais, blogs etc. O artigo em questão é de 2005 e todas as notícias semelhantes são meras reproduções da nota original do The Onion. Preciso falar mais? Como algo que teria tanto impacto e geraria tanta discussão só foi destacado por UM veículo de comunicação? E porque ficou ao léu por tantos anos?

Geralmente, a resposta para as duas perguntas é: você está diante de uma mentira/bobagem/piada. Simples assim.

Para quem ainda duvida, outro link de 2005 que encontrei sobre o tema é da Ciência List e pode ser acessado em http://br.groups.yahoo.com/group/ciencialist/message/49892. Lógico, menos de 1 dia depois da mensagem inicial a discussão entrou em uníssono: piada piada piada.

"Tantas informações, e agora?!" Sem drama, bom senso e paciência resolvem essas questões. Usem-nos!

Resumão: normalmente descobrir se a “grande notícia polêmica” que chegou a você é real ou não dificilmente tomará mais do que 10 minutos do seu tempo.

Se você acha que é muito tempo para perder com isso, a solução é simples: não a encaminhe. Assim você poupa o seu tempo e de todos que a receberiam.

Ah, e o meu. Especialmente o meu.

Wikipédia: misturando cientistas com médiuns

Emanuel_Swedenborg_full_portraitOlhe que caso interessante:

Navegando pela Wikipédia para saber o que havia acontecido em outros dias 29 de janeiro do passado para fazer mais um dos “O que rolou na ciência HOJE“, a nova série de posts do RNAm, me deparo com um nascimento que me chamou a atenção. Era Emanuel Swedenborg, descrito como cientista, filósofo, engenheiro e MÉDIUM. Sempre acho esta junção de cientista e médium interessante, porque soam conflitantes para mim. E claro que esse tipo de coisa só podia acontecer em 1688. Nessa época, mentes inquietas como a de Swedenborg encontravam vastas áreas do conhecimento ainda a serem desvendadas, assim ele deu pitaco em todas, de física a espiritualidade.

O cara era bom, desceveu a pulsação do cérebro, percebeu que a cognição estava no cortex, construiu máquinas para mineração e como Leonardo daVinci imaginou máquinas voadoras e submarinos.

Mas o engraçado é que tudo isso de interessante aparece só no final do artigo da Wiki. E na parte entitulada “cientista” aparece o seguinte trecho:

Cientista:

Por exemplo, em astronomia, ele descreveu os habitantes do planeta Vênus:

Eles são de dois tipos, uns gentis e benevolentes, e outros selvagens, cruéis e gigantes. Os últimos roubam, pilham e vivem disso; os primeiros tem um grau tão elevando de gentileza e caridade que são sempre amados pelos bons, e por causa disso sempre vêem o Senhor aparecer-lhes em sua forma real no seu planeta[3].

Os habitantes da Lua foram descritos assim:

Os habitantes da Lua são pequenos, como crianças de seis ou sete anos; ao mesmo tempo, eles têm a força de homens como nós. A sua voz vibra como o trovão, e o som sai da barriga, porque a Lua tem uma atmosfera bem diferente da dos outros planetas[3].

Mercúrio é habitado por humanoides muito parecidos com os terrestres:

Eu estava desejoso de descobrir que tipo de face os homens de Mercúrio tem, e se eles são iguais aos homens da Terra. Então eles (os espíritos de Mercúrio) me apresentaram uma mulher exatamente como as que vivem naquele planeta. Sua face era linda, mas menor que as mulheres da Terra, ela também era mais esbelta, mas de mesma altura (…)[4].

220px-Arcana_Caelestia_0001Habitantes do planeta Vênus?! Foi isso que ele realizou como cientista? Artigo zoado hein?

Mas a beleza da Wikipédia é que eu ou você podemos dar nosso pitaco e editar a coisa toda. Inclusive neste artigo há um aviso que diz o seguinte: “

Este artigo ou secção possui passagens que não respeitam o princípio da imparcialidade.
Tenha algum cuidado ao ler as informações contidas nele. Se puder, tente tornar o artigo mais imparcial.”

O artigo não é mesmo imparcial pois quem o escreveu só colocou referências espíritas e puxou a sardinha pra esse lado.

Outra coisa interessante é que o artigo da Wiki em inglês tá muito bom. Não que isso seja novidade, quase todos os artigos em inglês são melhores por n motivos, mas queria entender como funciona nos bastidores da Wiki esse lance de traduzir o artigo de outra língua em lugar de deixar passar um texto bem inferior e tendencioso.

 

Então vou fazer isso. Me cadastrei e vou tentar colocar as coisas em contexto e conto como foi a experiência de editar a Wiki pt. Já me alertaram para a fogueira das vaidades que arde por lá, mas mesmo assim acho que devo tentar por mim mesmo. Até mesmo para honrar a memória do cara que era um gênio da sua época, mesmo com sua maluquice que, aliás, sempre acompanha toda genialidade.

RNAm no Superpop: o vídeo e as impressões

superpop.jpg

Olha a Lú me defendendo do pastor aí!


Pra quem tinha mais o que fazer na segunda anoite, segue aqui o link pro programa sobre o fim do mundo em 2012, do qual participei.

Participei daquele jeitão. Fui com o espírito leve, querendo me divertir. Pois já imaginava que falar algo realmente pertinente seria difícil. E foi.

Uma hora a produção pedia polêmica, depois pediam “fala um só de cada vez”, e aí ganhava quem parava de gritar por último. E eu não fui pra me estressar.

De cara a Luciana Gimenez fez a ligação direta que eu queria evitar: você é cético? Então não acredita em Deus?

Não queria ligar o ceticismo diretamente ao ateísmo. Esta é uma correlação que não é necessária. Muitos céticos não são ateus, e vice-versa. Mas no meu caso sou as duas coisas e a Lu (fiquei íntimo) queria bater nessa tecla, provavelmente por ser agnóstica ou até mesmo atéia. O pensamento cético é algo que todos necessariamente devem praticar, mas religião cada um pode ter ou não ter a sua.

Não preciso nem dizer que a ciência não foi nem mesmo tocada, mas pelo menos tudo foi tão confuso que nem mesmo os fatalistas convidados puderam falar muito.

O mais interessante desta participação foi a discussão que gerou entre os divulgadores de ciência do Scienceblogs Brasil e meus colegas cientistas: vale a pena participar destes programas? E qual postura se deve tomar no palco?

Vale a pena participar?

Muita gente achou que eu não deveria ir, que pode queimar o filme participar de um programa tão povão. Oras, eu faço este blog para ter o maior alcance possível. Tento escrever de um jeito simples ao máximo, onde o limite é apenas a validade e o embasamento do que escrevo. Claro que eu prefiro escrever mais no estilo do colega Amigo de Montaigne, mas acho que este estilo minimamente rebuscado afasta muita gente que só quer se encantar pela informação fácil, ou o “povão”. Mas este é um problema de estilo e objetivo que é muito pessoal e não tem uma regra geral. Sem contar que eu me diverti a bessa, e isto deve ser levado em conta.

Postura do divulgador de ciência

Estando lá no palco, eu deveria ser irreverente, sarrista, sacana, amargo, azedo, sério, sisudo,…? Não poderia parecer arrogante, isto é o que queria evitar ao máximo. E na cabeça das pessoas os cientistas já tem esta cara de arrogante detentores (ou detentos) da verdade. Melhor fugir disto. Muita gente cobrou que fosse mais incisivo, tentasse ganhar a palavra mais um pouco e até ridicularizar os malucos em cena. Mas é difícil achar o ponto exato de ridicularizar sem cair na máscara arrogante que afasta o telespectador. TV é simpatia! Acho que num programa como este o ideal é ser levemente ácido, ou azedinho-doce (existe ainda este chiclete?): doce com a apresentadora e a produção SEMPRE, e ácido apenas com os convidados e as câmeras ligadas.


Cientista ou divulgador?

Durante o programa recebi vários twits pelo @Rafael_RNAm (<- siga!) e alguns me chamaram atenção com relação a eu ter me classificado como divulgador de ciência e não como cientista ou biólogo. Uns acharam chique, outros acharam ridículo.Independente de gosto, eu estava lá não como especialista da minha área, afinal um astrônomo, físico ou geólogo (ou um psiquiatra) poderiam estar ali como especialistas. Mas como o que se pôde arranjar foi EU, não quis me apresentar como biólogo. Não pra não queimar o filme, mas porque não cabia mesmo e acabaria até tirando a pouca autoridade que eu poderia ter.

Na questão de gosto, acho o título “divulgador de ciência” muito garboso e deveria ser mais utilizado, acabando assim com a autoridade excessiva e distanciadora do ES-PE-CIA-LIS-TA, e abrindo caminho a estas pessoas que, como eu e o Scienceblogs todo, estão mais treinados em falar sobre ciência com os não-cientistas. Coisa que poucos especialistas ou cientistas sabem fazer.

Só mais duas coisas:
1- Viu a camiseta do Scienceblogs Brasil que estou usando? Acabou de sair do forno, que acharam?
2- Quem acha que Luciana Gimenez é burra, pode esquecer. E eu gostei dela. Juro!
[para ‘burra’ procurar ‘Cida Marques’]

RNAm no Superpop. Será o fim do mundo?

luciana_guimenez_tvlazer2.jpg

“Fim do mundo em 2012!? Que loucura! Nem eu acredito nisso!”


O RNAm, na pessoa de @Rafael_rnam, estará hoje (31/5/10) no programa Superpop, com Luciana Gimenez AO VIVO(!!!) às 22hs.
Falando sobre um assunto que é super-atual e super-a-nossa-praia: o fim do mundo em 2012!
Fomos contactados pela produção graças ao post de caça ao paraquedista. Esta blogagem coletiva do ScienceBlogs Brasil tinha como objetivo atrair pessoas desavisadas pela busca no Google. Como esse tema 2012 está tão em voga, escrevemos um título bem chamativo: O fim do mundo não será em 2012. Será em 2019
Este é um dos posts dos quais eu mais me orgulho, mas não fala nada da profecia maia!
Isso só prova que estagiários de televisão não leem, e que blogagens de caça a paraquedistas funcionam. E neste caso não foi um paraquedista, mas sim um zepelim hinderburguiano!
Agora é só tomar muito calmante e discutir os “argumentos” dos fatalistas lá no palco.

Falta de noção sem limites: Vacinação

vacina cão.jpgTemos um novo recorde: é a terceira vez esta semana que escrevemos um post motivado pela vontade de morder o cotovelo. Primeiro foi Jesus chorando, depois a “verdade” sobre a astrologia, e agora é indisposição das pessoas em tomar a vacina da gripe H1N1.
Qual o problema em não tomar a tal vacina? Ora, nenhum tirando o fato de que no caso dela funcionar e você entrar em contato com o vírus, ele rapidamente será combatido, não transformará suas células em fábricas que produzirão milhares de milhões de outros vírus, e assim você não ficará doente e não será um maldito transmissor de vírus para outras pessoas.
Sei que por enquanto não é todo mundo que tem acesso à vacina, mas o que me deixa fulo da vida é que tem gente que tem acesso e NÃO QUER TOMAR!
Motivo? Nenhum. Pelo menos não quiseram dizer. Vai ver que o medo de injeção é maior que a vontade de salvar a vida de colegas da comunidade.
E quem são estes pobres diabos? Mendigos, ambulantes, coletores de latinhas? Não, são pós-graduandos da USP, que trabalham num laboratório de biologia molecular! Incrível como a falta de noção não conhece barreiras nem preconceitos, nem raça nem nível social e “intelectual” (uma grávida inclusa, que é grupo de risco). É a nossa elite “pensante” brasileira!
Queria saber porque desde sempre existe tanta desconfiança das vacinas. Até hoje tem gente, e até organizações, que afirmam que ao invés de fazer bem as vacinas fazem mal. Uma história velha de que uma vacina nos EUA causava autismo fica ecoando até hoje, sendo que foi provado que o estudo foi mal conduzido.
Tem maluco que fala que as vacinas não foram provadas cientificamente! Que Pasteur estava mentindo (mas aposto que esses malucos tomam leite pasteurizado) falando que germes e coisas do tipo não causam doenças, mas sim as variações de seus campos energéticos ou comer comida impura. O homem das cavernas, o mais puro de todos (com toda carga esteriotipada do “bom selvagem”), e que comia a comida mais pura de todas, vivia só até os 18 anos. E aí, como fica a pureza nessa história?
Acredite, isso é coisa de gente que não sabe o que diz.
Uma vacinação em escala mundial como a que vem sendo feita, se tivesse alguma reação ou efeito colateral, ele já teria aparecido e seria quase impossível acobertar.
Resumindo: os médicos recomendam que se tome a vacina caso tenha acesso a ela.
Agora, se você ainda assim está se lixando pra si mesmo e pra humanidade, tenha pelo menos a dignidade de sair da vida em sociedade. E o último apaga a luz do BBB10.
– Updêite via @rmtakata: Veja aqui o cronograma de vacinação dos grupos prioritários

Horóscopo: mitos, verdades e o limite da paciência

tolo.jpgEu me divirto muito, sabia? Não bastasse imagem chorona de Jesus (se bem que eu choraria também se não fosse meu senso deturpado de humor), olha o que me aparece na chamada da página principal do MSN Brasil:
“Inferno astral: Mitos e Verdade”
Diz lá que o governador Serra adiou sua candidatura à presidência por estar passando pelo seu inferno astral. E segue contando que a VERDADE sobre o inferno astral é que pelo ano gastamos nossa energia vital (ou chi, ou mojo, ou neurônios) e q no aniversário recarregamos a energia (comigo é diferente – eu fico mais animado com a proximidade do meu aniversário, e no dia seguinte a ele estou péssimo de ressaca, por mais energético que eu tome na festa)
Bom, quanto aos mitos e verdades eu vou encurtar a história pra você:
MITO: Credibilidade dos grandes veículos da mídia.
VERDADE: Horóscopo é balela!!!
Ok, vamos deixar uma coisa bem clara: Não acredito em horóscopo. Na verdade ele e toda baboseira astrológica me causam verdadeira irritação, #prontofalei.
E se você nem desconfia do porquê então você vai amar ou odiar este blog. Não vai ter meio termo.
As únicas explicações que vou dar para justificar tal nojo são o fato de ter uma postura cética da vida, e este vídeo: -Clique aqui pq não deu pra incorporar ao texto

Pena não ter legenda, mas o que ele mostra é um cara que escreve um texto sobre a personalidade da pessoa baseando-se no desenho da mão, na data de aniversário e em um item pessoal, tudo dentro de um envelope. Após análise, e sem ter como saber de quem é cada envelope, ele traz o texto e pergunta o quanto a pessoa se identifica com ele. As respostas variam de 100 a 80, 70% de semelhança. Um cara só diz ter se identificado com apenas 45% da descrição.
Quando o apresentador pede para as pessoas trocarem de texto com os colegas eles percebem que estão todos lendo o mesmo texto!
O lance é que o texto foi escrito de um jeitinho maroto, usando vários truques com os quais 90% das pessoas se identificam. E não vai pensando que era um texto do tipo “você já teve um namoro problemático, OU NÃO”, o texto é bem especifico em alguns detalhes. É só ver a cara do povo quando percebe que é o mesmo texto pra confirmar isto.
Fato é que a gente acha que está atento a tudo e no controle da situação, mas podemos ser enganados facilmente. O horóscopo faz isto todos os dias.
E o mais importante
Ah, só mais uma coisinha: tenho um conhecido que escrevia horóscopos num jornaleco aí sem nem saber o signo de quem nasce em dezembro e muito menos apontar o cruzeiro do sul no céu.
Tomara que este post não me acumule mais carma.

Cuidado com a prática ortomolecular e biomolecular

ORTOMOLecular.jpgO Conselho Federal de Medicina falou, tá falado. Algumas práticas ortomoleculares e biomoleculares não podem ser realizadas por não terem comprovações científicas. – Aliás, quem inventou esses nomes? Parece até essas coisas pseudocientíficas bioquânticas

Agora reposição de nutrientes que estejam faltando, como vitaminas, ou tirar outras substâncias nocivas, como metais pesados e pesticidas, só podem ser feitas nos parâmetros internacionais e se forem medidas e comprovadas a falta ou excesso de substância.

E para essa medição não vale o famoso teste do cabelo, que todo ortomolecular pede. Este só funciona em caso de intoxicação ou contaminação por metais tóxicos. Fora isso não funciona e está proibido de ser usado.

Alguns trechos interessantes da resolução (leia aqui na íntegra):

  • Art. 8º A remoção de minerais, quando em excesso, ou de minerais tóxicos, agrotóxicos, pesticidas ou aditivos alimentares se fará de acordo com os seguintes princípios:
  • I) O excesso de cada substância tóxica deverá ser considerado isoladamente;
  • II) Existência, na literatura médica, de fundamentação bioquímica e fisiológica sobre o efeito deletério do excesso da substância tóxica considerada, bem como de dados que comprovem a possibilidade de correção efetiva por meio da remoção proposta;
  • III) Além da melhoria dos parâmetros laboratoriais, deverá haver comprovação científica de utilidade clínica;
  • IV) O valor terapêutico da remoção de determinada substância tóxica deverá ser avaliado para cada tipo de distúrbio.
  • Art. 9º São destituídos de comprovação científica suficiente quanto ao benefício para o ser humano sadio ou doente, e por essa razão têm vedados o uso e divulgação no exercício da Medicina, os seguintes procedimentos da prática ortomolecular e biomolecular, diagnósticos ou terapêuticos, que empregam:
  • I) Para a prevenção primária e secundária, doses de vitaminas, proteínas, sais minerais e lipídios que não respeitem os limites de segurança (megadoses), de acordo com as normas nacionais e internacionais e os critérios adotados no art. 5º;
  • II) EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) para remoção de metais tóxicos fora do contexto das intoxicações agudas e crônicas;
  • III) O EDTA e a procaína como terapia antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para patologias crônicas degenerativas;
  • IV) Análise do tecido capilar fora do contexto do diagnóstico de contaminação e/ou intoxicação por metais tóxicos;
  • V) Antioxidantes para melhorar o prognóstico de pacientes com doenças agudas, observadas as situações expressas no art. 5º;
  • VI) Antioxidantes que interfiram no mecanismo de ação da quimioterapia e da radioterapia no tratamento de pacientes com câncer;
  • VII) Quaisquer terapias antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para doenças crônicas degenerativas, exceto nas situações de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados.

GiovannaAntonelli.jpg

Chiques, famosas e “ortomoleculadas”

Várias destas práticas, agora proibidas, vem sendo feitas e divulgadas a muito tempo. Como acontece com Giovanna Antonelli, uma das estrelas da Novela das Oito “Viver a Vida” (por ser uma entidade, “Novela das Oito” deve ser escrita em maiúsculas, por respeito a sua divindade) . É o que diz sua terapeuta numa reportagem de dietas dos Famosos (também com F maiúsculo por se tratar de divindade): “Giovanna Antonelli chegou ao consultório querendo emagrecer. Uma das providências foi prescrever doses extras de minerais que baixassem sua vontade louca de comer doce na fase pré-menstrual”. Hum… mas sem medir nada pra ver se tava faltando mesmo? 

samara_felippo.jpgO fato é que resolve mesmo. Pelo menos pra emagrecer. Afinal a Global (G maiúsculo) chega no consultório querendo perder 8kg pra ser a próxima capa da Playboy e a terapia molecular, com todo seu conhecimento, receita o que? Ouça nas palavras de Samara Fellipo: “Não precisei passar fome e sequei 8 quilos em dois meses, reduzindo carboidrato e cortando doce e fritura”. Isso não é terapia ortomolecular Samara, é COMER DIREITO, DIETA, e todo mundo sabe como funciona!

Quem tiver dados REAIS de reposição de nutrientes usadas nessas terapias, pode me mandar.

Não apela, Folha

Agora, esta notícia da Folha resumindo a resolução está muito ruim e errada.

Diz que a resolução confirma a ausência de comprovação científica da prática, o que não é verdade. Ela regulamenta, ou seja, algumas práticas estão autorizadas e outras não. E afirmar “Entre os prejuízos estão o aumento do risco de câncer”, é senssacionalismo, já que não é exatamente isto que a resolução fala, como você pôde ler acima.

E outra, a Folha definiu as práticas ortomoleculares e biomoleculares com o que estava escrito na resolução. Custava dar um “google” pra aprofundar pelo menos um palmo?

Congresso científico fantasma

congresso fantasma.jpg

Calma, não é um congresso científico SOBRE fantasmas, o que seria um paradoxo.
Mas um congresso-SPAM. Isso mesmo. E maldoso.

Imagine receber um email com uma programação de congresso na China com pesquisadores top da sua área. E ainda te convidam para dar uma palestra e por isso se oferecem a pagar, ou melhor, reembolsar, sua estadia e inscrição.
“Ora, nunca fui pra China. Seria uma ótima oportunidade!”
Não só você se interessa e se inscreve como reenvia a outros colegas, como é praxe. Manda seus dados, número do cartão de crédito e BINGO, não existe congresso.

Isso não é novidade no mundo corporativo. Calotes com congressos ou cursos fantasmas são muito comuns. Mas geralmente são temas mais abrangentes, com listas de email inespecíficas. Cursos de “venda mais”, ou “Quem Mexeu no Meu Queijo e A Arte da Guerra para pequenos empresários”.

O diferente aqui destes dois casos de congressos científicos fantasma é o nível de sofisticação. A programação contém nomes de pesquisadores importantes da área, e os emails foram para pesquisadores e interessados nas tais áreas.

O primeiro caso aconteceu em agosto de 2009, o suposto Congresso Internacional de Cardiologia na China. Aqui o caso foi de roubo ou mal uso de informação de uma empresa chinesa que estava realmente organizando um congresso. Mas as informações, programa e email de pesquisadores, vazaram e foram utilizadas para divulgar o “evento” antecipado. Alguns pesquisadores fizeram inscrição com cartão de crédito e compras não autorizadas foram feitas com eles.

O segundo irá acontecer em Dezembro de 2010 (ou não). É o “Conference on Human Welfare and the Global Economy”, organizado por uma entidade chamada Action World International Organization (AWIO). Este engodo foi descoberto pela revista The Scientist, que ligou para o local do evento indicado no email e descobriu que não há reserva para a data, e os palestrantes contatados não estão sabendo de nada!

É minha gente, por isso digo que é cada vez mais difícil ser cidadão hoje em dia. Agora pra cada convite de congresso que queira ir você tem que ligar para o local onde se realizará o evento e perguntar “Vai rolar mesmo?”. Ou ligar para o palestrante programado e perguntar “Você vai mesmo?”. Ou pior, você pode ser o próprio palestrante e ter que ficar recebendo emails de confirmação de presença. Haja saco.

Mas é o preço das facilidades da vida moderna.

Ciência ruim num estalar de dedos? IgNobel prá você!

2009IgNobel.gifMais um texto da nossa série sobre o IgNobel 2009, e, prá começar, temos aqui um exemplo de como o IgNobel não premia somente pesquisas “inusitadas” ou de resultados pouco práticos, como o Rafael comentou em nossa entrevista ao Programa E-farsas. Muitas vezes, o prêmio é dado a um trabalho realmente idiota.
Então, melhor estalar os dedos e começar duma vez!
Ganhador do Prêmio IgNobel de Medicina de 2009, o Dr. Donald L. Unger, um médico de Thousand Oaks (California, EUA), deve ser uma das pessoas mais controladas – ou mentirosas – que eu já ouvi falar.
Por que? Cansado de ouvir sua mãe, tias e outras pessoas sobre os “malefícios” de se estalar as juntas dos dedos, o pequeno Donald, num insight ou não cético teve a brilhante ou não ideia de conduzir um estudo de caso que comunicou ao periódico Arthritis & Rheumatism no ano de 1998.
Nessa comunicação (PDF em Inglês), publicada na seção “Letters” do periódico, afirmou não haver conexão entre o ato de se estalar os dedos e o desenvolvimento de artrite, de acordo com dados coletados durante o espantoso período de 50 anos!
Estalos ocasionais ou espontâneos, como costuma acontecer nos pés e tornozelos depois de levantarmos da cama, são inócuos. Mas se forem repetidos com freqüência, aumentam a produção do líquido interno das juntas, o que pode causar engrossamento, dor e perda de flexibilidade, como afirmou o Dr. Isidio Calich (Faculdade de Medicina da USP) à Super Interessante.
knuckle_cracking.jpgExistem dois tipos de estalo, e, conforme o tipo, podem acontecer danos aos tendões e à cartilagem que recobre a extremidade dos ossos. O primeiro tipo acontece quando esticamos a junta (puxando um dedo, por exemplo, como na imagem da esquerda), o que gera uma espécie de vácuo que faz o líquido no interior das juntas se movimentar com violência (por isso o ruído). O outro tipo é quando dobramos a articulação, no qual o estalo é decorrente do atrito entre as cartilagens dos ossos (como quando apertamos os dedos contra a palma da mão, como na imagem abaixo).
crucking_knuckle.jpg
Agora, se me perguntarem, tenho certeza que o IgNobel veio por causa do desenho experimental do inspirado aspirante a cientista: ele passou 50 anos da vida dele estalando os dedos da mão esquerda duas vezes ao dia. E não fez o mesmo com a mão direita. Bom, “a não ser em casos de distração, ou quando aconteceram estalos espontâneos”… então tá.
De acordo com seus “dados”, no período de “estudos” ele contabilizou ter estalado os dedos da mão esquerda por aproximadamente 36500 vezes (!!!), e não observou nada que indicasse o desenvolvimento de artrite na mão esquerda, além de não observar nenhuma diferença significativa entre os dedos das mãos esquerda (estalada constantemente) e direita (só de vez em quando).
Portanto, segundo nosso querido Dr. Donald (farei um esforço hercúleo para não chamá-lo de pato nenhuma vez, prometo… bom… desconsiderem essa, por favor), os dados que observou corroboraram (adoro essa palavra) os dados de um estudo publicado 25 anos antes por Swezey RL. e Swezey SE., entitulado “The consequences of habitual knuckle cracking.” (West J Med 1973;122:377-9).
Para mim, a cereja do bolo está no final da comunicação, quando o autor sugere que outros “mitos” que ouvimos quando crianças sejam verificados, e dá como exemplo “espinafre te deixa mais forte”, e relata:
macaco-chongas.jpg“This study was done entirely ut the author’s expense, with no grants from any governmental or pharmaceutical source.”

Tradução: “Este estudo foi totalmente custeado pelo autor, sem qualquer tipo de financiamento governamental, ou farmacêutico.”
Só me faltava essa mesmo… por isso, além do IgNobel, ele ganha do RNAm um macaquinho do Chongas, que reflete tudo o que senti ao escrever esse texto.
Quer saber mais sobre esse assunto? Sugiro essa matéria da HowStuffWorks (em Português) e uma página de “perguntas e respostas” do Centro de Artrite do Johns Hopkins (em Inglês).

RNAm no programa E-Farsas

e-farsas.jpgSabadão estaremos no famoso programa E-Farsas!
Muito antes do Fantástico ter aquele quadro Detetive virtual, o Gilmar já sentava o sarrafo na falta de noção digital.
Ele vai ao ar na JustTV sábado dia 28/12 às 18h30. Neste dia seremos “nozes” do RNAm que iremos apresentar nossas farsas.
Caso você perca, o programa cai no YouTube e logo será postado aqui.
Bjomeassista