Apesar de ainda estarmos aguardando dados mais confiáveis referentes aos casos e óbitos causados pelo vírus H1N1 (na imagem ao lado) no Brasil (e no resto do mundo), existe uma sensação geral de que a pandemia não é tão grave, em termos de risco de morte, como alguns especialistas haviam previsto.
Fiquei a par de alguns dados recentes, provenientes de um informe interno que circula no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP: entre Abril e Agosto de 2009, foram relatados 162.380 casos confirmados laboratorialmente de influenza A (H1N1) e 1154 óbitos, em todo o mundo.
Também se comenta no documento que esses números estão subestimados, visto que são referentes a diagnósticos laboratoriais do vírus H1N1, enquanto muitos países adotaram a estratégia do diagnóstico clínico, de modo que os testes laboratoriais foram priorizados para pacientes com formas graves da doença ou grupos de alto risco, como gestantes, por exemplo.
Também já se sabe que o novo vírus influenza A (H1N1) é o vírus influenza dominante em circulação nos Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Chile, Argentina e Brasil.
O grande medo, ao menos no Hemisfério Norte, é que se repita o caso observado na Gripe Espanhola, em que houve 2 surtos principais, com resultados bastante diferentes.
O primeiro ocorreu durante a Primavera (nosso Outono), e foi bastante ameno. Já o segundo surto, todos conhecemos, pois foi o que teve um número realmente impressionante de óbitos, superando a casa da dezena de milhão (os números até hoje não são certos, e variam entre 20 e 50 milhões de mortos… uma quantidade enorme, mesmo se considerando o valor mais baixo).
Alguns especialistas alertam exatamente para este fato: podemos estar no meio do que seria um “surto primário”, mais ameno, e que poderia ser desencadeado um “surto secundário” nos próximos meses, causando as milhares (milhões?) de mortes já consideradas em vários comunicados.
No entanto, David M. Morens e Jeffery K. Taubenberger, membros do National Institutes of Health, nos EUA, questionam a idéia de que os casos de pandemias severas sejam necessariamente precedidos por uma temporada em que a doença haja de maneira mais branda (como ocorreu com a Gripe Espanhola). Eles analisaram 15 casos de pandemia ocorridos nos últimos 500 anos, e afirmam que esse tipo de padrão não é algo constante.
Apesar de os surtos brandos ocorridos em 1917 e no começo de 1918, os pesquisadores dizem que não há evidências convincentes de que esses surtos de Primavera no Hemisfério Norte foram causados pelo mesmo vírus responsável pelos estragos feitos meses depois, durante o Outono. Eles também não encontraram evidências que apoiassem o conceito de que o vírus de 1918 tenha ficado mais mortal de forma progressiva, à medida que a pandemia avançava.
Em um comunicado nesta 4a-feira ao Journal of the American Medical Association (JAMA), comentaram:
“Considerando os longos e confusos registros de pandemias de gripe, é difícil predizer o curso futuro da presente pandemia ocasionada pelo vírus H1N1”.
Os surtos de gripe certamente seguem um padrão sazonal, e os pesquisadores concordam que, nesse momento, o Verão do Hemisfério Norte possam estar retardando o avanço do vírus. Mas eles dizem que, mesmo que esse avanço evolua novamente no Outono ou Inverno, não há motivos para se assumir maior probabilidade de o vírus se tornar mais contagioso e/ou mortal.
O fato de o vírus ter começado a se espalhar pelo Hemisfério justamente durante as estações mais quentes faz com que os pesquisadores acreditem que há grandes possibilidade dessa pandemia não ser tão mortal quanto suas “primas” do passado.
Para maiores informações sobre a Gripe Suína, e excelentes levantamentos históricos dos episódios anteriores de grandes surtos, recomendo fortemente a leitura dos seguintes posts, ótimas fontes de informação:
Rainha Vermelha: “O que você precisa saber sobre a gripe suína” e “Gripe suína – Lições do passado”
100Nexos: “Gripe suína: Vamos todos morrer (Lições de 1976)”
Não esqueçam também de acessar o Portal do Ministério da Saúde, com atualizações constantes sobre o panorama dessa pandemia no Brasil.
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