Falta de noção sem limites: Vacinação

vacina cão.jpgTemos um novo recorde: é a terceira vez esta semana que escrevemos um post motivado pela vontade de morder o cotovelo. Primeiro foi Jesus chorando, depois a “verdade” sobre a astrologia, e agora é indisposição das pessoas em tomar a vacina da gripe H1N1.
Qual o problema em não tomar a tal vacina? Ora, nenhum tirando o fato de que no caso dela funcionar e você entrar em contato com o vírus, ele rapidamente será combatido, não transformará suas células em fábricas que produzirão milhares de milhões de outros vírus, e assim você não ficará doente e não será um maldito transmissor de vírus para outras pessoas.
Sei que por enquanto não é todo mundo que tem acesso à vacina, mas o que me deixa fulo da vida é que tem gente que tem acesso e NÃO QUER TOMAR!
Motivo? Nenhum. Pelo menos não quiseram dizer. Vai ver que o medo de injeção é maior que a vontade de salvar a vida de colegas da comunidade.
E quem são estes pobres diabos? Mendigos, ambulantes, coletores de latinhas? Não, são pós-graduandos da USP, que trabalham num laboratório de biologia molecular! Incrível como a falta de noção não conhece barreiras nem preconceitos, nem raça nem nível social e “intelectual” (uma grávida inclusa, que é grupo de risco). É a nossa elite “pensante” brasileira!
Queria saber porque desde sempre existe tanta desconfiança das vacinas. Até hoje tem gente, e até organizações, que afirmam que ao invés de fazer bem as vacinas fazem mal. Uma história velha de que uma vacina nos EUA causava autismo fica ecoando até hoje, sendo que foi provado que o estudo foi mal conduzido.
Tem maluco que fala que as vacinas não foram provadas cientificamente! Que Pasteur estava mentindo (mas aposto que esses malucos tomam leite pasteurizado) falando que germes e coisas do tipo não causam doenças, mas sim as variações de seus campos energéticos ou comer comida impura. O homem das cavernas, o mais puro de todos (com toda carga esteriotipada do “bom selvagem”), e que comia a comida mais pura de todas, vivia só até os 18 anos. E aí, como fica a pureza nessa história?
Acredite, isso é coisa de gente que não sabe o que diz.
Uma vacinação em escala mundial como a que vem sendo feita, se tivesse alguma reação ou efeito colateral, ele já teria aparecido e seria quase impossível acobertar.
Resumindo: os médicos recomendam que se tome a vacina caso tenha acesso a ela.
Agora, se você ainda assim está se lixando pra si mesmo e pra humanidade, tenha pelo menos a dignidade de sair da vida em sociedade. E o último apaga a luz do BBB10.
– Updêite via @rmtakata: Veja aqui o cronograma de vacinação dos grupos prioritários

Os 10 assuntos científicos mais comentados de 2009

Recordar é viver (desde que não se fique apenas por essa relembrança). Então antes de prever o ano de 2010, relembremos o quase-findo 2009.

Aqui eu vou colar. Copiar e colar, na verdade. Saiu aqui na Scientific American os top 10 assuntos científicos do ano. Do LHC até a “estrela da morte”, vamos a eles:

top 10.png

  • Grande Colisor de Hádrons – Engasopou ano passado, mas esse ano foi! O colisor de partículas finalmente está em uso, e já bateu todos os recordes da sua categoria “colisor peso pesado”. E ele próprio já é uma previsão para 2010, afinal resultados vão começar a sair logo mais.
  • Influenza A H1N1 – “Craro Cróvis”, como esquecê-la. Nos fez prestar atenção na gripe comum, no nosso sistema de saúde nacional e mundial. Mostrou a fragilidade da informação rápida para o cidadão, onde o único meio de comunicação com informação, explicativa, ajustada e de confiança foi o blog colega Rainha Vermelha, mostrando a força e importância dos blogs de ciência nacionais. Este é outro assunto previsto para bombar em 2010, com a segunda leva do vírus que ninguém sabe como virá. Até o Obama já se vacinou.
  • Ardipithecus ramidus – chocante fóssil estudado por mais de 15 anos antes de ser publicado em edição especial da revista Science (imagino a politicagem ferrenha que deve ser pras revistas “comprarem” este tipo de trabalho que dá muito ibope). Simplesmente este fóssil tem colocado em cheque o que define um hominídeo (ou mesmo o que nos define). Belo presente de aniversário para os 200 anos de Darwin e 150 do seu livro
  • Cop15 esperança e fiasco – tanta preparação pra nada. Ou pelo menos para perceber a fragilidade do nosso sistema político frente a tomadas de decisão rápidas e embasadas em informação científica. Escrevi mais aqui.
  • Vacina contra a AIDS – um mega estudo na Tailândia vacinou 16 mil pessoas. Conclusão: não funciona muito bem. Mas abriu várias janelas de oportunidades para estudar a reação do vírus à vacinação.
  • Hubble tunado – Esse é um que não morre. 19 anos com corpinho de 12 e meio, e agora com novos aparatos, vai continuar em atividade por mais 5 a 10 anos. Isso que foi projetado pra durar só 5! “Conta o segredinho pra essa vida longa e tão lúcida.”
  • Epigenética de pai pra filho – no ano de Darwin descobrem que Lamark estava certo?! Então características adquiridas pelos pais podem passar para os filhos e netos! Pois é, mas sem alterar o DNA, só as travas que comandam a sua leitura. E sim, isso sim muda muita coisa!
  • Água na Lua – 40 anos após a Apolo 11 a Lua revela um novo segredo: água. Danadinha essa Lua, surpreendendo a gente mesmo com um seco Mar da Tranquilidade
  • O laser “Estrela da Morte” – sim é um monte de raios laser que se juntam num ponto só. Se você colocar hidrogênio lá, ele sofre fusão! E fusão é basicamente o q acontece no coração de uma estrela! Servirá para estudos astrofísicos, nucleares e energéticos.
  • Solução pra crise: grana pra ciência – O país está em recessão? O governo tem que soltar uma grana. Obama liberou quase 800 bilhões para salvar a economia, dos quais 21,5bi foram para pesquisa. Áreas de interesse como meios de transporte e energia foram favorecidas e podem fazer a diferença no futuro. O Brasil cortou investimentos nessa área e dizem que nem teve crise por aqui.
  • E vocês, o que acharam da lista? Alguma sugestão de alteração?

RNAm Expresso vol. 5 – Leituras interessantes!

090821085252_axolote226.jpgCientistas estudam anfíbio ‘monstro’ para tratar regeneração de membros: a gracinha que pode ser vista na foto ao lado, chamada Axolote, é capaz de regenerar até pedaços do CÉREBRO! Isso explica ter tanto dinheiro indo prás pesquisas com esse anfíbio, só o Departamento de Defesa dos EUA já doou 6 milhões de dólares para esses estudos. BBC Brasil
Sintomas mostram a hora de ir ao médico; veja lista criada por especialistas: lista elaborada pela Clínica Mayo (EUA) com dez sinais que indicam necessidade de cuidados médicos, comentada por especialistas contatados pela Folha Online.
Butantan começa a fazer vacina antigripe em outubro; conheça a fábrica por dentro: vejam esse ótimo infográfico mostrando como é a fábrica que produzirá as vacinas contra a Gripe Suína (H1N1; Gripe A) no Instituto Butantan. G1 Ciência e Saúde
Cientistas transplantam genoma em novo ‘passo’ rumo à criação de vida sintética: a equipe de cientistas comandada por Craig Venter (alguém aí lembra da Celera Genomics quando estavam sequenciando o genoma humano?) diz estar mais próxima de criar uma célula sintética! Eles anunciaram a criação de um novo tipo de bactéria a partir de um genoma modificado. UOL Ciência e Saúde
E não se esqueçam, para receber nosso conteúdo e outras coisas interessantes em primeira mão, siga-nos no Twitter em @Gabriel_RNAm e @Rafael_RNAm e clique aqui para ser nosso assinante de Feed/RSS!
Por hoje é só pessoal, bom sábado a todos!
Imagem: Jesús Chimal, pesquisador da Universidad Nacional Autónoma de México, um dos autores dos estudos envolvendo o Axolote

Sobre a “segunda onda” da Gripe Suína (Gripe A; vírus H1N1)

H1N1.jpg
Apesar de ainda estarmos aguardando dados mais confiáveis referentes aos casos e óbitos causados pelo vírus H1N1 (na imagem ao lado) no Brasil (e no resto do mundo), existe uma sensação geral de que a pandemia não é tão grave, em termos de risco de morte, como alguns especialistas haviam previsto.
Fiquei a par de alguns dados recentes, provenientes de um informe interno que circula no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP: entre Abril e Agosto de 2009, foram relatados 162.380 casos confirmados laboratorialmente de influenza A (H1N1) e 1154 óbitos, em todo o mundo.
Também se comenta no documento que esses números estão subestimados, visto que são referentes a diagnósticos laboratoriais do vírus H1N1, enquanto muitos países adotaram a estratégia do diagnóstico clínico, de modo que os testes laboratoriais foram priorizados para pacientes com formas graves da doença ou grupos de alto risco, como gestantes, por exemplo.
Também já se sabe que o novo vírus influenza A (H1N1) é o vírus influenza dominante em circulação nos Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Chile, Argentina e Brasil.
O grande medo, ao menos no Hemisfério Norte, é que se repita o caso observado na Gripe Espanhola, em que houve 2 surtos principais, com resultados bastante diferentes.
O primeiro ocorreu durante a Primavera (nosso Outono), e foi bastante ameno. Já o segundo surto, todos conhecemos, pois foi o que teve um número realmente impressionante de óbitos, superando a casa da dezena de milhão (os números até hoje não são certos, e variam entre 20 e 50 milhões de mortos… uma quantidade enorme, mesmo se considerando o valor mais baixo).
spanishflu1918ward.jpg

Vítimas da Gripe Espanhola, em 1918


Alguns especialistas alertam exatamente para este fato: podemos estar no meio do que seria um “surto primário”, mais ameno, e que poderia ser desencadeado um “surto secundário” nos próximos meses, causando as milhares (milhões?) de mortes já consideradas em vários comunicados.
No entanto, David M. Morens e Jeffery K. Taubenberger, membros do National Institutes of Health, nos EUA, questionam a idéia de que os casos de pandemias severas sejam necessariamente precedidos por uma temporada em que a doença haja de maneira mais branda (como ocorreu com a Gripe Espanhola). Eles analisaram 15 casos de pandemia ocorridos nos últimos 500 anos, e afirmam que esse tipo de padrão não é algo constante.
Apesar de os surtos brandos ocorridos em 1917 e no começo de 1918, os pesquisadores dizem que não há evidências convincentes de que esses surtos de Primavera no Hemisfério Norte foram causados pelo mesmo vírus responsável pelos estragos feitos meses depois, durante o Outono. Eles também não encontraram evidências que apoiassem o conceito de que o vírus de 1918 tenha ficado mais mortal de forma progressiva, à medida que a pandemia avançava.
Em um comunicado nesta 4a-feira ao Journal of the American Medical Association (JAMA), comentaram:
“Considerando os longos e confusos registros de pandemias de gripe, é difícil predizer o curso futuro da presente pandemia ocasionada pelo vírus H1N1”.
Os surtos de gripe certamente seguem um padrão sazonal, e os pesquisadores concordam que, nesse momento, o Verão do Hemisfério Norte possam estar retardando o avanço do vírus. Mas eles dizem que, mesmo que esse avanço evolua novamente no Outono ou Inverno, não há motivos para se assumir maior probabilidade de o vírus se tornar mais contagioso e/ou mortal.
O fato de o vírus ter começado a se espalhar pelo Hemisfério justamente durante as estações mais quentes faz com que os pesquisadores acreditem que há grandes possibilidade dessa pandemia não ser tão mortal quanto suas “primas” do passado.
Para maiores informações sobre a Gripe Suína, e excelentes levantamentos históricos dos episódios anteriores de grandes surtos, recomendo fortemente a leitura dos seguintes posts, ótimas fontes de informação:
Rainha Vermelha: “O que você precisa saber sobre a gripe suína” e “Gripe suína – Lições do passado”
100Nexos: “Gripe suína: Vamos todos morrer (Lições de 1976)”
Não esqueçam também de acessar o Portal do Ministério da Saúde, com atualizações constantes sobre o panorama dessa pandemia no Brasil.
Gostou desse texto? Siga-me no twitter @Gabriel_RNAm e seja nosso assinante de Feed/RSS clicando aqui para receber nosso conteúdo em primeira mão!!!

Gripe Suína (gripe A; vírus H1N1) atinge até a alma!

padre gripe suina.jpeg

Notícia no jornal Estado de S. Paulo:
Religiões adaptam tradiçoes à gripe suína

Esta gripe A não é mole não. Mais poderosa na mente e no social que efetivamente no corpo das pessoas, ela atingiu orgãos sociais diversos. A via usada para a infecção foi a mídia, sempre aberta e com poucas defesas para este tipo de ataque. Por irrigar todo o corpo social, logo o vírus pôde se alastrar por todo o mundo, atingindo outros orgãos.
Orgãos públicos por exemplo. Ministérios da saúde se mobilizaram em dizer que estavam preparados; polícias e vigilância sanitária de olho nas fronteiras; hospitais e cientístas atentos.

Vírus da alma

Até a alma deste corpo social se debilitou, ou pelo menos se compadeceu, pelo ataque viral.
As igrejas estão tendo que adaptar suas tradições para minimizar o alastramento da doença.
É a primeira vez que a OMS e organizações religiosas conversam.
E não é pra menos. Imaginem a peregrinação para Meca, tradição obrigatória dos muçulmanos e que reúne 3 milhões de pessoas de todo o mundo! Por isso representantes do islã já recomendam que, se com medo da gripe, melhor evitar a visita ao cubo negro em Meca e Medina. Missas católicas todos os domingos com um padre argentino colocando a hóstia na sua boca?! Melhor não. A argentina está com o um número imenso de infectados. Por isso sua igreja Católica recomendou cautela: sem hóstia na boca e sem abraço da paz. E na Inglaterra a igreja Anglicana até água benta cortou. “Mas e as bênçãos?” Ora, Deus entende. (daí a pergunta que fica é “pra quê a água benta antes, então?”mas deixa pra lá)
Tem ateu até achando alguma vantagem na gripe pra mostrar que as próprias igrejas perecebem que não dão mais o conforto necessário a seus seguidores. Afinal, durante a peste negra, na Idade Média, e a gripe espanhola as igrejas foram as únicas instituições que não fecharam, mas hoje “elas se renderam.”
Mas acho que o caso não é pra tanto. Pelo menos mostra que as tradições podem ser adaptadas aos maus do corpo terreno. Está reconhecida a importância da dignidade neste mundo de carne e osso. O que ainda não invalida acreditar em que quer que seja no além.
E dizem até que crer pode ser um santo remédio, aumentando longevidade e resistência a infecções (procurarei mais artigos sérios sobre isto).
Assim ficamos num político 1 X 1. Ponto para os ateus e ponto para os religiosos.
(E eu escolhi neste post o “caminho do meio”, mesmo não sendo budista)