A NATURE liberou geral! Como ler artigos científicos sem pagar por eles

Denunciando a idade com a Porta da Esperança.
Denunciando a idade com a Porta da Esperança.

Vamos abrir as portas da esperança!!!

A Nature liberou para ler online todo o seu acervo! Não dá pra baixar, como eu disse é só para ler online, mas já é alguma coisa.

Ah, também não é qualquer um, você tem que receber um link de algum assinante para poder ver.

É, na verdade não ajudou muito né?

Mas e daí?

É que pirataria na ciência acontece e muito. Não estou falando de plágio de dados ou coisas assim (que também acontecem), mas de artigos científicos distribuídos sem autorização das editoras. Sabe baixar música de torrent? [Torrent? eu? Magina…] Sei sei… Então, é a mesma coisa, só que com informação científica.

As revistas mais importantes, que os cientistas mais usam para se informar e se manter atualizados, são pagas. E são muito caras. E rola uma polêmica, porque funciona assim: o cientista produz o artigo, escreve, manda pra revista, ela escolhe se publica ou não, e se publicar ela cobra de todo mundo que quiser ler. Lembrando que o cientista que escreveu não recebe NADA por isso. Sacanagem, né? Ficou claro que publicar revistas científicas é um ótimo negócio, e que só institutos grandes conseguem pagar isso tudo.

Por causa disso, um cientista pobre, ou um jornalista, ou um professor, ou um ex-cientista blogueiro que escreve sobre ciência ( o/ ), fica sem poder se atualizar. E é impossível fazer ciência sem ler os artigos. Daí o moleque cruza o braço e chora? Claro que não. Ele Pirateia.

Como conseguir um artigo sem pagar por ele:

Mandar email para o autor:

Esse era o mais comum e antigo. Houve época em que se mandava pedaços de celulose com traços de tinta (carta) para o autor e este enviava uma fotocópia do artigo. Bacana disso é que estreitava laços e o autor sabia quem estava interessado na sua pesquisa. Com o email foi a mesma coisa, apesar de o autor em geral não poder fazer isso sem autorização da editora.

Pedir ajuda para os universitários:

[segunda referência a Silvio Santos, aff] – Universidades e outros institutos grandes fazem assinaturas para que todos os seus funcionários possam ler os artigos que quiserem. Se eu não trabalho lá, mas conheço alguém que trabalha… Bom, entendeu né? É só pedir. E ninguém na lista interna de emails do Scienceblogs tinha pensado nisso! Olha que exemplo de retidão. O novo sistema da Nature parece que vai ser só uma evolução desse tipo de envio, agora com uma autorização da editora.

Esquema russo

Quando imaginávamos que o comunismo não mais nos ajudaria… ele não ajudou mesmo, afinal a Russia não é mais socialista. Mas lá está hospedado um site que tira, sabe Darwin de onde, os artigos abertos para você. É só colocar o site com o artigo que ele se abre todo. Às vezes funciona, às vezes não, mas é o preço da clandestinidade, de quem tem que ficar fugindo a todo momento das editoras com advogados farejadores. O endereço é sci-hubPONTOorg, e você NÃO viu isso aqui!

Réxitégui

Sim, o twitter serve para alguma coisa! É só pedir o seu artigo com a rashtag #icanhazpdf.

Google, sempre ele:

Google Acadêmico indexa pdf de qualquer fonte (site pessoal, rede social científica, etc) e coloca tudo em um mesmo link ( http://scholar.google.com.br/ )

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Dica do Massa Crítica

Nature makes all articles free to view

Sobre a “segunda onda” da Gripe Suína (Gripe A; vírus H1N1)

H1N1.jpg
Apesar de ainda estarmos aguardando dados mais confiáveis referentes aos casos e óbitos causados pelo vírus H1N1 (na imagem ao lado) no Brasil (e no resto do mundo), existe uma sensação geral de que a pandemia não é tão grave, em termos de risco de morte, como alguns especialistas haviam previsto.
Fiquei a par de alguns dados recentes, provenientes de um informe interno que circula no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP: entre Abril e Agosto de 2009, foram relatados 162.380 casos confirmados laboratorialmente de influenza A (H1N1) e 1154 óbitos, em todo o mundo.
Também se comenta no documento que esses números estão subestimados, visto que são referentes a diagnósticos laboratoriais do vírus H1N1, enquanto muitos países adotaram a estratégia do diagnóstico clínico, de modo que os testes laboratoriais foram priorizados para pacientes com formas graves da doença ou grupos de alto risco, como gestantes, por exemplo.
Também já se sabe que o novo vírus influenza A (H1N1) é o vírus influenza dominante em circulação nos Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Chile, Argentina e Brasil.
O grande medo, ao menos no Hemisfério Norte, é que se repita o caso observado na Gripe Espanhola, em que houve 2 surtos principais, com resultados bastante diferentes.
O primeiro ocorreu durante a Primavera (nosso Outono), e foi bastante ameno. Já o segundo surto, todos conhecemos, pois foi o que teve um número realmente impressionante de óbitos, superando a casa da dezena de milhão (os números até hoje não são certos, e variam entre 20 e 50 milhões de mortos… uma quantidade enorme, mesmo se considerando o valor mais baixo).
spanishflu1918ward.jpg

Vítimas da Gripe Espanhola, em 1918


Alguns especialistas alertam exatamente para este fato: podemos estar no meio do que seria um “surto primário”, mais ameno, e que poderia ser desencadeado um “surto secundário” nos próximos meses, causando as milhares (milhões?) de mortes já consideradas em vários comunicados.
No entanto, David M. Morens e Jeffery K. Taubenberger, membros do National Institutes of Health, nos EUA, questionam a idéia de que os casos de pandemias severas sejam necessariamente precedidos por uma temporada em que a doença haja de maneira mais branda (como ocorreu com a Gripe Espanhola). Eles analisaram 15 casos de pandemia ocorridos nos últimos 500 anos, e afirmam que esse tipo de padrão não é algo constante.
Apesar de os surtos brandos ocorridos em 1917 e no começo de 1918, os pesquisadores dizem que não há evidências convincentes de que esses surtos de Primavera no Hemisfério Norte foram causados pelo mesmo vírus responsável pelos estragos feitos meses depois, durante o Outono. Eles também não encontraram evidências que apoiassem o conceito de que o vírus de 1918 tenha ficado mais mortal de forma progressiva, à medida que a pandemia avançava.
Em um comunicado nesta 4a-feira ao Journal of the American Medical Association (JAMA), comentaram:
“Considerando os longos e confusos registros de pandemias de gripe, é difícil predizer o curso futuro da presente pandemia ocasionada pelo vírus H1N1”.
Os surtos de gripe certamente seguem um padrão sazonal, e os pesquisadores concordam que, nesse momento, o Verão do Hemisfério Norte possam estar retardando o avanço do vírus. Mas eles dizem que, mesmo que esse avanço evolua novamente no Outono ou Inverno, não há motivos para se assumir maior probabilidade de o vírus se tornar mais contagioso e/ou mortal.
O fato de o vírus ter começado a se espalhar pelo Hemisfério justamente durante as estações mais quentes faz com que os pesquisadores acreditem que há grandes possibilidade dessa pandemia não ser tão mortal quanto suas “primas” do passado.
Para maiores informações sobre a Gripe Suína, e excelentes levantamentos históricos dos episódios anteriores de grandes surtos, recomendo fortemente a leitura dos seguintes posts, ótimas fontes de informação:
Rainha Vermelha: “O que você precisa saber sobre a gripe suína” e “Gripe suína – Lições do passado”
100Nexos: “Gripe suína: Vamos todos morrer (Lições de 1976)”
Não esqueçam também de acessar o Portal do Ministério da Saúde, com atualizações constantes sobre o panorama dessa pandemia no Brasil.
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Gripe suína: informação, globalização e prejuízos

gripe suina economica.jpg
Na década de 70, o governo militar no Brasil escondeu da população um surto de meningite que estava acontecendo. Tudo para evitar o pânico. Decisão acertada? Claro que agora que estamos na era da informação, isto soa absurdo. A população tem o direito de saber o que está acontecendo sob seus narizes. Saber sobre a epidemia pode ser importante para evitar viagens para locais de risco, saber se podemos comer a carne do animal afetado, etc. Diminuindo assim os riscos.

Mas até que ponto a população sabe o que fazer com a informação? Informar dados não resulta diretamente em boas práticas por parte de quem não tem conhecimento mínimo em determinados assuntos. Digo educação científica básica, não necessariamente conhecimentos em epidemiologia ou infectologia.

Afinal começam as brincadeiras. Qualquer um gripado e se ouve “é a gripe suína”, mas brincadeiras a parte, a epidemia já mostra reflexos em áreas que nem imaginamos. As ações de companhias aéreas e redes hoteleiras já despencaram, enquanto ações de farmacêuticas produtoras de remédios antivirais dispararam.

Por causa destas reações em cadeia, muitas vezes imprevisíveis, que se deve tomar muito cuidado ao informar a população, incluindo aqui lavadeiras, marceneiros, políticos e empresários, que raras exceções, não têm conhecimento científico nenhum, e podem interpretar muito mal a real situação de uma epidemia como esta.

cofrinho.jpgE aqui vem o maior paradoxo deste sistema maluco que é o nosso mundo globalizado. Afinal, o setor que terá o maior prejuízo provavelmente será o de suinocultura, mas é justamente onde o dinheiro vai ser mais urgente para manter a produção, que é necessária, mas em condições adequadas de higiene, para evitar avanço desta e surgimento de outras doenças.

Afinal a doença se originou do contato humano excessivo com os animais, devido à má condição dos criadouros.

Claro que o peso cairá nos governos, que terão que incentivar o setor com linhas de crédito e coisas deste tipo, o que leva à famosa “estatização dos prejuízos” das empresas de setores centrais na economia. Nada que a crise mundial não tenha nos ensinado. Mas a contrapartida deve ser exigida pelo governo, liberando crédito com condições, algumas delas sendo a observação dos padrões higiênicos e ambientais exigidos por convenções internacionais. Certificando-se, assim, que nada disso ocorra novamente.

Feliz ou infelizmente, o problema de um mexicano (e seu porquinho) acaba sendo um problema para todo o mundo.

Mais informações no ScienceBlogs:
Rainha Vermelha
Brontossauros no meu Jardim
Ecce Medicus