O blablablá dos políticos na abertura do Fórum Mundial de Ciência

Mesa de abertura do Fórum Mundia de Ciência. Crédito: ASCOM ABC

Aconteceu agora, em final de novembro no Rio de Janeiro, o Fórum Científico Mundial (World Science Forum- WSF). Eu dei uma passada por lá porque é um congresso diferente dos que eu já conheço. E eu conheço dois tipos: os científicos, bem focados em pesquisa básica, e os de mercado, como feiras de tecnologia ou de setores comerciais, como indústrias de couro e calçados.

Esse era de outro tipo: era de policy making. Quer dizer que é um evento político sobre ciência.

Vou falar mais sobre ele depois, mas vou começar pelo começo: a abertura.

O Brasil e a sua ciência maravilhosa

Sabe porque toda abertura de evento político é chata? Porque você sabe exatamente o que os políticos vão falar, e é sempre o mesmo clichê desenvolvimentista.

A Dilma estava na programação mas não apareceu; mandou o vice Michel Temer, que como sempre não decepcionou, não tropeçou em nenhuma palavra. Sempre me surpreendeu a facilidade com que ele discursa. Acho que nunca o vi errar ou engasgar. Pena ter falado besteira.

Ele estava contente por ter ouvido muito sobre as ciências sociais nas outras falas, sentimento que eu compartilho, já que muita gente ainda acha que ciência é só física e biologia, e não está nem aí para as ciências sociais. Mas aí ele falou de ciência JURÍDICA (que se for ciência é em outro contexto), e usou a palavra “social” só pra puxar o clichê do Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida. Ou seja, fica claro que ele não sabe o que é ciência, muito menos ciência social.

Ainda falaram o vice-governador do Rio, o Pezão, e o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp. Ambos mostrando só o lado bonito da moeda científica brasileira. De como o Rio e o Brasil têm avançado e bla, bla, bla.

Bacana. Mas quer dizer que não temos nenhum problema na ciência nacional, como importação de material que demora 6 meses, falta de financiamento, falta de educação científica da população e falta de estímulo à inovação? E questões polêmicas, como a dos beagles dentro do uso de animais em experimentação, estão todas bem resolvidas, ou pelo menos bem discutidas?

Aliás é bom mencionar que a Dilma não apareceu na abertura e o ministro Raupp sumiu depois dela. Eu pelo menos não o vi nos outros dias do evento. Bom, pode ser que o Fórum não seja tão importante quanto eu imaginei.

Quem comprou essa?

Eu fico imaginando se os estrangeiros ali presentes realmente compraram essa ideia de que o Brasil é a nova fronteira científica mundial como faz parecer o discurso oficial.

É obrigação dos representantes do governo venderem a imagem do país dessa forma, como se ele fosse um carro usado? Isso é bom para nós?

Em um fórum sobre como a ciência pode ajudar o mundo, de forma prática, a resolver os maiores problemas que a humanidade já enfrentou, acho mais inteligente a fala realista de József Pálinkás, presidente da Academia Húngara de Ciências e do Fórum, que reconhece que a ciência criou soluções, mas também muitos problemas:

“A ciência foi e continua sendo o principal contribuinte para o desenvolvimento, mas precisamos ser sinceros: a ciência fez parte da construção do mundo que estamos tentando mudar. Agora, precisa reverter esse processo”.

Se a ciência, bem feita, já pode gerar problemas, imagine uma ciência sem planejamento, tocada a toque de caixa, e que tampa com uma peneira as suas próprias falhas.

 

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