Paleogenômica e o retorno dos mamutes

Em 2012, cientistas na Austrália utilizaram fósseis de moa, uma ave não voadora já extinta que vivia na Nova Zelândia, para descobrir quanto tempo o DNA demora para se degradar após a morte do organismo [1]. Os pesquisadores descobriram que a meia-vida da molécula de DNA é de 521 anos, ou seja, 521 anos após a morte, metade das moléculas de DNA iniciais serão quebradas e, 521 anos depois disso, metade das moléculas que tinham restado serão quebradas, assim por diante.

Essa descoberta acaba com a os sonhos de um dia termos um Jurassic Park real, já que os dinossauros estão extintos há mais de 65 milhões de anos e qualquer molécula de DNA de dinossauro já não existe há muito tempo. Mas um outro animal muito famoso foi extinto há bem menos tempo, mais ou menos 4 mil anos atrás, o mamute.

Imagem reproduzida de: Nicholls, Henry. “Let’s make a mammoth.” Nature 456.7220 (2008): 310.

Não é incomum vermos notícias de corpos mamutes que foram encontrados conservados pelo gelo. Esses mamutes estão em um estado de conservação tão bom que é possível extrair o seu DNA e sequenciar para desvendar o seu genoma. Isso foi feito pela primeira vez em 2006 com restos de mamute encontrados na Sibéria [2] e já foi feito de novo várias vezes, com mamutes encontrados em outros lugares. Hoje em dia, sabemos o suficiente sobre o genoma do mamute para fazer estudos populacionais que utilizam informações genéticas para dar pistas sobre a extinção desses animais [3].

As tecnologias de sequenciamento modernas nos permitem descobrir a sequência completa de genomas a partir de uma quantidade muito pequena de DNA. Isso fez com que a área da paleogenômica, o estudo dos genomas de espécies extintas, se desenvolvesse. Hoje já temos sequências de DNA de mais de cem espécies extintas no banco de dados GenBank (nem todas elas são genomas completos).

A paleogenômica pode, inclusive, dar pistas da evolução humana. Duas espécies muito próximas dos humanos, o homem de Neandertal e o hominídeo de Denisova, já tiveram os seus genomas completamente sequenciados. As informações desses genomas já foram utilizadas para entender a evolução dessas espécies e como elas se relacionavam com os humanos.

Por mais que ainda não tenhamos um Jurassic Park, os avanços nas tecnologias de sequenciamento nos possibilitaram obter informações que antes pareceriam ser de filmes de ficção científica. Inclusive, já existem projetos que tentam recriar mamutes utilizando a informação do genoma desse animal.


Referências:

[1] Allentoft, Morten E., et al. “The half-life of DNA in bone: measuring decay kinetics in 158 dated fossils.” Proceedings of the Royal Society of London B: Biological Sciences (2012): rspb20121745.

[2] Poinar, Hendrik N., et al. “Metagenomics to paleogenomics: large-scale sequencing of mammoth DNA.” science 311.5759 (2006): 392-394.

[3] Palkopoulou, Eleftheria, et al. “Complete genomes reveal signatures of demographic and genetic declines in the woolly mammoth.” Current Biology 25.10 (2015): 1395-1400.

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Sobre Antônio Camargo

Bacharel em Ciências Biológicas pela UNICAMP. Atualmente é mestrando em Genética e Biologia Molecular na mesma instituição.

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