Lugar de mulher é onde ela quiser

Em comemoração ao dia internacional da mulher nada mais justo do que dedicar esse post a uma mulher muito especial para esse blog, a mãe da bioinformática, aquela que deu o pontapé inicial para o desenvolvimento da área que hoje trabalhamos e mais do que isso, a uma mulher que, além de tudo, incentivou ao máximo a presença de mulheres no mundo acadêmico, estamos falando aqui da Dr. Margaret Dayhoff.

A Dr. Dayhoff, professora da universidade de Georgetown, foi a bioquímica responsável por introduzir a computação em pesquisas biológicas na década de 60, e como ponto de partida, ela transformou a forma de representar proteínas, criando o código de uma única letra do alfabeto para cada aminoácido. Além disso, ela foi a responsável por desenvolver a análise de comparação entre espécies com as sequências identificadas, e com o passar dos anos, criou o primeiro banco de dados para armazenar sequencias biológicas. Ela foi simplesmente incrível, vocês não concordam? Imagina só, se hoje já encaramos algumas dificuldades por entrarmos num mundo majoritariamente masculino, o que ela não deve ter passado para conseguir criar e recriar a forma de encarar esse novo mundo.

E por tudo isso, a minha homenagem hoje pra ela consiste em fortalecer a presença feminina nesse meio, em trazer mulheres que, assim como ela, possam servir de inspiração não somente para quem pensa em seguir na área de bioinformática, mas a todas que pensam em se envolver com esse mundo de pesquisa. Pra isso eu fiz uma breve entrevista com algumas mulheres da área: duas pós docs, uma pesquisadora, e uma doutoranda que está iniciando seu caminho, perguntando sobre suas trajetórias, expectativas, dificuldades e conselhos que pudessem acrescentar para todas as jovens que acreditam que a pesquisa é o caminho para construção de um mundo melhor.

Em geral, o início do interesse das entrevistadas pela bioinformática surgiu no mesmo ponto que mais tem gerado dificuldades para todas, e que não está diretamente relacionadas com o sexo, mas com o fato de se tratar de um ambiente multidisciplinar e que traz consigo muita demanda de conhecimentos distintos e que no fundo clama por foco, resposta muito bem apresentada pela pesquisadora entrevistada : “Trabalhar em um ambiente multidisciplinar implica focar no real objetivo da pesquisa, seja ele constituído por homens, mulheres, pesquisadores, alunos, professores, do Brasil ou do exterior, e traz uma enorme satisfação quando esses colaboradores tem o mesmo fim integrativo. O que reconheço que como pesquisadores o nível de determinação e trabalho deve ser dobrado, pois assim marcamos a diferença e tentamos chegar à excelência, como o Brasil merece, independente do gênero, raça ou cor. Não tive problemas e sim desafios de pesquisa, de uma forma positiva que me levaram a me esforçar em melhorar na medida do possível”.

E apesar de todas as dificuldades o ser mulher também parece ter agregado a elas, pois segundo a Drª Luciana ter paciência e ser multitarefa a ajudou muito e segundo a Drª Juliana o jogo de cintura foi algo importante no caminho trilhado. E como não podia faltar, cada uma deixou o seu recadinho para as jovens interessadas em se aventurar no mundo da ciência:

“Esforço, força, determinação e muito estudo.”

“Para as jovens que estão pensando em se aventurar na bioinfo meu conselho é não se deixar intimidar pelos preconceitos existentes em relação à potencial dificuldade de um área que envolve muitas ciências exatas e em relação à maioria masculina na área. Desbravar uma nova área é sempre um desafio, e nossa capacidade de superar desafios pouco tem a ver com ser homem ou mulher. Já passou da hora de derrubarmos a questão cultural que atribui aos homens essa maior capacidade. Um conselho igualmente importante é: nunca desista de defender sua opinião apenas porque um colega tem opinião oposta e você pressupõe que ele deve saber mais sobre o assunto.”

“Meu conselho é que curtam a jornada, pois o caminho é muito gostoso!”

“Nunca desista dos seus sonhos. Seja persistente. Sempre haverá obstáculos na sua frente, pessoas querendo te criticar ou puxar o seu tapete.”

E pra finalizar esse post eu deixo aqui o meu recado para todas as mulheres: Percam o caminho, descubram tudo que existe no mundo, mas não se percam nele, saibam sempre tudo que você é capaz de fazer, valorize cada etapa, incluindo os erros, pois um dia vocês irão perceber que tudo fez sentido de uma forma totalmente inesperada, e essa é a beleza da vida. Não tenham medo de seguir em frente, vocês estão prontas para o que está por vir, então aproveitem, divirtam-se, e brilhem, sempre! O lugar de vocês é onde vocês deciderem!

 

Referências:

O toque feminino que revolucionou a biologia

Dayhoff

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Sobre Sheila Tiemi Nagamatsu

Formada em Biotecnologia pela UFSCar, Dra. em Genética e Biologia Molecular com ênfase em Bioinformática na UNICAMP, apaixonada por desenvolvimento pessoal e, atualmente, pós-doutoranda em YALE na área de psiquiatria.

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