Mugen em Doctor Who (1975)

No anime Jujustu Kaisen o personagem Satoru Gojo domina uma técnica chamada Mugen (infinito), capaz de “aumentar o espaço” entre algo que se aproxima dele, fazendo com que o objeto desacelere tanto que nunca o atingirá. Isto é explicado com o paradoxo de Zenão sobre Aquiles e a Tartaruga (eu já falei um pouco deste paradoxo no post A invencibilidade da tartaruga nas corridas!).

Vamos lembrar das nossas aulas de Física do Ensino Médio.

Velocidade média = variação do espaço percorrido / variação do tempo

Aceleração = variação da velocidade / variação do tempo

Por exemplo, se percorro 300 metros em 60 segundos, minha velocidade média é de 300m / 60s = 5 m/s.

Agora se no instante inicial da corrida minha velocidade era de 2 m/s e ao final dos 60 segundos minha velocidade era de 8 m/s, isso significa que minha aceleração foi de (8m/s – 2m/s) / 60s = (6m/s)/60s = 0.1 m/s².

Até aqui conseguiu me acompanhar? (seja sincero, se não conseguiu volte e reveja a explicação, pois as coisas vão complicar um pouco mais)

Agora vamos ver a relação entre aumentar o espaço e desacelerar.

Ao aumentarmos a distância de 300 metros, para 600 metros, com minha mesma velocidade de 5 m/s, levo 120 segundos para percorrer.

Contudo o que dizer da minha aceleração?

Se minha velocidade não se alterou, tenho que no instante inicial me movia a 2 m/s e no final a 8 m/s, assim a aceleração será dada por (8 m/s – 2m/s) / 120s = (6m/s)/120 = 0.05 m/s².

Assim, ao aumentarmos a distância para 1.200 m, a aceleração cai para 0.025 m/s².

Por isso em dada ocasião dá a impressão de que o objeto parou de se aproximar, mas somente sua aceleração está muito baixa a ponto de parecer parado.

Ok, terminamos a parte Nutella, vamos agora para a parte Raíz, isto é, algo que ocorreu num arco de Doctor Who do ano de 1975.

No arco 082 – Pyramids of Mars (para mais informações sobre o arco https://universowho.com/arco-082-pyramids-of-mars/) o Doutor enfrenta nada mais do que um antigo Deus Egípicio chamado Sutekh, que foi selado pelo Deus Hórus em uma prisão na forma de pirâmida localizada em Marte. Neste arco o Doutor faz de tudo para impedir que Sutekh quebre o selo que o prende, mas no final tudo é em vão, o selo se quebra, Sutekh livre agora adentra um portal que permite transitar entre sua prisão e a Terra na velocidade da luz.

Contudo, o Doutor em um lampejo percebe que ainda não é o fim. Corre para a TARDIS e vai até a saída do portal na Terra, levando consigo uma parte do painel de controle da TARDIS, e ao conectá-la no portal, anuncia que Sutekh está preso numa armadilha temporal.

Fonte: https://universowho.com/arco-082-pyramids-of-mars/

Sutekh inicialmente não entende o que houve, mas logo percebe que ele não está chegando no seu destino, e o Doutor afirma que já fez passarem 1.000 anos ali, e que está para fazer passar mais 10.000 anos. Depois com o desaparecimento de Sutekh, o Doutor diz que ele viveu 7.000 até que morresse de idade avançada. Em seguida o Doutor explica para sua assistente o que aconteceu.

Fonte: https://universowho.com/arco-082-pyramids-of-mars/
Fonte:https://universowho.com/arco-082-pyramids-of-mars/

Ou seja, o portal conectava Marte até a Terra (varia entre 54.000.000 km e 401.000.000 km) na velocidade da luz (300.000 km/s). Assim, o tempo de viagem seria entre 3 e 22 minutos.

Agora perceba que essa “armadilha temporal” que o Doutor criou segue o mesmo princípio do Mugen de Satoru Gojo.

Para que se passem mais tempo neste portal, é preciso que aumentemos o espaço a ser percorrido. No caso, para que passasse 7.000 anos o Doutor precisou alterar o comprimento do portal que antes media entre 54 e 401 milhões de quilômetros, para mais de 66 quadrilhões de quilômetros (66.270.960.000.000.000 km).

Um valor impressionante até mesmo para Satoru Gojo.

Créditos da imagem de capa à Julius H. por Pixabay


Como referenciar este conteúdo em formato ABNT (baseado na norma NBR 6023/2018):

SILVA, Marcos Henrique de Paula Dias da. Mugen em Doctor Who (1975). In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Zero – Blog de Ciência da UnicampVolume 11. Ed. 1. 1º semestre de 2024. Campinas, 17 mar. 2024. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/zero/5630/. Acesso em: <data-de-hoje>.

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