Beterraba e urucum para complementar o sabor

O conceito que Emanuelly mais vezes trabalha com seus alunos, independente das turmas e níveis, é conjunto. Pois em sua visão de como a matemática se estrutura, conjunto é um componente fundamental para os demais alicerces. Contudo, para infelicidade de seus alunos, essa professora também considera o humor como um alicerce para suas abordagens pedagógicas, mas o humor vinculado à matemática tende a ter um sabor duvidoso…

Discutindo sobre conjuntos, Emanuelly chegou no conceito de Conjunto Complementar, ou como ela prefere denotar, Subconjunto Complementar. Pois dado um Subconjunto A contido em B, seu Subconjunto Complementar será o conjunto formado pelos elementos de B que não pertencem a A. Mas isso é um gosto particular dela, pois só faz sentido falar do Complementar de um conjunto, quando temos clareza sobre dentro de onde este conjunto se encontra.

Nessa hora, ela nunca perde a oportunidade de contar uma piada de humor duvidoso:

Um matemático e um físico estão competindo para ver quem consegue cercar uma área maior utilizando até 100 metros de cerca. O físico como bom conhecedor das propriedades matemáticas começa construindo um círculo perfeito com sua cerca, na certeza de que dado um perímetro definido, o círculo é a figura geométrica com maior área. O matemático entretanto não desiste da competição, e para surpresa do adversário, pega poucos metros de cerca e passa ao seu redor, e então afirma que ele encontra-se fora da cerca.

Perceberndo que após a piada, a sala permanecia em silêncio, ela fica em dúvida se a piada não teve graça (provavelmente) ou se a turma não entendeu a piada, e decide explicar, que variando a definição de qual é o lado de dentro e de fora da cerca, um pedaço de cerca seria o suficiente para cercar o planeta inteiro exceto o seu entorno.

A sala permaneceu em silêncio…

Em mais uma tentativa de tirar uma risada da turma, Emanuelly explica que a parte que está em contato com o lado de dentro da meia, está “dentro da meia” ou em outras palavras “vestindo a meia”. Assim, se virarmos a meia do avesso, e colocarmos ela em nosso pézinho, todo o restante do universo estará dentro da meia, exceto nosso pé.

Dessa vez ela ouviu algumas risadas (mas parecem de pena…)

Apesar do humor não ser o seu forte, Emanuelly é bastante criativa, principalmente na cozinha, e aproveitando que a Semana Científico-Tecnológica estava próxima, decidiu oferecer uma atividade extra, relacionada à Subconjuntos Complementares. Depois de conversar com sua professora de Química Geral I (pois Emanuelly cursava Licenciatura em Química no mesmo Instituto que leciona), na aula seguinte foi preparada com seu avental, e levou os alunos para a copa, afim de explicar como seria o trabalho. Lá estava à espera da turma, uma beterraba, um sachê com urucum em pó, álcool, vinagre, um limpador multiuso (com base de amônia), garrafas pet vazias e filtros de café.

Ela explicou como cortar as garrafas e usar o filtro de café para improvisar recipientes de filtragem.

Primeiro misturou urucum com álcool e em outro recipiente, após triturar a beterraba, misturou ela com álcool, depois disso colocou as misturas nos filtros de café.

Depois de filtrados, ela separou a tinta da beterraba em três partes. Uma permaneceu pura, em outra misturou um pouco de vinagre e na última um pouco de limpador multiuso (com base de amônia). Por fim, passa as tinturas em folhas de papel sulfite comum e de desenho, então, coloca-as para secar em um local protegido da luz direta (uma gaveta por exemplo).

Ela explica, mostrando fotos do seu trabalho de Antotipia, que precisou realziar no semestre passado como discente em Química Geral I, que após as folhas secarem, precisariam pegar algumas folhas de vegetais (galhinhos, raminhos), colocá-los dentro de um porta-retrato de vidro e deixá-los para tomar sol (de preferência um sol forte) por algumas horas.

Por fim, tirariam o vegetal do papel, guardariam o papel longe da luz direta do sol, e tentariam observar o resultado (talvez com a ajuda de um programa de edição de imagem para aumentar o contraste e reduzir o brilho).

Mas antes que seus alunos pudessem ficar alegres com o trabalho de antotipia, a professora Emanuelly explica que essa era apenas a “parte prática”, e que em cima dela, precisariam elaborar também um relatório relacionando o que tudo isso tem a ver com Subconjuntos Complementares!

Nessa hora a alegria some da expressão dos alunos, pois percebem que o problema ia além de seguir uma receita ou pesquisar a resposta pronta na Internet.

Emanuelly sorria alegremente frente à expressão de surpresa dos alunos, que precisariam pensar um pouco para relacionar o que para ela parecia evidente.

Isto é, na técnica de antotipia que ela havia apresentado aos seus alunos e que eles deveriam fazer por conta própria, a região que parecia formar o desenho da folha, era a única parte do papel que mantinha a tintura original com que o papel foi tingido, enquanto o restante da tintura queimou com a incidência de luz solar.

A relação com Subconjuntos Complementares era simples, consistia em entender e explicar, que se a folha fosse o subconjunto A pertencente à superfície do papel, o Subconjunto Complementar de A, havia queimado com a incidência de luz solar.


Como referenciar este conteúdo em formato ABNT (baseado na norma NBR 6023/2018):

SILVA, Marcos Henrique de Paula Dias da. Beterraba e urucum para complementar o sabor. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Zero – Blog de Ciência da UnicampVolume 11. Ed. 1. 1º semestre de 2024. Campinas, 11 de maio 2024. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/zero/5720/. Acesso em: <data-de-hoje>.

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