Reconhecimento de padrões
O reconhecimento de padrões é uma das habilidades comumente associadas ao Pensamento Computacional, que se relaciona a capacidade de perceber características, comportamentos, propriedades, relações entre objetos (seja lá o que você considerar um objeto). Pela minha experiência na Matemática, essa habilidade é parcialmente útil, pois diversos comportamentos entre objetos matemáticos são de difícil percepção, por exemplo, o primeiro texto deste blog Séries retráteis fala sobre uma propriedade para resolver séries chamada Telescopar.
Telescopar uma série nada mais é do que perceber que os termos da série hora aparecem somando e depois subtraindo. Assim, se reescrevermos seus termos, eles se anularão (deixando só o primeiro e o último).
Esta é uma situação em que o Reconhecimento de padrões é particularmente útil (e um tanto difícil de se notar para quem não está acostumado a trabalhar com séries). Contudo, reconhecer padrões também pode ser uma via perigosa, como no texto É mais fácil ganhar na Mega-Sena do que adivinhar o próximo termo da sequência numérica [2, 3, 5, 7, 11, ?]. Nesse texto falo sobre a falsa-facilidade de se identificar um padrão e de como isso é tratado de forma errônea em atividades e exercícios de matemática. No caso da sequência numérica 2, 3, 5, 7, 11 … só conhecendo os 5 termos iniciais, sem mais informações, embora pareça ser “óbvio” que estamos falando dos números primos, na verdade existem infinitas sequências com este início.
Isso é inclusive discutido no filme “Enigmas de um crime” (2008), quando ao se ver encurralado em uma situação de homicídio, o personagem vê a possibilidade de colocar a culpa em um suposto assassino em série, dizendo que recebeu uma mensagem do assassino, um papel com um círculo desenhado. Durante o filme os personagens tentam achar o padrão entre os símbolos deixados pelo assassino, começando pelo círculo, e encontrando uma sequência que correspondia ao padrão. Mas o desfecho encerra explicando que não havia nenhum assassino em série, e para qualquer padrão finito existem infinitos padrões que poderiam em alguma lógica sucedê-lo. Adoro esse filme, super recomendo (embora tenha dado um baita spoiler rsrsrsrs).
Assim, após esta introdução sobre Reconhecimento de Padrões e alguns de seus viéses, gostaria de apresentar um minigame que brinca exatamente com esta habilidade, chamado Ricochetebol. Neste jogo controlamos uma bruxinha que voa pela tela e arremessa galinhas. Nosso objetivo é acertar a bolinha azul que fica movendo-se pela tela, ricocheteando nas bordas, contudo, existem bolinhas vermelhas que fazem movimentos similares e devem ser evitadas (se a galinha atingir a bolinha vermelha o nível reinicia).
Até ai parece um minigame básico de destreza, velocidade e atenção… mas há dois detalhes cruciais. As bolinhas movimentam-se em velocidades sempre maiores do que a bruxinha e a galinha, ou seja, é impossível querer acompanhar o movimento da bolinha azul com a personagem ou mesmo arremessando a galinha nela. O outro detalhe é que o movimento das bolinhas é simétrico, e definido da seguinte maneira:
Para um ângulo aleatório escolhido para a bolinha azul, as bolinhas vermelhas terão ângulos equidistantes umas das outras (considerando inclusive a bolinha azul). Por exemplo:
- Se temos uma bolinha azul e uma vermelha, e a azul aponta inicialmente para 0 graus, a vermelha apontará para 180 graus.
- Se temos uma bolinha azul e duas vermelhas, e a azul aponta inicialmente para 0 graus, a 1a bolinha vermelha apontará para 120 graus e a 2a bolinha vermelha apontará para 240 graus.
- Se temos uma bolinha azul e três vermelhas, e a azul aponta inicialmente para 0 graus, a 1a bolinha vermelha apontará para 90 graus, a 2a bolinha vermelha apontará para 180 graus e a 3a bolinha vermelha apontará para 270 graus.
- Se temos uma bolinha azul e quatro vermelhas, e a azul aponta inicialmente para 0 graus, a 1a bolinha vermelha apontará para 72 graus, a 2a bolinha vermelha apontará para 144 graus, a 3abolinha vermelha apontará para 216 graus e a 4a bolinha vermelha apontará para 288 graus.
Assim, mesmo sendo impossível acompanhar em velocidade a bolinha azul, é possível reconhecer seu movimento na tela e antecipar onde ela estará. Para facilitar esta ação, há uma linha azul que marca o trajeto percorrido por esta bolinha, de modo que podemos entender a partir de seu rastro como está sendo o seu comportamento.
O jogo é particularmente simples, são apenas 5 níveis, mas proporciona uma diversãozinha (meio frustrante no início já que podemos tentar acompanhar em velocidade o alvo). Mas acredito que este jogo permita observarmos como se desenvolve a habilidade de reconhecimento de padrões, uma vez que o jogador em dado momento mudará sua estratégia de jogo, passando a focar em alguma localidade da tela e aguardar o momento exato para disparar sua galinha.
Link do jogo: https://scratch.mit.edu/projects/1108278864/fullscreen
Como referenciar este conteúdo em formato ABNT (baseado na norma NBR 6023/2018):
SILVA, Marcos Henrique de Paula Dias da. Reconhecimento de padrões. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Zero – Blog de Ciência da Unicamp. Volume 12. Ed. 1. 2º semestre de 2024. Campinas, 23 de dezembro 2024. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/zero/5935/. Acesso em: <data-de-hoje>.