A ciência pelos olhos da Profa. Dra. Vera Lúcia da Silveira Nantes Button

Publicado por Giovana Maria Breda Veronezi em

Dando sequência à abordagem feita no blog sobre mulheres inseridas no setor de tecnologia, apresento com muita alegria e satisfação as visões da Profa. Dra. Vera Lúcia da Silveira Nantes Button. A postagem de hoje – minha estreia como colaboradora também na categoria de entrevistas – traz nossa primeira engenheira a ser entrevistada pelo blog.

Profa. Vera durante conferência internacional no Japão, 2013. Arquivo pessoal.

Vera graduou-se em Engenharia Elétrica na Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, em 1981, e realizou, em seguida, mestrado e doutorado na mesma área e universidade.  Atuou até setembro de 2014 como Professora Doutora no Departamento de Engenharia Biomédica (DEB) da Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação – FEEC  e como pesquisadora no Centro de Engenharia Biomédica – CEB da UNICAMP.

Ao longo de sua carreira, ministrou diversas disciplinas para a graduação e pós-graduação, foi chefe de departamento por mais de uma gestão, além de membro de conselho e diretora associada do CEB. Como pesquisadora, deu à sua linha de pesquisa enfoque em instrumentação biomédica, trabalhando principalmente com o desenvolvimento de transdutores de ultrassom e obtenção e processamento de imagens médicas.

Participou do grupo de pesquisa em ultrassom que reuniu cientistas de diversas universidades (UNICAMP, USP, InCor, UFSCar, UTFPR, UFRJ, UNESP) e do Instituto Eldorado, que culminou no desenvolvimento do primeiro equipamento de ultrassom nacional, capaz de gerar imagens ecográficas do corpo humano, em diversas modalidades, para diagnóstico médico (financiamento FINEP e Ministério da Saúde). É co-autora, com dois de seus orientados de mestrado, dos programas de computador registrados BR Braille (transcreve texto Braille para caracteres alfa-numéricos) e FSIM (simula o campo acústico gerado por transdutores de ultrassom). É autora do livro “Principles of Measurement and Transduction of Biomedical Variables”, publicado em 2014 pela Academic Press-Elsevier.

Mesmo tendo formado em engenharia, a entrevistada concordou em mantermos o termo “cientista” nas perguntas, uma vez que ela se encontra inserida no meio acadêmico e envolvida com a pesquisa.

Livro de sua autoria, 2014. Academic Press-Elsevier.

Livro de sua autoria, 2014. Academic Press-Elsevier.

Dona de um carisma, simpatia e disposição contagiantes, Vera carinhosamente compartilha conosco suas experiências, opiniões e como conciliou fatores pessoais, como seu amor por animais e a opção pela maternidade, com suas escolhas profissionais.

1. Cientista – era isso que você queria ser quando crescesse?

Eu queria ser médica e não engenheira, quando era criança. No entanto, uma reportagem no jornal Diário de São Paulo, que não existe mais, falando do uso de animais nas aulas práticas de Medicina, me fizeram desistir do curso. Conversando com um amigo do meu pai sobre isso, ele me sugeriu fazer Engenharia Biomédica, uma área de estudo onde eu poderia estudar e pesquisar desenvolvendo equipamentos médicos para ajudar pacientes, sem a necessidade de envolver animais.

2. Algum cientista ou descoberta científica a inspirou na escolha dessa carreira?

Escolhi Engenharia Elétrica pois era o caminho mais óbvio para ingressar na Engenharia Biomédica, naquela época (final da década de 70). Sempre fui fã de ficção científica e acompanhar o pouso da primeira nave tripulada na Lua, pela TV, junto com meu pai, certamente contribuiu para aguçar minha curiosidade pela tecnologia. Tive ótimas professoras de Química e Biologia no Curso Colegial, atual Ensino Médio, e meu colégio estadual dispunha de laboratório para as aulas práticas de Química. O gosto pela Física veio mais tarde, durante as aulas do cursinho

Apresentação do protótipo do equipamento de ultrassom no Ministério da Saúde, Brasília. Arquivo pessoal.

Apresentação do protótipo do equipamento de ultrassom no Ministério da Saúde, Brasília. Arquivo pessoal.

pré-vestibular. Some a tudo isso assistir um documentário sobre a vida da Madame Curie e o filme Viagem Fantástica (um grupo de cientistas são miniaturizados e viajam dentro do corpo humano) durante a adolescência. Não há uma única figura ou acontecimento, mas uma combinação deles.

3. Você já enfrentou alguma dificuldade enquanto cientista por ser mulher?

Eu fiz escolhas que devem parecer erradas para a maioria das jovens cientistas de hoje. Eu escolhi fazer tudo ao mesmo tempo: cursar pós-graduação, casar, ter filhos e ingressar na vida acadêmica! Ainda durante o mestrado eu fui contratada como professora (MS1, sim, existiam professores sem mestrado), casei e tive três filhos. Claro que tive de arcar com as consequências! Meu mestrado foi muito longo e as atividades de pesquisa, ensino e administrativas (as de extensão ainda não haviam sido criadas) eram interrompidas a cada licença maternidade. Tive a incalculável sorte de trabalhar com orientadores e num departamento que me apoiaram e incentivaram. Orientei um número maior de Iniciações Científicas do que Mestrados e Doutorados durante a vida acadêmica e convivi com alunos e alunas brilhantes. Tenho consciência que a jovem cientista do século XXI é mais cobrada e suporta tensões maiores de

Com colegas da POLI-USP, InCor, DEB-UNICAMP e UTFPR em visita ao Instituto Fraunhöfer em Saardenbruecken, Alemanha, 2013, para prospecção de tecnologia para o desenvolvimento do equipamento de ultrassom. Arquivo pessoal.

Com colegas da POLI-USP, InCor, DEB-UNICAMP e UTFPR em visita ao Instituto Fraunhöfer em Saardenbruecken, Alemanha, 2013, para prospecção de tecnologia para o desenvolvimento do equipamento de ultrassom. Arquivo pessoal.

prazos de duração das bolsas, de validade dos créditos das disciplinas, da necessidade de ter muitas publicações internacionais e de só ingressar na vida acadêmica profissional com doutorado ou pós-doutorado, depois de enfrentar a batalha dos concursos públicos. Quem tem vocação para a vida acadêmica enfrenta todas essas barreiras, e mais algumas sendo mulher, para se dedicar ao ensino e pesquisa.

4. Descreva, em poucas palavras, a ciência pelos olhos da Profa. Dra. Vera Button

A ciência sempre fez parte da história da humanidade. Desde o desenvolvimento de um método rudimentar de atear fogo ao mais complexo processo de Engenharia Genética, saber como as coisas funcionam, como controlar, como consertar, como criar, buscar soluções, são necessidades que conduzem a vida do ser humano. Espero que homens e mulheres usem essa sede de conhecimento para cada vez mais aplicar a ciência para o bem.

Agradeço imensamente à Profa. Vera pelo aceite em conceder essa entrevista. Que cada vez mais áreas de atuação profissional tomem espaço aqui no blog e, principalmente, na vida de nós, mulheres.


Giovana Maria Breda Veronezi

Graduada em Ciências Biológicas pela Unicamp em 2014 e Mestra em Biologia Celular e Estrutural pela mesma universidade. Com o sonho de criança em ser Bióloga realizado, almeja na vida adulta ver a ciência (e o mundo) cada vez mais pelos olhos delas.

2 comentários

FERNANDO LUIS OLIVEIRA SOUSA · 31 de março de 2019 às 07:03

Parabenizo pela entrevista, a Drª Vera foi fonte de inspiração imensurável para a minha escolha a carreira de Bioengenharia, hoje sou tecnólogo em Gestão Hospitalar,técnico em manutenção de equipamentos médico-hospitalar técnico em eletrotécnica e estou engessando em pós em engenharia clinica, ela foi fundamental na minha escolha,desejo o melhor do melhor para sua carreira e família.

    Giovana Maria Breda Veronezi · 19 de maio de 2019 às 15:15

    Obrigada Fernando! A Dra. Vera é realmente uma pessoa e profissional muito inspiradora.

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