A brasileira que criou o mosquito transgênico para combater a dengue

Publicado por Gabriela Mendes em

A Professora Doutora Margareth Capurro é graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Santo Amaro (UNISA), Mestre e Doutora em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP), e tem Pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Irvine (UCI). 

Há quase 20 anos, a Dra. Margareth Capurro lidera o Laboratório de Mosquitos Geneticamente Modificados no Instituto de Ciências Biomédicas na USP. Recentemente, o projeto de pesquisa da bióloga, que utiliza alteração genética de mosquitos para controle de doenças, foi vencedor do prêmio da revista Claudia na categoria Ciências, que busca homenagear e incentivar mulheres cientistas no país. 

A linha de pesquisa da Dra. Capurro tem como principal objetivo combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, febre amarela, zika e chikungunya, muito comuns em países situados em regiões tropicais, como o Brasil. A dengue é considerada a doença viral mais importante transmitida por artrópodes, mais especificamente pelo mosquito Aedes, e, assim como as outras doenças citadas anteriormente, se tornou emergente também em países situados em regiões não tropicais. 


O mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, febre amarela, zika e chikungunya. Créditos: https://fotospublicas.com/hoje-no-rio-fiocruz-inicia-liberacao-aedes-aegypti-bem/

Vacinas contra a dengue estão em fase de testes e desenvolvimento, mas existem outras formas de enfrentar a transmissão desta e de outras doenças virais causadas pelo Aedes aegypti. Diferentes estratégias têm sido utilizadas em laboratórios para modificar o mosquito macho, que não pica e não transmite doenças. Uma delas é feita por meio de irradiação de raios X ou raios gama, que torna o macho estéril. Outra estratégia inclui modificações genéticas, em que são criados mosquitos com um gene letal e ao se reproduzirem com fêmeas selvagens não deixam descendentes. Assim, esses mosquitos transgênicos criados em laboratório, quando liberados no ambiente de forma controlada, contribuem para a redução da sua população e, consequentemente, da diminuição de doenças espalhadas por eles. 

O estudo denominado Projeto Aedes Transgênico (PAT), realizado em parceria com a Biofábrica Moscamed Brasil, utilizou esses mosquitos com gene letal e foi testado em áreas localizadas nas cidades de Juazeiro e Jacobina, na Bahia, onde houve redução de aproximadamente 90% da população de Aedes aegypti nos locais. O projeto coordenado pela pesquisadora foi pioneiro no Brasil e os resultados foram mais significativos do que aqueles obtidos em uma pesquisa realizada anteriormente, por outro grupo, nas Ilhas Cayman, em 2009 e 2010, em que houve a liberação de mosquitos transgênicos em campo aberto, com redução de 80% da população selvagem de Aedes.

A bióloga Margareth Capurro em seu laboratório na Universidade de São Paulo. Reprodução: Letícia Moreira/ ÉPOCA. Créditos: https://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/12/e-impossivel-acabar-com-o-aedes-aegypti-diz-criadora-de-mosquito-transgenico.html

Com o surgimento de novas doenças causadas por vírus até então não patogênicos aos seres humanos, como o caso do vírus Mayaro, atualmente endêmico na Amazônia e Centro-Oeste do Brasil, e transmitidas por mosquitos, novos projetos de liberação de mosquitos transgênicos em regiões específicas, a exemplo do projeto PAT coordenado pela Doutora Capurro, têm grande potencial para combatê-los. Vale ressaltar que, de forma conjunta com a educação e conscientização da população e o desenvolvimento de vacinas, outras estratégias de modificação genética e criação de mosquitos machos estéreis também pesquisados pela equipe da bióloga terão impacto ainda mais significante na redução da população de mosquitos e da transmissão de doenças. 

 

 

 

 

 

 

Referências: 

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/?term=Aedes+aegypti+Control+Strategies+in+Brazil%3A+Incorporation+of+New+Technologies+to+Overcome+the+Persistence+of+Dengue+Epidemics.

https://claudia.abril.com.br/indicacoes/margareth-capurro/

https://epoca.globo.com/vida/noticia/2015/12/e-impossivel-acabar-com-o-aedes-aegypti-diz-criadora-de-mosquito-transgenico.html

https://fotospublicas.com/hoje-no-rio-fiocruz-inicia-liberacao-aedes-aegypti-bem/

 

 

 


Gabriela Mendes

É formada em Biomedicina e Mestre em Biologia Celular pela UFU, atualmente é doutoranda em Genética na Texas A&M University, College Station, EUA. Acredita que a educação transforma o mundo e que o conhecimento é libertador, principalmente para as mulheres.

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