Conheça a Dra. Elisa Vicenzi e Dra. Rafaela Ribeiro, cientistas que se dedicam aos estudos sobre epidemias virais

Publicado por Bruna Bertol em

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou no dia 30 de janeiro de 2020, que o mais recente agente de coronavírus (SARS-CoV-2), descoberto em dezembro de 2019 após o surgimento dos primeiros casos na China, é uma emergência de saúde pública internacional. Dessa forma, a notícia desencadeou pânico generalizado, o que leva ao surgimento de uma série de notícias falsas, teorias da conspiração e desqualificação da ciência e do sistema único de saúde.

Por isso, é de extrema importância o incentivo a pesquisa, o compartilhamento de informações com bases científicas e, principalmente, enaltecer a contribuição de cientistas para o conhecimento que se tem hoje. A propósito, sugiro leitura do artigo Coronavírus: não existe segurança sem acesso universal à saúde publicado no Jornal da USP pela professora Deisy Ventura, titular e coordenadora do doutorado em Saúde Global e Sustentabilidade da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Hoje eu gostaria de falar um pouco sobre duas mulheres cientistas que tem se dedicado profissionalmente a estudos sobre agentes virais responsáveis por importantes epidemias da história da humanidade, como HIV, ZIKA e coronavírus, são elas a Dra. Elisa Vicenzi e a Dra. Rafaela Ribeiro.

Dra. Elisa Vicenzi

Dra. Elisa Vicenzi. Foto retirada do site do instituto de pesquisa “Ospedale San Raffaele”.

Dra. Elisa Vicenzi é uma pesquisadora italiana que obteve seu título de doutorado em Farmacologia (1980) pela Universidade de Ferrara na Itália. Foi visitante associada no Laboratório de Microbiologia Molecular no Instituto Nacional de Alergia e Doenças infecciosas (NIAID, do inglês National Institute of Allergy and Infectious Diseases), no Instituto Nacional de Saúde (NIH, do inglês National Institutes of Health). Desde 1993 trabalha no Instituto de pesquisa Ospedale San Raffaele como pesquisadora sênior na Unidade de imunopatogênese do AIDS e desde 2006 é chefe da unidade de patogênese viral e biossegurança.

Dra. Vicenzi possui um grupo de pesquisa formado majoritariamente por mulheres. Assim, é autora de 126 artigos científicos, além de revisões e capítulos de livros na área de estudos virais. Sua pesquisa é focada em investigar mecanismos capazes de inibir infecções virais, tais como aquelas causadas pelo HIV e influenza A. Em 2017, Dra Vicenzi passou a se interessar por estudos envolvendo o vírus ZIKA, particularmente os mecanismos de ação em células neurais e as subsequentes complicações neurológicas, como microcefalias. Uma contribuição significativa do seu grupo de pesquisa para a ciência mundial ocorreu em 2003, quando o grupo recebeu amostras biológicas de um paciente italiano que tinha viajado para a China recentemente e chegou ao hospital local com sintomas respiratórios graves, sendo posteriormente diagnosticado com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), doença respiratória causada pelo vírus SARS-CoV.

Os primeiros casos de SARS emergiram na China em 2002. O SARS-CoV se disseminou rapidamente por diversos países, infectando assim mais de 8.000 pessoas e causando cerca de 800 mortes, até que a epidemia global foi controlada em 2003. No entanto, desde 2004, nenhum caso de SARS foi relatado mundialmente.

O grupo de pesquisa coordenado pela Dra Vicenzi foi o primeiro na Itália (e o segundo no mundo) a isolar o novo coronavírus SARS-CoV-2. A partir desse momento, o grupo se dedicou a investigar os mecanismos de infecção do vírus e possíveis formar de tratamento. A perspectiva nesse momento, em virtude do surgimento do novo coronavírus, é entender os seus mecanismos de ação, bem como investigar se determinados fármacos utilizados com sucesso no tratamento de Influenza A e ZIKA, seriam úteis no tratamento dessa nova epidemia, já que este é único grupo de pesquisa da Itália e um dos mais importantes da Europa que possuem coronavírus em laboratório para a realização de estudos.

Dra. Rafaela Ribeiro

Dra. Rafaela Ribeiro. Arquivo pessoal.

Dra. Rafaela Ribeiro é uma pesquisadora brasileira, bióloga formada no Paraná e doutora em Biologia Celular e Estrutural pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Realiza um pós-doutorado no Hospital Albert Einstein e seu projeto de pesquisa investiga vias que são ativadas na infecção por ZIKA em humanos e suas consequências para o sistema nervoso central. Dra Ribeiro está atualmente realizando um estágio de pesquisa no exterior com o grupo da Dra. Vicenzi, estabelecendo, dessa forma, uma importante parceria Brasil – Itália. Também possui como perspectiva futura, em conjunto com o grupo italiano, mais estudos sobre coronavírus.

Ao observar pessoas no Brasil que não fazem parte da academia, cada vez mais distantes do conhecimento científico, e o surgimento cada vez maior de notícias falsas e das chamadas “pseudociências” (qualquer tipo de informação que se diz baseada em fatos científicos, ou mesmo como tendo um alto padrão de conhecimento, mas que não resulta verdadeiramente da aplicação de métodos científicos), Dra Ribeiro teve uma importante iniciativa. Ela, então, resolveu criar um perfil de instagram (@dra.rafaribeiro) a fim de passar informações de cunho científico, mas de forma leve e descontraída e, assim, ajudar as pessoas a entender mais sobre o que a ciência faz, como ela funciona e porque deve ser apoiada por todos nós como sociedade. Inclusive, tem um vídeo muito interessante com informações sobre coronavírus no perfil dela, deem uma conferida! Vale a pena!

“Ouvi dizer de amigas minhas que se você tomar suco verde de manhã em jejum, não se infecta com o novo coronavírus. São absurdas as coisas que a gente escuta! Acho que o @Ciensouuu foi pensado para ir contra isso e a mensagem principal é: você pode acreditar no que quiser, mas é isso aqui que acontece no seu corpo e só disso temos certeza cientificamente até o momento”

Dra Rafaela Ribeiro

Alguns membros do grupo de pesquisa da Dra. Elisa Vicenzi (4ª pessoa na foto) formado atualmente, dentre outros, pela Dra Rafaela Ribeiro (2ª pessoa na foto). Arquivo pessoal.

Conhecer a trajetória dessas mulheres é entender o quão importante é o trabalho desenvolvido por elas. Se apenas uma dessas mulheres se cansasse e desistisse, a história da ciência seria diferente.

 

Referências

Organização Mundial da Saúde. https://www.who.int/ith/diseases/sars/en/

Ministério da Saúde. https://saude.gov.br/saude-de-a-z/coronavirus


Bruna Bertol

Possui graduação em Farmácia (2014) e mestrado (2016) em Imunologia Básica e Aplicada pela USP de Ribeirão Preto, onde cursa seu doutorado. Em 2019 realizou 1 ano de estágio sanduíche na Universidade do Colorado, Anschutz Medical Campus – Aurora, CO, USA. Trabalha com imunologia tumoral e imunoterapia. Acredita na educação como instrumento de emancipação feminina e transformação social.

2 comentários

Big Cérebro Brinquedos · 5 de abril de 2020 às 13:58

Parabéns pelo artigo e sobretudo pelo trabalho feito pelas pesquisadoras. Trabalhos científicos baseados em evidências são essenciais para nos manterem no progresso da ciência e sobretudo preservar as gerações fuguras.
Nossas crianças agradecem!

    Bruna Bertol · 3 de maio de 2020 às 14:45

    Obrigada pelo apoio!

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