Agrotóxicos, problema ou solução?

Publicado por Descascando a ciência em

Qual a primeira coisa que lhe vem à cabeça quando você escuta a palavra agrotóxico? Para começarmos essa conversa, precisamos contextualizar a palavra agrotóxico.

Agrotóxico é um termo muito genérico, empregado para diferentes tecnologias utilizadas no campo e que foram desenvolvidas pela ciência agrícola. Embora muitos contestem seu uso, é inegável que os agrotóxicos desempenham um papel importante na agricultura moderna, garantindo a produção de alimentos em pequena e larga escala.

Se formos olhar na legislação brasileira, a definição de agrotóxico é a seguinte:

a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a  composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos;

b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.

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Ou seja, o termo vai além dos produtos químicos como é comumente relacionado. E qual a importância de saber isso? A importância é para que saibamos que quando divulgados dados de agrotóxicos liberados/ aprovados para o uso no Brasil estão abrangidas todas essas categorias.

Por que usar agrotóxicos?

Um dos principais benefícios dos agrotóxicos é o aumento da produtividade agrícola. Sem o controle adequado de pragas e doenças, as colheitas podem ser significativamente reduzidas, o que afetaria a oferta de alimentos e, consequentemente, os preços ao consumidor.

E quando falamos sobre isso, esse impacto não cai somente sobre as grandes culturas e commodities. O controle de pragas também precisa ser feito em hortas urbanas, em pequenos produtores e na agricultura familiar. Além disso, os agrotóxicos também têm um impacto positivo na qualidade dos alimentos produzidos.

Agrotóxico não é tudo igual

Os agrotóxicos podem ser divididos pela maneira que atuam no controle das pragas. Podemos dividi-los em herbicidas, fungicidas, inseticidas, nematicidas, reguladores de crescimento etc. Cada um com sua função específica. E dentro dessas categorias ainda podem ter origens químicas ou biológicas.

Os agrotóxicos químicos são produzidos a partir de uma molécula química (ingrediente ativo) que atua diretamente no controle de uma praga ou doença específica. Já os agrotóxicos biológicos são desenvolvidos a partir de microrganismos, insetos, extratos de plantas e feromônios de insetos.

Desenvolvimento e segurança dos agrotóxicos

É importante ressaltar que tanto os agrotóxicos químicos, quanto os biológicos são desenvolvidos com base científica e demoram anos desde a descoberta de uma nova molécula ou organismo até chegarem ao agricultor. 

Isso porque os agrotóxicos passam por rigorosos testes de segurança antes de serem aprovados para uso. Além disso, são avaliados pelos órgãos governamentais: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Os fabricantes devem garantir que os produtos sejam seguros para uso humano e animal e que não afetem negativamente o meio ambiente. Além disso, os agricultores devem seguir as orientações de uso fornecidas pelos fabricantes para garantir que os produtos sejam usados ​​de maneira segura e responsável.

Aprovação de novos produtos

A aprovação de novos agrotóxicos é importante para que haja novas tecnologias para os cultivos, na maioria das vezes mais específicos no controle das pragas e com menor danos aos humanos e ao meio ambiente. Além disso, a aprovação de novos produtos também gera a possibilidade de alternativas para o agricultor, por exemplo:

A mosca branca é um inseto que é considerada praga em diversas culturas, como feijão, batata, tomate, entre outras. É responsável pela transmissão de doenças para as plantas cultivadas. Porém, a forma de controle mais utilizada para a mosca branca era restrita ao inseticida químico. 

Depois de muita pesquisa, cientistas da Embrapa conseguiram desenvolver um bioinseticida a partir de um fungo que é um inimigo natural do inseto. Hoje, esse agrotóxico biológico também é uma forma eficaz no controle da mosca branca.

A tecnologia sofre mudanças contantes. Assim como trocamos nossos aparelhos celulares, computadores, televisores por produtos mais novos e eficazes, o desenvolvimento de novos agrotóxicos, mais modernos e sustentáveis também acontece.

É importante ressaltar que o uso de agrotóxico faz parte de um pacote tecnológico que engloba outras formas de controle, como o uso de cultivares resistentes, a rotação de culturas, o plantio direto e outras práticas que juntas formam o chamado Manejo Integrado e novas tecnologias favorecem a adoção desse manejo.

Realmente usamos agrotóxicos banidos?

Há uma ideia comum de que o Brasil usa agrotóxicos banidos em outros países, especialmente na União Europeia (UE). No entanto, essa afirmação não é verdadeira e precisa ser contestada. Vou te explicar.

Precisamos levar em conta que cada país tem seus desafios agrícolas e suas leis e normas na avaliação e fiscalização dos agrotóxicos. Afinal, as características de fauna, flora e clima são bem distintas entre os territórios e com isso há uma grande diferença nas populações de insetos, microrganismos e plantas que podem ser tornar pragas para as culturas.

O registro de um ingrediente ativo, para controle de pragas e doenças em plantas, pode ou não ocorrer por vários motivos, entre eles:

  • A existência de cultivos e a incidência de pragas a que se destina o produto;
  • As estratégias de mercado que podem ser: concorrência, disponibilidade de produtos de menor preço, disponibilidade de matérias-primas, etc.;
  • As exigências regulatórias.

Por isso, produtos desenvolvidos para um país nem sempre vão ter utilidade em outro, levando em conta características tão diversas. E, produtos não registados não quer dizer que são banidos. 

Segundo dados do MAPA, representados nesse gráfico, dos 279 ingredientes ativos registrados no Brasil, 228 também estão aprovados na Austrália, 218 nos Estados Unidos e Canadá, 205 no Japão, e 136 na União Europeia.

Cada substância é avaliada caso a caso e de acordo com as legislações nacionais. Por exemplo, se um IA é aprovado no Brasil para uma determinada praga porém, essa praga não está presente nas lavouras da Alemanha. Esse produto não será avaliado na Alemanha e consequentemente não terá seu registro naquele país. Isso, de um produto não ser registrado no país não indica que ele esteja banido, indica somente que seu uso não é necessário naquele local.

 

Sobre o autor:

Dr. Francisco Humberto Henrique: Engenheiro Agrônomo, mestre e doutor em Agricultura Tropical e Subtropical. Atualmente trabalha com comunicação e marketing no agronegócio e é divulgador científico no Descascando a Ciência.

 

Referências:

Silva, L. R., Rembichevisk, P. e Rangel, L. E. Aprovações e Proibições de agrotóxicos em diferentes países. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/arquivos/aprov-proib-agts-comp-paises.pdf/. Acesso em: mar de 2023.

 

 

 


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2 comentários

Historinha · 13 de março de 2023 às 13:13

Esse é um caso bem complexo, se levar em consideração o uso errado e em excesso dos agrotóxicos, poluição de rios e lençóis freáticos. Mas é inegável o seu uso e funcionalidade na produção. Eu mesmo prefiro produtos naturais, mas fazer isso em grande escala é quase impossível.

    Descascando a ciência · 16 de março de 2023 às 11:41

    Sim, realmente a produção em larga escala sem os agrotóxicos é um desafio impossível. Mas a tecnologia dos produtos tem evoluído muito nas últimas décadas e produtos mais específicos e com menores efeitos residuais ja estão sendo produzidos. Na realidade é importante termos várias formas de controle e manejo e usar de todas para uma produção agrícola cada vez mais sustentável. Obrigado por acompanhar nosso blog!

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