Gostaria de começar agradecendo meu grande amigo Breno pelo convite e dizer que gostaria de contrubuir a este blog falando não só de assuntos ligados a ecologia, mas também sobre ciência em geral. Acho que o papel dos blogs como divulgadores de ciência para o grande público têm crescido cada vez mais e em países como os EUA, blogs de ciência como Pharyngula e The Loom têm um público de milhares de pessoas que os acompanham diariamente. Desta forma, a importância de transmissão de conhecimento científico destes blogs certamente é muito relevante.
Com certeza um assunto muito recorrente neste blog e em toda a mídia (pelo menos nos últimos anos) tem sido o Aquecimento Global. Muito se fala sobre emissão e sequestro de gases estufa como o gás carbônico (CO2) e um pouco sobre emissão de metano (CH4). Mas tenho certeza que muitos nunca ouviram falar no óxido nitroso (N2O). Este gás, como sua fórmula molecular já indica, é nitrogenado. Será que o famoso “gás do riso” pode nos trazer alguma preocupação nada engraçada em termos de aquecimento do planeta?
Óxido nitroso. Fonte: wikipedia
Tenha certeza que sim. Em termos potenciais, o dióxido nitroso apresenta um potencial estufa 300 vezes maior do que o dióxido de carbono. Além disso, esta molécula pode reagir diretamente com o ozônio, trazendo conseqüências ainda mais graves para o nosso planeta. As principais fontes naturais deste gás são os processos de desnitrificação (respiração do nitrado) e nitrificação (respiração da amônia). Mas como adiantei no título, o problema do nitrogênio e de outros nutrientes é quando ele se encontra em excesso na natureza.
A maior parte das formas nitrogenadas adicionadas ao solo pela agricultura acaba sendo lixiviada para corpos aquáticos, gerando uma série de conseqüências para estes ecossistemas. Além do aumento da emissão de N2O, a fertilização de rios, lagos, lagoas e estuários pode gerar uma grande perda de biodiversidade (pelo processo de eutrofização artificial), chuva ácida, dentre outros.
Um número que nunca consegui realmente entender é a eficiência do uso de fertilizantes na agricultura. Qual porcentagem de nitrogênio que adicionamos ao solo seria razoável terminar nas plantas? 90% ? 80% ? Na verdade, o número mais correto seria próximo a 35%, em plantas muito eficientes na absorção de nitrogênio. Se vocês querem mesmo ficar assustados, a eficiência da fertilização por nitrogênio em ração de gado é ainda mais baixa. Cerca de 6% do nitrogênio adicionado a ração chega a carne do gado.
Desta forma, o papel do nitrogênio tanto na mídia quanto em trabalhos científicos tende a aumentar cada vez mais. Um artigo do New York Times do começo deste mês trata muito bem deste assunto, entrevistando cientistas muito destacados na área do ciclo do nitrogênio como Vitousek (ecólogo da universidade de Stanford) e Galloway (professor da universidade de Virginia).
Espero que tenham gostado deste post. Com certeza este assunto estará de volta em pouco tempo.
Olá Rafael,Muito obrigado pelo elogio. Espero escrever mais posts sobre o assunto.Como eu disse no post e o artigo do NYT trata, com certeza o gás mais recorrente na mídia é o CO2. Mas tenha certeza que o N2O aparecerá em breve nos noticiários devido ao potencial de emissão vindo das grandes monoculturas para produção de biocombustíveis. Em um próximo post traterei do tema, inclusive indicando ótimos artigos relacionando a produção de cana e o grande aumento da emissão de N2O.Quanto a fertilização, tenha certeza que a menina dos olhos de grandes institutos de pesquisa como a EMBRAPA é como aumentar a eficiência de manutenção das formas nitrogenadas no solo. Esses estudos se baseiam tanto na menor taxa de lixiviação destes compostos como em diminuir as taxas de desnitrificação (respiração do nitrado, sendo convertido em N2, que é gasoso) que também tem grande contrubuição para a diminuição desta eficiência.Obrigado pelos comentários e pela visita.Abraços.
Olá LuizPrimeiramente parabéns pelo texto. Não é muito comum encontrarmos bons posts sobre o tema em português.Embora você afirme que o N2O seja potencialmente 300 vezes mais prejudicial, resta saber qual a concentração que de fato acarrete alguma conseqüência danosa. Talvez ainda não seja grande o suficiente para mostrar preocupação imediata, ainda mais que "a menina dos olhos" para os ambientalistas atualmente é o CO2.Quanto à fertilização do solo, entendo que o grande problema atualmente é conceitual. Não basta a aplicação de compostos nitrogenados ao solo, é preciso que esse nitrogênio esteja disponível ao metabolismo vegetal. E aí que é o grande problema. A agricultura convencional não dá grande importância às simbioses da cadeia do nitrogênio e em alguns casos é falta de tecnologia mesmo. Maior quantidade do composto no solo nem sempre resulta em melhores rendimentos em produtividade.Espero que você esteja certo quanto ao aumento do papel do nitrogênio. Principalmente em pesquisas que resultem na redução do seu uso e melhor aproveitamento do que existe.Um Abraço,Rafael