consenso
con.sen.so
sm (lat consensu) 1 Anuência, consentimento. 2 Acordo.
Para mim, a união das palavras “consenso” e “ciência” é muito difícil. Concordo com o João, do Crônica da Ciência, que um consenso científico seria “(..) um conjunto de teorias ou teoria que a maioria de cientistas de uma determinada área suporta como sendo as melhores nessa mesma área, num dado momento”. O problema neste caso, está relacionado a como este “consenso” é transmitido para o público geral. Sendo assim, toda e qualquer notícia relacionada a estudos científicos deve ser encarada não como uma verdade absoluta, mas como um argumento, uma idéia, que pode ser mais ou menos plausível, dependendo do caso.
Como já falei
aqui no blog, um pesquisador grego revelou este ano que um terço de estudos publicados em periódicos como
Science e
Nature foram refutados por outros estudos em uma pequena escala de tempo. Notícia bombástica? Não. Apenas uma mensuração de como o “consenso” científico é algo mutável. A menos de duas semanas atrás, o periódico de grande prestígio
PNAS publicou um
artigo que coloca esta discussão em um novo patamar. Umas das mais importantes premissas do IPCC foi questionada, mostrando que nem um dos maiores “consensos científicos” atuais pode ficar isento de críticas.
“Um papel para o CO2 atmosférico em uma forçante climática pré-industrial”. Fonte: PNAS
Este artigo mostra dados baseados em análise de freqüência estomatal em fósseis de plantas. Há uma relação inversa entre número de estômatos presentes nas folhas em fase de crescimento e a concentração de CO
2 atmosférico da época em que elas estavam vivas. Segundo os autores, a variação da concentração de CO
2 na atmosfera no último milênio apresentou uma variação significativa (34 ppm), três vezes maior do que o último
relatório do IPCC de 2007 defendia (12 ppm). Como foi uma variação que ocorreu em um período pré-industrial, esse valor ser significativo seria um indício que mudanças consideradas “naturais” poderiam ser relevantes
na concentração de CO2 atmosférica. O último relatório do IPCC argumentava que esta variação era muito pequena, portanto não significativa. O artigo na
PNAS argumenta que a emissão de CO
2 causada por fatores considerados “naturais” podem equivaler a 30% do aumento na concentração de CO
2 causado por seres humanos, fato que está longe de ser não significativo.
Quebra de paradigma? Ainda não sabemos. O IPCC baseia grande parte de seus dados de concentração de CO
2 em registros de cores de gelo, sendo uma metodologia bem diferente do artigo na
PNAS. Esta é parte emocionante da ciência. Nem Darwin está imune à críticas, como diria
Carl Woese.
Referência:
van Hoof, T., Wagner-Cremer, F., Kurschner, W., & Visscher, H. (2008). A role for atmospheric CO2 in preindustrial climate forcing Proceedings of the National Academy of Sciences, 105 (41), 15815-15818 DOI: 10.1073/pnas.0807624105
Olá João. Acompanho seu blog por RSS. Obrigado pela visita!Quanto a pergunta. Sem dúvida. Este é o principal argumento do pessoal do Design inteligente. Procuram "falhas" em qualquer trabalho ligado a teoria da evolução para tentar refutar a teoria como um todo. Acho que isso faz parte do mecanismo de auto-correção da ciência. Sem a incerteza a ciência passaria a estar próxima da religião. Abraços
Boas!Descobri o vosso blogue porque voces me descobriram a mim.Bom post. O problema é que ha sempre quem queira tirar partido da incerteza cientifica. Isso não voz incomoda? Tenho dedicado os ultimos posts a esse assunto.joao
Adoro discussões sobre a própria ciência! O pior é que em determidadas áreas falamos apenas do positivismo, ou em nome dele, e esquecemos que a própria ciência possui diferentes concepções... Muito bom o post! Parabéns por falar de forma quase didática algo que não é tão simples e muito menos óbvio!!!