“Eu nunca vi nada parecido. Elas dissolveram durante a noite”
Paul Falkowski,
comentando sobre microalgas que ele deixara no laboratório em frascos de cultura na noite anterior
Na verdade, este grande mistério está mais perto de ser resolvido. Em um artigo de maio deste ano na revista nature, Nick lake nos conta que os principais mecanismos responsáveis pelo início do processo de morte programada em algas eucarióticas está ligado a radiação ultravioleta, limitação por dióxido de carbono, deficiência de ferro e infecções virais. Todos fatores ligados ao estresse destes organismos. Blooms de microalgas podem gerar este estresse (muitas algas respirando e se reproduzindo causam um deficit de luz, oxigênio e dióxido de carbono), liberando determinados compostos que funcionam como um gatilho ao processo de “suicídio celular”. Mas o que as algas ganhariam com a sua morte? Haveria algum ganho para a população de forma geral?
A resposta está na relação destas algas com vírus. Vírus são muito abundantes em oceanos e ambientes aquáticos em geral e as microalgas são seus alvos recorrentes. Para os vírus, a morte progamada das algas seria muito ruim, já que eles precisam delas para se reproduzir. Para uma população de algas, a morte de alguns indivíduos dentre milhões seria mais vantajoso. Desta forma, o mecanismo de morte programada mataria apenas as algas infectadas, impedindo a proliferação dos vírus. Pensando em termos evolutivos, temos uma verdadeira corrida armamentista entre microalgas e vírus, em busca de um maior sucesso reprodutivo. Vírus podem “desligar” este mecanismo, evitando assim a morte programada das algas.
A morte programada de organismos unicelulares não seria um “suicídio celular”, mas sim um assassinato de alguns indivíduos em prol de toda uma população. Com certeza, a fronteira tão demarcada entre altruísmo e egoísmo defendida por Dawkins, pode apresentar-se um pouco borrada quando pensamos neste exemplo dado pelas microalgas marinhas.
Referências
Lane, N. (2008). Marine microbiology: Origins of Death Nature, 453 (7195), 583-585 DOI: 10.1038/453583a
Valeu pelo elogio p.b.a. Adicionei o rss do portal aqui na barra lateral do blog.Abraços.
Muito legal esse espaço de divulgação de ciencias ecologicas.Parabéns Luiz.Vou me inscrever no seu feeder e colocar um link lah no portal!!!Abraço.