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Se pensarmos só em números relativos, podemos dizer que sim. No mês de setembro deste ano foi registrado uma cobertura de 4,67 milhões de Km quadrados, 9% maior do que em Setembro de 2007, quando o gelo cobria uma área de 4,28 milhões de Km quadrados. Segundo pesquisadores do NSIDC (centro de pesquisa americano sobre neve e gelo), o ano de 2008 só não quebrou o recorde de 2007 devido a condições regionais que favoreceram a manutenção da camada de gelo. Estas condições seriam: temperaturas mais baixas que em 2007, mas ainda mais altas que a média; maior nebulosidade que protegeu o gelo do derretimento; um diferente padrão de ventos que espalhou parte do gelo, resultando em números mais elevados de cobertura. De forma simplificada, os pesquisadores registram que a variabilidade natural de padrões climáticos de curta escala de tempo evitou que um novo recorde de cobertura mínima fosse batido.
Pensando em uma escala temporal mais ampla, mesmo apresentando uma recuperação em 2008, a cobertura de gelo no ártico ainda está bem abaixo da média. Desde que as medidas por imagens de satélite começaram a ser feitas em 1979, a cobertura de gelo no ártico apresentou o segundo recorde negativo no ano de 2008, perdendo apenas para 2007. Estes resultados são bem representados no gráfico abaixo.

Clique no gráfico para ampliar. Fonte: NSIDC

Outra medida importante da quantidade de gelo no ártico é a espessura. A recuperação da extensão da camada em 2008 ocorreu principalmente pelos chamados “gelos recentes”, mais finos que os mais antigos. O gráfico abaixo mostra o aumento da cobertura da camada de gelo mais nova (em vermelho) e uma diminuição da camada de gelo mais antiga (em amarelo).

Clique no gráfico para ampliar. Fonte: NSIDC

Colocando as medidas feitas todos os anos desde 1979 em um mesmo gráfico, temos uma forte tendência de queda na extensão da camada de gelo no ártico.

Clique no gráfico para ampliar. Fonte: NSIDC

Mesmo sendo contra a utilização de forma sensacionalista do ártico como símbolo do aquecimento global, acho que o padrão de diminuição da cobertura da camada de gelo é significativo. Sendo causado ou não pelo aumento antrópico de gases estufa na atmosfera como é discutido por céticos climáticos, acho que pegar a recuperação na extensão de gelo em 2008 como se fosse um argumento forte de que o aquecimento global não existe é forçar um pouco a barra. Como sempre em ecologia, olhar tendências em maior escala de tempo nos mostra padrões que olhando apenas uma variação entre meses ou anos podem esconder.


Mais sobre este assunto em uma reportagem da Nature e em um comunicado oficial do NSIDC.


Update
(17/10/08 – 19:23)

Registrado aumento de temperatura recorde no ártico

No relatório anual do ártico feito por pesquisadores do orgão americano NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) foi registrado um aumento recorde de 5 graus celsius acima da média nesta região. A justificativa deste aumento deve-se a maior perda da cobertura de gelo nos últimos dois anos, que facilitou a maior penetração de calor do sol no oceano. O ano de 2007 foi considerado o mais quente desde a década de 1960, quando se iniciaram as mensurações. Mais informações neste comunicado oficial do NOAA.