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Jean Baptiste Lamarck: “Eu já sabia!”. Crédito: wikipedia

“Evolução coletiva” é uma expressão cunhada por Carl Woese em um artigo de 2006. Ela refere-se a influência da transferência horizontal de genes em microorganismos no processo de evolução como um todo. Este mecanismo não-darwiniano pode transferir genes sem o artifício da reprodução (transferência vertical), sendo muito comum em bactérias e archea. A introdução destes conceitos na teoria da seleção natural sempre foi muito controversa e, depois do artigo publicado na última PNAS, ficará ainda mais interessante. Como todos sabemos, a transferência lateral de genes é restrita a microorganismos, não é? Bem, talvez não tão restrita assim. Segundo John Pace II e colaboradores, este mecanismo pode ocorrer até em mamíferos.

No artigo intitulado “Transferência horizontal repetida de transposons de DNA em mamíferos e outros tetrápodos”, John Pace II e colaboradores compararam seqüencias de transposons (segmentos de DNA) de vários animais, incluindo ratos, morcegos e até marsupiais. De forma surpreendente, os pesquisadores encontraram seqüencias idênticas em 8 espécies de animais. Como estes grupos não são diretamente relacionados na árvore filogenética, como que estes segmentos de DNA altamente conservados foram trocados entre estas diferentes espécies? Segundo Cédric Feschotte, um dos co-autores do trabalho, o mecanismo mais provável que seria responsável por essa transferência horizontal de trechos de DNA seriam as infecções virais. Como estes trechos de DNA seriam introduzidos nos animais estudados através de vírus, os autores do artigo deram o nome sugestivo de SPIN (space invaders) aos transposons.

Bem, se ainda existiam alguns resistentes a rediscutir Lamarck, acho que agora não resta mais motivos para isso. Tenho certeza que mecanismos evolutivos não-darwinianos agora ganharam um novo argumento.

O blog RNAse Free comentou a parte genética do assunto.