Capa do relatório da FAO. Sensacionalista? Não, que isso…
“O setor do gado é um importate protagonista, responsável por 18 porcento das emissões de gases de efeito estufa. Isso é uma parcela maior que o setor de transporte.”
Pronto. Para que ler o resto do relatório? Tenho certeza que todos podem entender a força de uma frase com este tom, escrita por um orgão da ONU, na mídia mundial. Uma bomba. Agora esta informação virou uma verdade absoluta. Ninguém vai questionar. Tem a chancela da ONU! Bem, como neste blog nós somos chatos críticos, vamos questionar sim. Vamos começar com uma pergunta simples. O que é gado?
gado1
sm (do ant gãar, do gót ganan) 1 Animais, geralmente criados no campo, para serviços agrícolas e consumo doméstico, ou para fins industriais e comerciais. 2 Rebanho. 3 ch Meretriz. G. asinino: o que compreende os asnos. G. bovino: o que compreende vacas, bois e novilhos; também chamado gado vacum. G. caprino: o que compreende as cabras. G. cavalar: o que compreende os cavalos; também chamado gado eqüino. G. de bico: aves domésticas.
Muita gente acha que o termo “gado” refere-se somente ao gado bovino, que é, na verdade, uma subdivisão dentro de gado. O relatório não fala sobre essa divisão no resumo executivo, então 99% das pessoas não tem contato com este conceito, o que pode levar a um erro. Podemos tirar dados do próprio relatório que mostram que o papel da criação de outros animais pode ser bem relevante. Mas depois chegamos neste assunto. Vamos voltar a frase do resumo executivo. Alguém viu alguma citação? Claro que não. Elas estão todas juntas no final do relatório, em um capítulo aparte. Assim não podemos saber de onde cada dado é retirado. Mas podemos chegar a algumas conclusões. Como o relatório da FAO é de 2006, as citações de dados sobre aquecimento global restringem-se ao relatório do IPCC de 2001. O que nos mostra que este relatório já foi publicado de forma defasada. Em 2007, o IPCC publicou o seu relatório mais recente. Vamos dar uma olhada nestes números.
Participação dos diferentes setores na emissão antropogênica total de gases de efeito estufa em CO2 equivalente. Crédito: IPCC (quarto relatório, 2007)
Agora que vimos que a frase muito utilizada pela mídia do relatório da FAO deve ser considerada de forma menos enfática, vamos entrar no relatório em si. Como eu disse anteriormente, ele é bem completo e pode ser melhor utilizado. A tabela abaixo mostra como foi feito o cálculo do número mágico de 18%.
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O papel do gado na emissão de gás carbônico, metano e dióxido nitroso. Página 113. Livestock’s Long Shadow. Crédito: FAO
e me chamou muito a atenção foi a divisão entre o tipo de sistema (extensivo e intensivo) utilizado para a produção de gado. Para a obtenção do dado de emissão de cada GEE foi feita a soma do total de emissão de ambos os sistemas. O que é óbvio, pois se você que ter uma noção geral da emissão de GEE pelo gado do mundo temos que levar em consideração ambos os sistemas. Mas podemos ver la embaixo da tabela um dado interessante. Vamos ver mais de perto.
É isso mesmo que você está pensando. A emissão de GEE pelo sistema extensivo é mais que o dobro do sistema intensivo. E essa análise não para por aí. Além da diferenciação entre sistemas de criação de gado, o relatório também considera as grandes discrepâncias nas diferentes etapas do processo. e de qual tipo de animal estamos falando. Se considerarmos apenas as emissões diretas pela liberação de metano do sistema digestivo, o gado bovino pode ser considerado como líder. Mas e os nas outras etapas? O tratamento do esgoto gerado pela criação de animais pode ser uma importante fonte de gases de efeito estufa deste setor. Neste caso, a criação de porcos é a campeã em emissão de metano. A emissão dos porcos sozinha ultrapassa a emissão anual do gado bovino, em mais de 1 milhão de toneladas de metano (totalizando 8,38 milhões de toneladas de metano por ano).
Além desta análise mais minuciosa dos dados, o relatório da FAO apresenta dezenas de vias mitigadoras da parcela de emissão de gases estufa do setor de criação de gado. Eles dedicam um capítulo inteiro a este tema, chamado “Desafio político e opções”. Dentre elas, podemos citar: melhoria da eficiência dos sistemas de criação de gado, alteração da dieta dos animais, melhor sistema de tratamento do esgoto gerado, aumento do custo da água, solo e tratamento do esgoto (racionalizando o seu uso), etc.
Hoje em dia está cada vez mais na moda ser “verde”, pensar no meio ambiente. Mas quando fazemos isso de uma forma acrítica, podemos cometer erros tão grandes ou até piores do que os que não tem informação sobre o meio ambiente. Pensem em quantos erros já foram feitos em nome de uma boa causa. Alguém lembra de luta contra o “terrorismo”? Problemas existem, a criação de gado gera gases de efeito estufa em grande quantidade. Mas as vacas estão longe de serem terroristas. E muito menos os cangurus de serem “O” salvador.
eu de.tes.to. essa maneira agressiva dos vegetarianos e ecochatos de pensar "verde". sabe o q me deixa mais indignada? é q a maior parte dos q gritam, nao fazem idéia do q estao falando. e eles, q sao engajados, é q convencem os "leigos".
eu, sinceramente, nao vejo nenhum argumento melhor pra ser vegetariano do q o sincero "pq eu quero". falasse alguém assim eu respeitaria. todo o resto me irrita profundamente.
como vc apontou, existem alternativas pra pecuária extensiva [me pergunto qts hectares nao seriam gastos com plantacoes e mais plantacoes de coisas q a gente simplesmente joga fora pq nao digere.. isso me lembra a pirâmide de energia da escola], para a etapa de se sacrificar os animais [soube de indústria q matam a pregoadas com tiro de alta pressao. o bicho nao saabe nem da onde veio], a soja causa mts danos [isso nós brasileiros sabemos mt bem]... e, além disso, eu nao estou mt convencida dos "problemas" de saúde de se comer carne, até pq existem quilhares de tipos de carne e nem todas entopem artérias a torto e a direito.
enfim, eu queria msm era ver uma matéria destrinchando to.dos. os argumentos de ambos os lados. mas um estudo sério. até lá vou só achar q sao mais um tiopo de revoltados sem causa.
Olá Francisco,
Não sei se entendi bem a sua colocação, mas parece que você concorda com a nossa opinião.
Algumas explicações:
- O post do Breno não afirma que o ideal é não ter filhos. O post fala que o ideal é ter um controle da população pois boa parte dos nossos problemas ambientais são causadas por isso. O título é apenas bem humorado.
- Mudanças em pequenos hábitos sozinhas não causam o que você chamou de "desvio verificável nos impactos ambientais". O problema do discurso ambiental moderno é pregar que somente essa mudança pequena de hábito pode salvar o planeta. Você afirma que "nem toda a comunicação sobre ambientalismo é ruim". Eu concordo. Mas acho que esse "nem toda" pode ser alterado para "A grande maioria".
É para isso que estamos aqui. Questionar o que aparece na grande mídia e contra argumentar baseando-se na literatura científica.
Obrigado pela participação e volte sempre!
Ué, se você afirma que para salvar o Planeta o ideal é não ter filhos e consumir menos (sem soluções mágicas publici-otárias para desencargo de pseudoconsciência de terceiros em comerciais da Coca-Cola), então é preciso sim consumir menos água, energia, ou seja: DEVEMOS, DEVEMOS E DEVEMOS.
A não ser que todos os posts que refletem essa opnião acima, no blog, tenham sido feitas pelo Breno Alves, ou seja, ele não acha a idéia de consumir menos utópica na forma de mudanças comportamentais com efeito substâncial e científicamente verificado.
Esse devemos consumir menos água e energia não implica em desistir do oléo, obviamente. Significa otimizar processos e investir em tecnologias. Não adianta pendurar-se em medidas radicais ou que não possuem embasamento científico (feitas de puro marketing). Mas sim, enquanto se otimiza os processos e habitos dos recursos atuais, que tal pensar sim em mudar pequenos hábitos que realmente provocam um desvio verficável nos impactos ambientais e um desvio (impacto) cultural, fazendo com que um "awareness" ecológico, baseado em ciência (e não em pseudoconsciências pesadas e jogadas publicitárias)? Nem toda comunicação social sobre ambientalismo é burra/estúpida/extremista/contaminada!
Caro anônimo,Concordo plenamente com você. Não sou contra os vegetarianos. Sou contra a utilização de argumentos sensacionalistas para convencer todos de que ser vegetariano é o caminho ideal. Isso para mim é terrorismo ambientalista. E a soja? Não causa impactos?Como você pode ver pelo post, existem várias maneiras de se diminuir o impacto ambiental do gado. O que falta é vontade política. Também concordo com você quanto a diminuição do consumo de carne. Devemos também consumir menos produtos industrializados, usar menos água, menos luz, etc. Devemos, devemos....para mim tudo isso não passa de argumento utópico. A chave disto tudo está no aumento da eficiência da produção de energia, diminuição dos impactos das ferramentas atuais. Energias "limpas" são muito bonitas no papel, mas ninguém quer parar de usar óleo tão cedo.Na verdade mesmo, concordo com o meu amigo Breno. A chave dos nossos problemas ambientais está aqui: http://discutindoecologia.blogspot.com/2009/03/quer-salvar-o-planeta-nao-tenha-filhos.htmlSe quiser podemos discutir mais sobre o relatório em si. Acho que falei sobre as partes principais no post.Abraços.
Boa tarde Luiz Bento,acho que pro "A + B" você provou o que o relatório trata.Acho que podemos discutir sobre alguns dados estatísticos, que você chama de sensacionalista, mas o seu post termina com a "conclusão" mais importante disso tudo: a criação de gado é nociva ao meio ambiente, e para não existir equivoco, os bois, as vacas, os porcos e outros animais utilizados para nosso consumo, não são culpados de nada (os pobrezinhos já são comidos por nós e ainda querem botar a culpa do fim do mundo neles?!), mas é indiscutivel que a população de gado atualmente não é natural, nós os cultivamos e para nós quanto mais melhor!Precisamos compreender que esse modelo de dieta que adotamos atualmente, comendo carne em todas as refeições, não é sustentável. Apenas isso...Sou vegetariano, mas entendo que cada um tem seus motivos para comer ou não comer carne,o que defendo é a redução do consumo de carne.Motivos para isso: Pelos pobres animais, Pelo meio ambiente, pela saúde, pela questão da fome no mundo...se esquecí de algum, me avisa?!abraço