Podemos resumir esta questão pensando em uma razão muito utilizada por ecólogos. A razão entre produtividade primária e biomassa em um ecossistema, a famosa razão P/B. Em um estágio inicial da sucessão ecológica a tendência é que um ecossistema apresente uma alta razão P/B, devido a maior quantidade de plantas pioneiras que apresentam uma menor biomassa em relação a sua taxa fotossintética. Já em um estágio mais avançado da sucessão a razão P/B tende a diminuir, pois as plantas tardias passam a dominar com sua grande biomassa não-fotossintetizante. Desta forma, a teoria da neutralidade das florestas maduras parece a mais correta. Florestas maduras são dominadas por plantas tardias, tendo uma baixa razão P/B. Assim a taxa de respiração total do ambiente seria tão alta como a taxa fotossintética, resultando em um consumo interno de todo o oxigênio produzido. Será que a prática corrobora a teoria?
Pelo título do post parece que estou defendendo a analogia do pulmão do mundo. É claro que ela está errada em princípio. Mas a explicação do professor de biologia de colégio e a teoria da razão P/B que citei acima pode estar sendo muito simplista. Hoje sabemos que a maior produção líquida de oxigênio é creditada as microalgas, mas será que as florestas antigas não podem também colaborar com este balanço positivo? A teoria de neutralidade das florestas antigas em relação ao ciclo do carbono recebeu uma forte crítica em Setembro do ano passado no periódico Nature. Vamos tentar entender este ponto de vista.
É claro que não devemos extrapolar os dados desta copilação. Mesmo sendo bastante significativa (519 trabalhos copilados), os dados são referentes apenas a florestas boreais (30%) e florestas de clima temperado (70%). Os dados referentes a florestas tropicais disponíveis para a copilação eram apenas 12 e foram descartados pelos autores devido ao baixo número. A maior média (ou mediana, depende) de temperatura e umidade (dentre outras peculiaridades) das florestas tropicais provavelmente poderiam alterar o resultado publicado. Mas, com certeza, um estudo com um n amostral desta magnitude não pode ser desconsiderado.
Cerca de 30% das áreas de floresta do mundo são consideradas primárias e, sendo assim, antigas. As florestas antigas boreais e de ambientes de clima temperado sozinhas podem ser responsáveis por até 10% da produtividade líquida global. Além do carbono acumulado durante séculos, tanto no solo como em biomassa viva, a importância das florestas antigas como fixadoras de carbono não pode ser negada. Mesmo sendo desconsideradas pelo protocolo de quioto, o artigo da Nature mostra que devemos conservar estas florestas pelo que elas são hoje e não apenas pelo que elas acumularam ao longo do tempo. Desta forma, não subestime quem diz que a amazônia é o pulmão do mundo. Ele pode estar usando uma analogia errada, mas não está tão longe da verdade.
Referência:
Luyssaert, S., Schulze, E., Börner, A., Knohl, A., Hessenmöller, D., Law, B., Ciais, P., & Grace, J. (2008). Old-growth forests as global carbon sinks Nature, 455 (7210), 213-215 DOI: 10.1038/nature07276
Update – 14/02/09 – 10:01
Não deixem de ler o comentário/post feito pelo Saci, do blog do pessoal da ecologia do Inpa. Deixei também um comentário no post dele, continuando a discussão. Muito obrigado pelo complemento de qualidade Saci.
Desculpa, mas provar que as florestas não saõ neutras (e concordo que elas não são, que de fato há uma produtividade ali, porém BAIXA) é uma coisa. Mas os oceanos continuam sendo a grande fonte de contribuição
q coisa
eu acho q pode ser sim o pumão do mundo + ainda não é
eu acho que é o pulmao do mundo sim por ser um local de biodiversidade
eu acho que é o pulmao do mundo sim por ser um local de biodiversidade
nadave
acho que é o pulmao do mundo sim
sempre saube que amozonia nao era o pulmao do mundo em 1999 tive varias dicusoes com professores de geografia agora sim sei que sempre tive certo
Gostei do seu estudo. Atualmente as pessoas aceitam qualquer coisa que é publicada sem aprofundamento.
Aqui você tem um grande trabalho.
Temos que levar em conta também que as folhas das florestas antigas precipitam ao solo a fuligem que se acumula em suas folhas permitindo assim a renovação do ar.
Obrigada.
Olá Oliver,
A interface entre ecossistema aquático e terrestre é realmente complicada. Nem toda a matéria orgânica liberada pela floresta vai para o rio e nem toda a matéria orgânica que chega ao rio será sequestrada pelo oceano.
Outra questão é que devemos considerar a decomposição anaeróbica da matéria orgânica. A conversão de oxigênio para gás carbônico não é 1:1. Dependendo do sistema essa razão pode ser bem diferenciada...
Abraços e obrigado pelo comentário.
Há outra questão não considerada. Como sabemos, pensando no ciclo do carbono, a floresta Amazônica produz uma pequena quantidade de biomassa que é levada pelo rio Amazonas e que é sedimentada no Oceano Atlântico e que provavelmente não sofre total decomposição nesse ecossistema, sendo assim, essa biomassa que não volta equivale a gás oxigênio na atmosfera que não será convertido novamente em gás carbônico. Logo...
olá Julia,
Na verdade não podemos considerar nenhum dos dois o pulmão do mundo. Este termo está errado. Quanto as algas elas são muito importante para a produção de oxigênio do mundo. Mesmo sendo pouco visíveis para nós, elas são responsáveis por metade da produção mundial de oxigênio. Então devemos tanto para as algas quanto para as árvores o nosso oxigênio de cada dia.
Abraços.
O meu professor de ciências discutiu com a gente sobre isso e disse que o "pulmão do mundo" não é a Floresta Amazonica, e sim, as algas do mar...
Adicionado ao post original. Boa discussão!
Luiz, como minha resposta não caberia aqui, deixei um comentário sobre esse post no blog da ULE. Só pra estimular a discussão!