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No final do último mês fiz um post bem extenso sobre os mecanismos químicos e biológicos que resultam na alteração de cor e na queda de folhas no outono. É um assunto muito interessante e bem controverso, pois existem muitas hipóteses sobre quais seriam os mecanismos responsáveis por este padrão marcante na natureza. A pergunta mais recorrente é “Porque uma folha teria um gasto energético para efetuar a troca de coloração, se a folha tende a cair?“. Uma das hipóteses mais interessantes (e mais controversas) para responder a esta pergunta relaciona a coloração das folhas e insetos que depositam seus ovos nestes vegetais. O outono é justamente a época do ano que os insetos (no caso os afídeos) procuram folhas para depositar os seus ovos. A cor vermelha seria uma espécie de sinal para os insetos de que as folhas desta planta teriam uma baixa qualidade nutricional. Desta forma, os insetos tenderiam a procurar plantas com folhas verdes, devido a esta pressão seletiva. Sendo uma hipótese relativamente recente, faltavam estudos que dessem suporte a este mecanismo coevolutivo. Mas como testar de forma eficiente esta hipótese? A ideia de Marco Andretti (o mesmo autor das revisões citadas no post anterior) foi utilizar uma alteração genética natural, realizada por centenas de anos pelos seres humanos. O seu trabalho foi publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B.

Apple Tree
Macieira. Crédito: Adam E. Cole

O teste ideal realizado por Andretti foi feito com macieiras. Ele comparou plantas frutíferas domesticadas com plantas semelhantes selvagens. Plantas domesticadas ainda sofrem pressão de parasitas, mas a sua reprodução não depende dos mesmos. Desta forma, se a coloração vermelha for um sinal moldado pela coevolução, o esperado é que este sinal seja mais comum em espécies frutíferas selvagens. Se a coloração fosse apenas um subproduto da senescência foliar, não haveria diferenciação entre as folhas de macieiras e das espécies selvagens.

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  Alteração da coloração das folhas no outono

O gráfico acima mostra a alteração das cores de folhas no outono de espécies selvagens (Barra 1), espécies cultivadas da Ásia central (Barra 2) e espécies cultivadas do Reino Unido. Enquanto que 62,2% das espécies selvagens mudaram a cor das suas folhas para vermelho, apenas 2,8% das espécies do Reino Unido seguiram este padrão. O autor consultou bases de dados dos EUA e viu que as espécies domesticadas americanas não ficaram muito acima, pois apenas 5% tiveram alteração de cor para vermelho. Estes dados mostram que as “cores de outono” não são apenas uma reação a diferentes condições ambientais. Elas foram perdidas devido a domesticação.  Tendo isso em mente, Andretti também testou a abundância e o fitness de insetos em folhas de cores diferentes. O resultado descrito no gráfico abaixo demostra claramente que os insetos evitaram as folhas vermelhas (red), preferindo as folhas verdes (green) e amarelas (yellow).

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Abundância e fitness de insetos (afídeos) em folhas de cores diferentes no outono

A cor é um sinal muito utilizado na natureza, como em flores para atrair polinizadores e em animais para defesa. Este pode ser mais um exemplo, que reforça a hipótese da coevolução para o caso da alteração da cor de folhas no outono.

Referência:

Archetti, M. (2009). Evidence from the domestication of apple for the maintenance of autumn colours by coevolution Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 276 (1667), 2575-2580 DOI: 10.1098/rspb.2009.0355