Escolha uma Página
aviao-guerra-verde.jpgCaça americano “verde”, movido a biocombustível. Nem tudo que é verde é bom, pelo menos para quem leva o tiro. Cédito: US Navy (via @Cardoso)

Muita gente acha que só pela adição de “Eco” antes do nome de um produto ou “verde” como seu adjetivo já caracteriza o mesmo como ambientalmente correto e sem qualquer tipo de dano ao meio ambiente. Como todas as outras mentiras que os ambientalistas contam visando manter o público aparentemente crítico em relação a influência do homem no ambiente, a história não é bem assim. Biocombustíveis de primeira geração como o etanol da cana-de-açúcar, o famoso Gás natural (que é combustível fóssil também, mesmo apresentando “natural” no nome) e o biodiesel podem apresentar problemas ambientais sérios e que muitas vezes são apresentados de forma, no mínimo, superficial. Vou falar hoje sobre o caso do Biodiesel que desde 2005 é adicionado ao diesel comum por uma lei federal.

Sérgio Machado Corrêa, pesquisador da Faculdade de Tecnologia e do
Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) fez um teste interessante. Como uma lei federal instituiu que deve haver uma mistura de biodiesel que pode chegar a até 20% (hoje está em 5%), ele resolveu testar como seria a emissão de poluentes atmosféricos destas misturas. As misturas testadas (2, 5, 10 e 20% de biodiesel) apresentaram melhorias em relação a emissão de hidrocarbonetos aromáticos (como o benzeno) e de gases sulfurados (que contém enxofre). O resultado do segundo grupo é um pouco óbvio, já que o biodiesel não contém enxofre. Além disso, já existe um programa do CONAMA desde 2002 que visa a diminuição gradual do enxofre do diesel comum. Desta forma, a diminuição da emissão de gases sulfurados já deve diminuir gradualmente com essa medida, sem a mistura de biodiesel.

No terceiro grupo de gases mensurado nos testes o resultado foi interessante. A emissão de carbonilas (cetonas e aldeídos) aumentaram em todas as misturas, chegando até a um aumento de 40% na mistura B20 (20% de biodiesel). Um dos principais efeitos do aumento da emissão deste grupo de gases é o aumento da formação do gás ozônio. Mas então podemos ficar tranquilos, pois a camada de ozônio protege os seres vivos dos raios UV, não é? Sim, mas quando esta formação ocorre na troposfera (camada próxima a superfície da Terra) ele tem efeito nocivo, causando reações como intoxicação, edemas pulmonares e diminuição da capacidade pulmonar. O efeito negativo não é só para os seres humanos. Um aumento da concentração de ozônio pode causar necrose dos tecidos internos das plantas.

Uma das conclusões do pesquisador após este estudo é que “A engenharia mecânica desses veículos não é adaptada para funcionar com
biodiesel e, com o tempo, esse combustível cria um depósito no motor
que lhe diminui a vida útil
“. Uma questão bem lógica. Fazemos com que seja feita uma adição de biodiesel por decreto ao diesel comum, mesmo sabendo que os motores não estão adaptados a este tipo de mistura? Diminuir a vida útil do motor pode fazer com que ele tenha uma combustão ainda mais ineficiente, aumentando a emissão de gases poluentes. E isso sem pensar que ele precisaria ser substituído mais cedo, gerando mais gasto e emissão para a produção de mais motores. Se a diminuição da emissão relativa de gases estufa pela adição de biodiesel ao diesel comum pode ser questionada (se pensarmos no balanço de carbono de todo o ciclo de produção e refino do biodiesel), a emissão de poluentes comprovada por este estudo torna o problema ainda maior. Claro que problemas como o chamado “carbono negro” podem ser diminuídos com o uso de biocombustíveis, mas temos que pensar melhor antes de utilizar esta ferramente de forma indiscriminada.

Na minha opinião grande parte do problema seria resolvido se investíssemos mais em racionalização do sistema atual. Mais dinheiro para pesquisa visando aumento da eficiência dos motores, estímulo a venda de carros menos poluentes, taxação de carros beberrões. Medidas simples, mas que podem ter resultados consideráveis. O uso indiscriminado de biocombustíveis pode trazer mais problemas do que soluções em muitos casos. Ainda mais quando são feitos decretos e leis proclamando o uso sem estudos completos sobre cada caso. Ter prefixo “Eco” ou ser chamado de “natural” ou “verde” não é sinônimo de ambientalmente melhor.

Fonte: Agência FAPERJ