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Gostaria de repartir com vocês uma carta publicada na periódico Science no último dia 16 de abril. Andrew Beattie e Paul Ehrlich criticam um editorial publicado no mesmo periódico no dia 5 de março, intitulado “A Biodiversidade é nossa vida”. Este editorial foi escrito por Julia Marton-Lefèvre, diretora geral da ONG suíça International Union for Conservation of Nature.

“O elo que falta na Conservação da Biodiversidade

O editorial de J. Marton-Lefèvre intitulado “A biodiversidade é a nossa vida” (5 de Março, p. 1179) não aborda o elo que faltava em recursos para a conservação da biodiversidade. Os conservacionistas têm duas mensagens para o público: (i) a perda de biodiversidade é trágica por causa da iminente extinção de espécies carismáticas de mamíferos, aves, anfíbios e plantas, e (ii) a biodiversidade é importante porque contribui para os serviços ecossistêmicos. Visivelmente ausente desses conceitos aparentemente díspares é a conexão entre eles: os muitos milhões de espécies nos diversos filos de invertebrados e micróbios, que representam talvez 95% do total das espécies e da biodiversidade genética. Estas espécies são menos propícias a ganhar a simpatia do público do que um sapo ou falcão, mesmo assim são elas (além de plantas) que mantêm a agricultura, silvicultura e pesca, os mesmos serviços ecossistêmicos que nos esforçamos muito para proteger, por mediação química do solo e geração de cadeias alimentares marinhas. Essencialmente, estas espécies também suportam as mais carismáticas. Podemos ligar os pontos para o público com uma nova mensagem, uma que nós gostaríamos de chamar de “biodiversidade produtiva”: Ao proteger os micróbios e invertebrados, também protegemos as indústrias de base sobre a qual todos nós dependemos.”

Achei muito interessante esta carta pois ela trata de um tema já discutido aqui no blog no post “Salvem as lampreias!“. Muitas vezes o discurso dos ambientalistas se torna vazio por tratar apenas das espécies mais “simpáticas”, como ressaltados pelos autores da carta. Muitos dizem que é a maneira mais fácil de atingir ao público, mas nem sempre o mais fácil é o mais duradouro, o que realmente mudará a concepção das pessoas. Outros passam a mensagem de devemos salvar todas as espécies pois todas elas tem um valor intrínseco (discuti um pouco deste tema no Podcast do SBBr sobre o incêndio no Instituto Butantan). Claro que todas as espécies tem o direito de viver, mas uma discussão sobre conservação das espécies que tem como base o valor intrínseco acaba perdendo o sentido já que não podemos salvar todas as espécies.

Na minha visão a carta tem o seguinte significado: devemos investir em educação das pessoas sobre a real importância ecossistêmica das espécies. Assim todos compreenderão que muitos organismos que a maior parte do público nem conhece tem um valor ecossistêmico muito mais alto do que os bonitos e fofos ursos panda, urso polar, micos, araras…

Sem entender a real importância da biodiversidade para o funcionamento dos ecossistemas a “consciência ecológica” do grande público é passageira, como qualquer outra moda.

Referências:

Beattie, A., & Ehrlich, P. (2010). The Missing Link in Biodiversity Conservation Science, 328 (5976), 307-308 DOI: 10.1126/science.328.5976.307-c
Marton-Lefevre, J. (2010). Biodiversity Is Our Life Science, 327 (5970), 1179-1179 DOI: 10.1126/science.1188424