Na bela tarde gelada deste último domingo por algum motivo que eu não me lembro se iniciou uma discussão no twitter sobre o uso do termo “Evolucionismo”. Segundo a @mariaguimaraes:
Minha resposta a esta colocação foi de que eu discordava deste posicionamento, que “Evolucionismo” era um termo popular para se designar o conjunto de ideias que formavam a base da Teoria da Evolução. O @uoleo também deixou sua opinião sobre o assunto, concordando com a @mariaguimaraes:
Como o espaço no twitter é bem limitado, resolvi chamar um amigo da minha biblioteca para dar sua opinião de forma mais prolixa do que 140 caracteres sobre este assunto:
“A maneira como o Darwinismo é compreendido depende muito da experiência e do interesse do observador. A palavra tem significados diferentes para um teólogo, para um Lamarckista, para um Mendeliano ou para um evolucionista moderno. Uma outra dimensão que contribui para a diversidade de opinião sobre o significado do Darwinismo é a geografia: a palavra “Darwinismo” tem significados um pouco diferentes na Inglaterra, na Alemanha, na Rússia e na França. Desde o começo (…) as teorias de Darwin estavam em oposição a um número de ideologias tais como o essencialismo, o fisicalismo, a teologia natural e o finalismo, cuja força variava de um país para o outro. Para os defensores de uma ou de outras dessas ideologias, a palavra “Darwinismo” significa o oposto de suas próprias crenças.
(…)
Darwinismo enquanto Evolucionismo
O evolucionismo era um conceito estranho aos fisicistas, não somente por rejeitar o essencialismo, mas também por aceitar o elemento histórico tão conspicuamente ausente das ideias fisicistas do século dezenove. Influências históricas eram igualmente estranhas a todos os filósofos vindos da lógica ou da matemática. Foi Charles Darwin quem tornou o pensamento evolutivo uma ideia respeitável dentro da ciência. Todavia não seria certo se referir ao evolucionismo como Darwinismo. O pensamento evolutivo já estava bem disseminado quando Darwin publicou a Origem, particularmente na linguística e na sociologia. Na biologia também, graça a autores como: Buffon, Lamarck, Geoffroy, Chambers, e diversos autores alemães. Darwin, definitivamente, não foi o pai do evolucionismo, mesmo merecendo tal designação.
(…)
Darwinismo enquanto Uma Nova Visão de Mundo
J. C. Greene (1986) tem sugerido, assim como outros historiadores das ideias, que o sufixo –ismo deveria ser usado apenas para designar ideologias, e não teorias científicas. Eu concordo com Greene; entretanto, existem teorias científicas que se tornam pilares importantes de ideologias, como é o caso do Newtonismo e o mesmo podemos dizer do Darwinismo. Alguns dos mais importantes conceitos de Darwin. como a evolução variacional, a seleção natural, a interação acaso & necessidade, a ausência de agentes sobrenaturais na evolução, a posição do homem no reino da vida e muitos outros, não são apenas teorias científicas, mas também importantes conceitos filosóficos e caracterizam novas visões de mundo que incorporam esses conceitos. Portanto, eles têm a sua legitimidade tanto na ciência como na filosofia, o que justificaria o uso de um sufixo –ismo.
Fica registrado a opinião de um grande evolucionista. Para mais uma defesa do termo “Evolucionismo” recomendo a leitura do Manifesto de lançamento da rede Evolucionismo, criada por Eli Vieira.
Acho que tem mais uma doutrina científica (um ismo) que não era científica até depois de Galileu: o Heliocentrismo.
Vale lembrar que, dado que o modelo de Tycho Brahe explicava igualmente os dados, e dado que a ausencia de paralaxe estelar observável era um forte argumento contra o modelo Heliocentrico, o Heliocentrismo era uma hipótese no tempo de Galileu (da mesma forma que o modelo de Tycho), inspirada por uma longa tradição filosófica desde Aristarco de Samos e não uma teoria com evidências acima de qualquer dúvida razoável... A falta de paralaxe observável era um argumento fortíssimo a favor do modelo de Tycho Brahe, e a idéia de que as estrelas estavam muito distantes para se observar a paralaxe era uma hipótese ad hoc.
http://en.wikipedia.org/wiki/Heliocentrism
Ótimo, tentarei reproduzir o comentário.
Leo disse:
"Que a Marina é criacionista não tenho dúvida, isso de "teach the controversy" faz parte da estratégia ID/criacionista, é o que lhes sobrou. Basta procurar por "Wedge Strategy" no google."
Leo, examine com cuidado a entrevista de Marina para o reporter adventista criacionista. O reporter tentou induzi-la a aprovar o criacionismo, mas Marina, polidamente, inverte o argumento criacionista: Marina argumenta que, dado que as escolas confessionais adventistas ensinam o criacionismo (isso é permitido pelo Ministerio da Educação para as escolas confessionais), elas deveriam ensinar também o evolucionismo, senão nao estariam dando um ensino plural mas sim induzindo os alunos à aceitacao do criacionismo.
É por isso que ela cita a Biblia (para conversar com esses caras vc precisa argumentar usando a Bíblia): "devemos examinar todas as coisas e reter o que é bom", ou seja, mesmo que o Darwinismo tenha sido tachado de anti-cristao pelosw fundamentalistas, devemos examiná-lo e rete-lo em vez de descartá-lo, ou pelo menos permitir que as criancas adventistas tenha a opção de escolha.
Marina nada diz sobre o ensino do criacionismo cientifico nas escolas publicas. Ou melhor, ela nao aceita isso, por dois motivos:
1. Ela pertence à Assembléia de Deus, uma igreja que nao defende o criacionismo ou o ID;
2. Toda a formacao teologica de Marina vem da Teologia da Libertacao (ela é grande amiga de Leonardo Boff), que é uma teologia progressista, nao literalista e nao criacionista.
Todas essas observações sao confirmadas pela recente entrevista de marina à revista Isto É, que pode ser vista aqui:
http://comciencias.blogspot.com/2010/06/marina-ciencia-e-religiao.html
Assim, quem diz que Marina é criacionista nao entende o significado do termo. Criacionismo é uma tentativa de criar uma argumentacao cientifica para defender a ideia de um Deus criador. Marina reconhece que a afirmacao "Deus criou o mundo" nao é científica, nao deve ser defendida cientificamente nem tem status cientifico para ser ensinada nas escolas, mas é apenas uma posicao filosofica.
Nao querer entender isso é apenas tomar uma atitude mesquinha, motivada politicamente, uma atitude passional (as vezes o ateismo é muito passional em vez de ser racional) que pode ser admissivel em militantes ideologicos mas que nao é recomendável a cientistas e pessoas que prezam a honestidade intelectual acima de tudo.
@Osame
Eu não deletei o seu comentário. Chequei o Spam e também não achei nada. Acho que deve ter dado algum erro.
Era para deletar as frases indelicadas, não o comentário todo! rs...
Em todo caso, tenho um exemplo de posição filosófica-científica que termina com ismo: Atomismo.
Durante vinte e cinco séculos ser atomista era uma posição filosófica, não científica. O Atomismo só foi aceito pelos físicos como uma uma posição acima de qualquer dúvida razoável em 1912, com as experiências de Perrin.
Vemos portanto que é possível ao cientista ter crenças filosóficas não demonstradas cientificamente, e que os melhores cientistas sempre as tiveram.
Prezado Luiz,
Em meu ultimo comentário, acho que você pode deletar as frases sobre desonestidade intelectual. Acho que foram indelicadas...
Obrigado,
Caro Luiz
As minhas muitas desculpas,por voltar a bater-lhe à porta,
mas esta coisa dos ismos mexe. E então,depois de mais algumas leituras,e conversas,e, também,mais alguma ponderação,que o tema é sério,estou em crer que os muitos Josés,e Joaquins,e outros que tais,dos muitos diversos cantos,e becos,deste muito variado mundo,eram capazes de simpatizar(aderir,não,que isso é muito complicado) com um ismo que lhes garantisse,e também a todos os seus,o pãozinho para a boca,com mais uns acrescentos,que a vida não é só papar,cá,aqui,agora e durante todo o sempre.
Renovando as minhas desculpas,desejo-lhe,caro Luiz,muito boa saúde.
Excelente discussão, e nada a acrescentar.
@maria
Não prefiro não...é que o assunto surge sempre, não sei porque 🙂
Quanto a entrevista de ontem eu vi uma parte sim. Acho que ela foi alterando o discurso, agora está mais cuidadosa. Vi 2 entrevistas dela depois daquele vídeo no congresso criacionista e nas 2 (inclusive uma no próprio roda viva) ela afirmava que era pessoalmente a favor do ensino tanto do criacionismo como do evolucionismo. Chamou criacionismo inclusive de ciência.
Não acho nem nunca achei que a Marina é a favor do ensino de criacionismo em escolas públicas. Mesmo já tendo havido casos de criacionistas que mudam de discurso e até tentam implementar isso (como foi a Rosinha no Rio), acho que a Marina é inteligente demais para perder tempo com isso. Acho que ela é criacionista sim, acho que ela pensa que seria melhor ter o ensino de criacionismo ao lado de evolução nas escolas, mas não é doida de querer implementar isso. Ela já disse várias vezes que é a favor do ensino plural, de darmos os dois lados da moeda, um tipo de liberdade de escolha para as crianças.
Eu pessoalmente acho isso errado. Isso não é um motivo para ela perder o meu voto, mas é uma informação importante. Fiquei muito chateado pela escorregada que ela deu ontem quando perguntaram sobre o seu plano para o setor de energia. Ela titubeou e não respondeu. Isso sim é um motivo para perder voto. Mas o melhor mesmo é aguardarmos a campanha começar pra valer e comparar os programas.
Abraços.
luiz, pensei que o que estivesse em discussão fosse o sentido do termo "evolucionismo".
mas se você quer falar de marina, você viu o roda viva ontem? ela repetiu o que tenho visto ela dizer, que é diferente do que você tem visto.
@Igor
Mayr defende o uso do termo Darwinismo ao invés de Evolucionismo pois ele acha que a contribuição de Darwin foi muito grande para o pensamento evolutivo. Para bons argumentos contra o uso deste termo recomendo o post do Takata citado acima.
Coloquei o texto do Mayr mais pela discussão sobre o -ismo que tem no final. Achei bem interessante.
Abraços.
FIquei confuso. O texto defende "darwinismo" ou "evolucionismo" como pilar para ideologia?
Eu também sou a favor de ensinar a controvérsia, mas desde que se aplique a tudo. Vamos ensinar a hipótese do miasma como transmissor de doenças, a existência do éter como meio por onde a luz flui e a tabela periódica alquímica (terra, água, fogo e ar), pois são "controvérsias" tão válidas quanto qualquer outra que alguém não-lobotomizado consiga inventar em vinte segundos.
Porque, como dizem por estas bandas, desmantelo só presta grande!
Eu também sempre me sinto desconfortável ao ver a palavra "evolucionismo", há uns tempos atrás compilei no meu blog menções de outros que criticam o uso do termo (o link deve aparecer junto com meu nome aí embaixo). Mas não é um termo proibido, claro, depende do contexto. E acho que depende do país também, aqui na Espanha também se usa bastante.
Que a Marina é criacionista não tenho dúvida, isso de "teach the controversy" faz parte da estratégia ID/criacionista, é o que lhes sobrou. Basta procurar por "Wedge Strategy" no google.
@maria
O ponto da questão está em que a Marina defende a ideia de ensinar lado a lado criacionismo e evolução. Tenho certeza que ela falou em entrevistas que aceita a teoria da evolução, mas ela sempre afirma que acha correto ensinar os dois "lados" para que as crianças decidam qual é o correto. Ela disse e reafirmou isso em várias entrevistas. Não acho que ela implementará isso em escolas públicas, mas não concordo com esta opinião pessoal dela. Essa é a questão.
Abraços.
eli, eu justamente não perguntei se evolutionism se traduz como evolucionismo. disse que diante do resto da tradução eu perguntaria, não fosse o contexto.
pelo que vejo estamos de acordo, de maneira que a agressividade do comentário 3 não deve ser dirigida a mim: quando se questiona se a marina silva defende o evolucionismo, não tem nada de insinuação de que ela não acredite na teoria da evolução. só quer dizer que ela talvez não aceite de forma entusiástica a evolução como maneira de ver o mundo. estou de acordo. mas aposto que a maior parte das pessoas não leria assim, por isso a minha preocupação em precisar os termos.
Respondendo à Maria, sim, a tradução para "evolutionism" é "evolucionismo", inclusive é a origem da palavra usada no português.
E está correta quanto a evolucionismo não ser sinônimo de teoria da evolução. Tanto quanto tabagismo não é sinônimo de tabaco.
Sobre o termo "darwinismo" minha opinião:
http://neveraskedquestions.blogspot.com/2009/11/cinco-razoes-para-rejeitar-o-darwinismo.html
[]s,
Roberto Takata
As palavras servem para resumir conceitos. Os conceitos antecedem as palavras em importância, por isso tentar estabelecer o conceito de "Evolucionismo" só pelo sufixo "ismo" é algo infrutífero, para dizer o mínimo.
Aqui na UFRGS alguns professores me perguntaram por que usar a palavra Evolucionismo para descrever a aceitação entusiasmada do modo de explicação presente na teoria da evolução, e também insinuaram que o nome pode remeter a uma doutrina ou sistema dogmático.
Minha resposta foi muito simples: o Evolucionismo é um sistema dogmático tanto quanto o são o TABAGISMO e o ALPINISMO.
As palavras nos servem, e não o contrário. Tabagismo é apenas o ato de fumar tabaco, alpinismo é apenas o gosto por subir em montanhas, e evolucionismo é apenas aceitação entusiástica da explicação evolutiva para a origem dos seres vivos e outras entidades naturais. Não tem nada de dogmático nisso, e um evolucionista pode listar inúmeros casos em que a explicação evolutiva falha e deve ser substituída por outros modos de explicação.
A vantagem de tomar a palavra evolucionismo é que ela já é corrente no vocabulário dos falantes do português, e vem sempre à tona quando o assunto é o criacionismo (este sim, além de ter sufixo ismo, é também uma doutrina dogmática).
A palavra nem sempre teve o significado que estamos colocando nela agora. Bertrand Russell, como todo bom filósofo que adora inventar neologismos, chamou a doutrina de Herbert Spencer de "evolucionismo" em vez do nome tradicional de "darwinismo social" no livro "Mysticism and Logic".
Talvez a intenção de Russell fosse afastar Darwin da doutrina lamarckista, progressista e segregacionista de Spencer (e este afastamento sempre existiu, apesar de Darwin ter tomado emprestado o termo "sobrevivência dos mais aptos" de Spencer). Claro que o que Russell quis dizer com Evolucionismo não é o Evolucionismo que estamos defendendo e sinonimizando com aceitação da teoria da evolução como ela é hoje.
Por fim, quero salientar denovo que é intelectualmente medíocre tentar adivinhar um conceito pela etimologia da palavra que rotula este conceito. Se valesse essa etimologia tacanha de dizer que evolucionismo é religião por causa do "ISMO", então é bom começarmos a procurar as igrejas dos 'tabagistas', 'alpinistas', 'alcoolistas' e 'cinistas'.
Além disso, se as palavras fossem senhoras das ideias, o contrário de mundo ainda seria "imundo" e pedir um "rabo de galo" num bar seria meio constrangedor.
ontem fiquei quebrando a cabeça tentando lembrar de alguma área da ciência (séria) que terminasse em "ismo". queria saber se o eco religioso que ouço no termo era injustiça minha. não encontrei.
li, por indicação do Luiz, o manifesto de lançamento da rede evolucionismo, indicado nesta postagem. descobri que o eli vieira não trata "evolucionismo" como sinônimo de "teoria da evolução". já justificou um pouco minha batalha contra o termo, que costuma ser usado como sinônimo.
agora o luiz me ilumina mais uma vez, desta feita com ajuda nada mais nada menos que do mayr. assim como mayr, concordo com o greene (pelo menos da maneira que o mayr o cita, nunca li greene).
mas vou me permitir discordar do mayr propriamente dito. newtonismo? darwinismo? não passa pela minha garganta. ele diz: "existem teorias científicas que se tornam pilares importantes de ideologias". tudo bem, mas os "ismos" continuam se referindo às ideologias, como explica o eli vieira. deixem, por favor, os ismos longe das teorias propriamente ditas!
e não posso deixar de comentar que meus cabelos de tradutora se arrepiaram. fisicista? físico, em inglês, se diz physicist. agora vão dizer que o karl (ecce medicus) é fisiciano? se não fosse toda a discussão sobre os ismos, eu perguntaria se a melhor tradução para "evolutionism" é mesmo "evolucionismo".
Caro Luiz
Muito interessante o seu texto,recheado de ismos. Não me lembro se foi no princípio,ou no meio,ou no fim,se dei comigo a pensar nos Joaquins,ou Josés,ou lá que nome tiverem,daqui,dali,dalém, de todos os cantos deste vasto mundo,que são aos milhões,de ontem,e de anteontem,também,
que pouco,ou nada, entendem, entenderam disto,mas que sentem,sentiram,que as suas vidas estão,estiveram,sempre na mesma,quer dizer nada evoluem, evoluiram. E assim,poderiam ter dito,ou pensado,bolas para tantos ismos. Isso são coisas dessa gente muito inteligente que se entretem lá a falar,ou a escrever,entre eles. Se lhes tivesse calhado a nossa vida,teriam lá tempo,ou disposição, para isso.
E se quer que lhe diga,caro Luiz,ao fazer desta,sou um deles,pelo que me fico por aqui.
Com as minhas muitas desculpas,muito boa saúde Luiz.