Depois da notícia da morte da baleia encalhada em Búzios (se você não viu televisão nos últimos dias, clique aqui), gostaria de compartilhar um texto antigo mas que traz uma visão crítica sobre o “encalhe de baleias”. Ele é de autoria do biólogo marinho Marcelo Szpilman e resume muito bem minha opinião sobre o acontecimento. Incrível como um texto de 2004 se mostra bem atual. Acho que se eu postar esse texto daqui a 15 anos terei a mesma impressão.
Encalhe de Baleias – Uma visão diferente Por Marcelo Szpilman
A notícia de que o Ibama criará um grupo para atuar em encalhe de baleias me deixou surpreso. Porque um órgão que tem, em função da notória falta de recursos, dificuldade em lidar com os graves e constantes problemas ambientais do país decide gastar tempo e dinheiro para tentar resolver um problema absolutamente esporádico e sobre o qual o homem pouco ou nada pode interceder. Todos os dias, de forma ativa e proposital, agredimos os ambientes naturais, matamos milhares de animais selvagens, depredamos as florestas e isso pouco nos comove. Então, por que razão o encalhe de uma baleia jubarte em Niterói e seu triste desfecho, do qual não temos culpa alguma, promovem uma comoção nacional?
Como diz Ulisses Mattos em seu artigo Salvem as Baleias (JB, 05/09/2004); “Quem não gostaria de dizer que já salvou uma baleia da morte? É muito mais onda do que levar um gatinho vira-lata para casa. E nem se sabe bem por quê. Não dá para explicar as correntes humanas que se formam para ajudar esses cetáceos ou as aglomerações comovidas pela impotência diante daquele triste espetáculo. É como se uma morte de 10 toneladas pesasse mais do que as mortes que conhecemos, de alguns poucos quilos”. Infelizmente, ao contrário do que gostaríamos, pouco podemos fazer quando uma baleia encalha. Quem frequenta a praia sabe que um adulto de 80kg sentado na areia na beira da água cria um buraco e afunda na medida em que as ondas batem. Nessas circunstâncias, empurrar ou puxar na tentativa de “desencalhar” essa pessoa não são as melhoras medidas, mas sim levantá-la. Imagine, então, uma baleia pesando toneladas e sem nenhuma intenção de ajudar nas bem intencionadas, mas inócuas tentativas improvisadas de resgate. Como afirma José Laílson Brito Jr., oceanógrafo e coordenador do Projeto Maqua, da UERJ, dos seis encalhes de animais vivos acontecidos nos últimos 12 anos, ele só presenciou um caso de sucesso: o de uma baleia que encalhou em 1991 em Saquarema (RJ). Ainda assim, grande parte do êxito, segundo ele, se deveu às condições da maré e da praia em que ela encalhou. Na verdade, a melhor ajuda que podemos dar a uma baleia encalhada é isolar a área para que os curiosos e metidos não atrapalhem ou machuquem o animal. Com raras exceções, somente a sorte e própria natureza podem interceder a favor da baleia nesse momento. Se ela não consegue se desencalhar sozinha em até 24 horas, o enorme estresse e os danos provocados em sua estrutura física e em sua fisiologia, que não foram projetados para suportar tamanho peso e compressão, passam a determinar seu fim. No caso da jubarte de Niterói, o grande problema foi ela ter encalhado na maré alta, o que certamente impossibilitou seu desencalhe.
O aumento do número de baleias encalhadas, curiosamente, tem a ver com o aumento das populações de baleias no litoral brasileiro. Graças à proibição da pesca da baleia e ao excelente trabalho de proteção e preservação que vem sendo realizado há mais de 10 anos pelo Projeto Baleia Jubarte e pelo Projeto Baleia Franca, a quantidade de baleias que hoje nadam ao longo do nosso litoral em suas rotas migratórias aumentou bastante, o que também aumenta as chances de um encalhe. As causas naturais do encalhe de baleias podem ser as mais variadas, indo de doenças que provocam problemas no senso espacial à inexperiência no cerco de uma cardume de sardinhas. Contudo, não podemos nos esquecer que o encalhe de baleias sempre foi e sempre será um evento incomum da natureza do qual os homens não participam. No entanto, sempre existem alguns, felizmente poucos, que têm enorme prazer em aparecer na mídia, ignorando o sofrimento do animal. Para esses, quanto mais encalhe, melhor.
Acho que as baleias estão encalhando ultimamente porque o sol está passando por um período de intensa atividade e isso afeta o sensor reponsável pela migração dos animais. Isso é uma das consequências que já podem serem vistas. É apenas o início.
Opa! A discussão que tentei colocar não era diretamente se valia a pena salvar aquela baleia ou não. Como tinhamos: os recursos, condições favoraveis e a causa do encalhe aparentamente não foi por problemas de saude foi decidido a tentativa! Eu não sei, e tenho "fé" que realmente 1 individuo (ainda mais sendo um macho) não seja efetivo para a conservação da espécie em questão. Me oponho primeiramente sobre o texto do Marcelo, que estatisticamente e cientificamente está sim desatualizado! Tinha dito que tem um aumento de 100% de encalhes, mas na verdade ultrapassa os 200%. Nós academicos não sabemos se o quadro atual é um crescimento da população dejubartes, ciclos naturais ou se somos nós! Agora o que vc chama de "marketing ambiental", não sei até que ponto é errado. Separar o lixo e etc. é importante tb, não o suficiente. Lutar pela "cultura científica": tb aspiro muito por isso, mas a revolução é bem mais complexa e é valido tomar pequenas medidas (a história do beija-flor) paralelamente.
Olá Hudson,
Devido aos SPAMs este blog só publica os comentários de forma ativa. Então quando estou sem acesso a internet os comentários demoram para serem publicados.
Abraços.
Olá Hudson,
Acho louvável o seu esforço e de outras pessoas que ficaram dias tentando ajudar a baleia. Mas pessoalmente, assim como o autor do texto do post, acho que o esforço não irá ajudar de forma significativa. É louvável, mas não eficiente. Mas cada um é livre para fazer o que acha melhor. Se você realmente achava que poderia ajudar a baleia a desencalhar e sentiu-se melhor estando ao lado dela é uma opção sua e eu respeito ela. Mas também tenho o direito de fazer uma crítica que eu considero construtiva.
Escuto isso quase todos os dias. "Pelo menos estou fazendo minha parte!". Diferente daquela estória que escutamos no colégio, um batalhão de beija-flores não salvaria a floresta em chamas. Acho que devemos repensar o que realmente ajudaria os nossos problemas ambientais e investir nossos esforços da maneira mais correta. Atualmente isso é pouco feito, o que é uma pena.
Não concordo com a ideia de que "Na dúvida não vamos ficar de braços cruzados". Na dúvida deveríamos buscar mais fontes, pessoas que trabalham na área. Para mim ficar de braços cruzados é fazer algo sem saber se isso vai ser realmente significativo. É bonito no papel, mas nada eficiente. Passa uma mensagem para as pessoas que para salvar o planeta basta separarmos o lixo, apagarmos a luz da varanda 1 vez por ano, usarmos "ecobag". "Apelação ambiental" não entra no meu dicionário. Usar isso é pensar que as pessoas são idiotas e que não podemos fazer elas entenderam o valor (tanto ecossistêmico quanto para os seres humanos) da natureza. Eu luto por isso e não por um "marketing ambiental". Luto pela cultura científica, para as pessoas entenderem os problemas.
Eu também não sei muita coisa. Mas sei de uma coisa que precisamos muito e, com ela, poderíamos realmente concentrar nossos esforços de forma efetiva. Essa "coisa" é o pensamento crítico.
Abraços e obrigado pela visita.
Cadê meu comentário?
A diferença de 2004 e 2010 está no aumento de mais de 100% de encalhe de Jubartes. Que a culpa não é nossa, não sei, nem o IBJ sabe. Que o uso de espécies bandeiras para conservação é errado, não sei, mas é uma das ferramentas mais eficientes que temos hoje. Educação está falida no Brasil, as coisas devem andar paralelamente, investimento na educação e apelação ambiental (uso de espécies carismáticas). Estive em Búzios e ralei sob sol e chuva nos três dias, sem muita convicção se aquilo era o certo a ser feito, baleias encalham desde antes das grandes pousadas de Geribá. Aquilo pode ser seleção negativa, pode ser um evento estatisticamente normal já que a população cresceu, mas ainda não temos certeza, e na dúvida não vamos ficar de braços cruzados...
Tive um professor de biologia q dizia q baleia nao encalha, se suicida.