Conheci através do ótimo blog RealClimate uma iniciativa interessante do Centro Nacional pela Educação Científica. Esta é uma instituição americana bem conhecida pelas suas iniciativas contra o criacionismo em sala de aula. Além de cobrir as principais notícias sobre o tema, o NCSE foca em dar suporte para os professores em como tratar do assunto em sala de aula. Muitas vezes temas como evolução são difíceis de serem discutidos perante um grupo heterogêneo de alunos, pois o tema pode em muitos casos ser considerado um ataque a convicções religiosas pessoais. Desta forma os professores podem acabar ficando em uma posição complicada perante os pais dos alunos, não sabendo como tratar do assunto de forma que isso não seja encarado de forma errada.
Se tratar sobre evolução/criacionismo em sala de aula já é complicado, imagina como é difícil para o professor tratar de aquecimento global. Um tema que além de controverso é extremamente pulsante na literatura e a cada dia temos novos artigos científicos sobre este tópico. As incertezas do aquecimento global abrangem principalmente a metodologia, o grau de aquecimento, a contribuição do homem, a distribuição regional e os prováveis impactos. Como a cobertura da grande mídia muitas vezes deixa a desejar dando o mesmo peso para cientistas do clima e de outras áreas (estou olhando para você, The Wall Street Journal), como um professor de uma pequena escola, que não tem acesso a grande quantidade de artigos científicos sobre o tema, pode tratar do assunto em sala de aula?
Pensando nisso o NCSE criou uma página específica em seu portal. Lá os professores podem ter acesso a um conteúdo base que pode ajudar no dia-a-dia com os alunos. A página é dividida em quatro partes, incluindo um guia básico, como encarar os negacionistas do clima, ensinando mudanças climáticas e como fazer algo prático sobre o tema. Além disso em cada tópico tem uma série de links para fontes confiáveis, o que pode aumentar ainda mais o conhecimento dos professores.
Não conheço uma iniciativa deste tipo no Brasil, mas tenho certeza que ela pode ser muito útil para todos os professores. Um tema como o aquecimento global baseado principalmente em modelos climáticos apresenta níveis de incerteza que são difíceis de serem tratados em sala de aula. Por isso que inciativas como essa são essenciais para que o professor tenha mais segurança e possa trazer o tema para debate, estimulando o senso crítico e engajamento dos alunos em um tema que já faz parte da vida de todos nós e cada vez mais iremos sentir na pele suas consequências.
Luiz Bento. Sugeres, prudentemente, a atitude de buscar fontes confiáveis e com embasamento científico. Ocorre que, para leigos, a confiabilidade de uma fonte não é comprovável pela mera assinatura de uma "autoridade", seja ela científica ou política. Depende muito do interesse em se confiar ou não naquela fonte. E nisso não difere muito da confiabilidade que se dá ao criacionismo religioso: acredita-se por que se quer.
Veja bem, cheguei a este blog por indicação de um amigo, a um artigo do Breno Souza sobre a proibição das sacolas plásticas, ato que considero absurdo, mas que vem sendo tratado pelos governantes e legisladores como a nova porta para o paraíso terrestre. Se fosse confiar nas fontes oficiais, teria que discordar do autor do artigo. Tive que fazer minha escolha e continuar pesquisando. Tu sabes que há muitos interesses por trás da publicidade e dos programas governamentais que enfocam esses temas. E que tais interesses tem muito pouco de real preocupação com a preservação e melhoria do meio-ambiente. Até algum tempo, acreditava que as motivações fossem ideológicas. Hoje vejo que até a ideologia se pos a serviço de interesses econômicos.
A minha preocupação é que esses temas são manipulados por políticos e influenciam diretamente na escolhas feitas pelos eleitores. E aí uma proposta de lei que proíbe sacolas plásticas atrai mais o eleitor do que uma proposta efetiva de valorização dos profissionais de educação, por exemplo.
A nível de educação, creio que a sugestão correta para professores do ensino fundamental é trabalhar esses temas sem tomar posição definitiva, mas considerando como verdade a necessidade da ação individual no sentido de preservar o meio-ambiente. Fomentar o debate, buscar informações de diversas fontes e versões e deixar a cargo do indivíduo a tomada de posição. Mas até para isso precisaríamos de professores melhor qualificados.
Parabéns pelo trabalho. Tenho este blog na minha lista de favoritos numa pasta intitulada "Libertas que saera tamen".
Genimar, obrigado pela mensagem.
Acho que a questão de confiabilidade da fonte é um problema realmente importante, mas que não deve ser levado ao extremo. Não acho que devemos confiar cegamente em fontes "oficiais". A melhor maneira de criar um senso crítico é ler de todas as fontes e, baseado na sua experiência pessoal e estudo prévio, chegar a uma conclusão sobre o assunto.
Você não deve acreditar em tudo que lê, mesmo neste blog. Minha opinião e a do Breno são baseadas nos nossos estudos e experiências pessoais. Sempre questione.
Abraços,
Luiz.
Muito legal, mas, o site do NCES é todo em inglês. Não encontrei um link sequer que aponte para material traduzido. Difícil para professores de escola pública a R$700 "pila pur meis" fazerem um curso de língua estrangeira pra traduzir o material. Tem alguma sujestão?
Em português eu recomendo o nosso blog (claro) e os links abaixo. Lembre de sempre buscar fontes confiáveis e com embasamento científico.
http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/
http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/
http://www.forumclima.org.br/
http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/77650.html
Muito legal a página e o comentário