Temas ambientais normalmente viram manchete quando causam consequências diretas para nós, humanos. Não se vê por aí notícias boas sobre meio ambiente de forma tão corriqueira como notícias catastróficas. A verdade é que só lembramos que fazemos parte do mesmo sistema que todos os outros organismos quando o que consideramos infinito – como no caso da água – começa a faltar. Mas claro, a culpa nunca é nossa. É assim no caso das “tragédias” causadas pelas chuvas que já tratamos aqui no blog. Falamos sobre as “tragédias” em Santa Catarina (aqui e aqui) e na região serrana do Rio de Janeiro (aqui). Coloco tragédia entre aspas não por desrespeito aos familiares dos mortos, mas por desrespeito aos que acham que um problema desse porte é causado apenas por causas naturais.
No caso da crise água a nossa participação no problema é tão grande quanto no caso das enchentes. Apesar da boa parte da mídia dar ênfase apenas na falta de chuvas, sabemos que esse fator ambiental apenas agrava uma tragédia anunciada. Temos sempre pessoas idosas sendo entrevistadas dizendo que nunca viram o rio/represa secar, que nunca viram uma seca tão grande. Parece um roteiro pronto, preguiçoso, sempre que temos uma pauta ambiental. Mas procurando um pouco mais – claro que não na capa dos grandes jornais – vemos que temos bons jornalistas falando sobre o assunto. Temas como o desmatamento nas bacias hidrográficas, a falta de planejamento do governo estadual e o grande desperdício de água em tubulações são peças importantes para entendermos de forma completa a crise da água em SP. E, claro, a crise não é só em SP. Aqui no Rio de Janeiro os problemas expostos acima são os mesmos, como podemos ver pela declaração do nosso atual governador.
A crise da água é grave, mas assim que voltar a chover e o tema sair das capas dos jornais iremos focar em outros problemas mais sérios. Até a próxima “tragédia” ambiental ocorrer e sermos novamente pegos de “surpresa”. O engraçado é que passamos aqui no Rio por um problema parecido e que foi resolvido por uma atitude simples. Em 1817, Dom João VI, rei de Portugal, baixou duas ordens devido a iminente falta de água na cidade do Rio de Janeiro:
“(1) interromper a devastação florestal nas
nascentes próximas da cidade e(2)
plantar árvores junto às nascentes de
alguns rios.”
O processo de replantio da Floresta da Tijuca foi longo e árduo como tratado por José Augusto Drummond em um artigo sobre a história ambiental dessa grande área verde do Rio de Janeiro. E não deixa de ser curioso que, há quase 200 anos atrás, já sabíamos a solução para a crise da água. Fica a dica.
Referência:
Drummond, José Augusto (1988). O Jardim dentro da máquina Estudos Históricos, 1 (2), 276-298
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