Recentemente estive na Colômbia no congresso da RedPop e apresentei um estudo de caso sobre o uso do Instagram no ensino de ciências e na divulgação científica. Nele eu ressalto a importância do pensamento visual para a comunicação da ciência e como o uso de imagens e fotografias pode facilitar a compreensão de fenômenos complexos e estimular o interesse pela ciência. Já tentou imaginar como seria a divulgação da astronomia sem imagens? Triste, não? Hoje estamos na era do vídeo, mas imagens magníficas vindo desde o espaço até o mundo microscópico ainda nos chamam a atenção. Mas se uma imagem vale por mil palavras, o som também pode dizer muito. Imagine como seria se também pudéssemos ouvir o mundo da ciência sem precisar estar dentro de um laboratório ou ter que visitar presencialmente lugares inusitados? Já estamos no futuro e podemos fazer tudo isso sem sair de casa, entrar no mundo da ciência não só através da visão, mas também explorando um mundo novo pelos ouvidos.
Uma iniciativa da jornalista Bernie Hobbs, da rede de rádio e TV australiana ABC, nos transporta para esse mundo antes inatingível. Podemos ouvir o som de íons e de uma aranha pavão (que o colega de ScienceBlogs Atila gosta tanto). Até o som de uma aurora boral, o que deixa a experiência ainda mais surrealística. Algo bem interessante da iniciativa é que qualquer cientista pode contribuir com a publicação de sons da ciência. Se você quiser participar ou conhece alguém que poderia contribuir é só enviar um email com uma descrição simples do que é o som e quem gravou e, claro, o arquivo. Mais informações aqui.
Sons da ciência podem despertar a curiosidade, mas na verdade podem ser utilizados para muito mais do que isso. São tão importantes que temos um ramo específico de pesquisa chamado Bioacústica, que é o estudo de sons biológicos segundo definição do Conselho Internacional de Bioacústica. Cientistas dessa área estudam desde o som que os animais emitem para se comunicar até o efeito de sons produzidos pelo homem em outros animais. Além de produzir conhecimento científico, algo que me interessa muito nessa área da pesquisa é em como podemos ser transportados para lugares inusitados sem precisarmos visitá-los presencialmente. Claro, podemos fazer isso por vídeo, mas nada irá substituir a sensação de fechar os olhos e ouvir a paisagem sonora de um lugar. Podemos ouvir a complexidade de sons melhor quando estamos com os olhos fechados, concentrados em apenas um dos nossos sentidos. Quem já dormiu no meio de uma floresta sabe o que eu estou dizendo. Por alguns instantes percebemos o que o uruguaio Juan Pablo Culasso sente quando sai para a mata com seus equipamentos para gravar o som da natureza. Juan é cego de nascença e consegue nos transportar para esse mundo complexo que muitas vezes não conseguimos ouvir por estamos tão saturados de estímulos visuais. Seu trabalho e sua história de vida são lindas e foram registradas em uma entrevista para a BBC. Segundo Juan, “Para a grande maioria das pessoas, os sons são invisíveis. O meu trabalho, a minha missão, é que eles se tornem visíveis”. O Juan tem um site pessoal onde podemos ouvir um pouco do seu trabalho e até adquirir o material.
E claro, falando em iniciativas de divulgação da ciência, a NASA nunca fica de fora. No ano passado a agência espacial norte-americana disponibilizou uma verdadeira biblioteca de sons do espaço, que incluem conversas entre astronautas, sons dos foguetes e do espaço interestelar. Um verdadeiro deleite científico para os ouvidos. Outro som do espaço que causou curiosidade foi registrado pela sonda Philea após pousar no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Assim como nos transportamos para outros mundos através da leitura, o som pode nos fazer viajar em uma complexidade que fica escondida em um mar de imagens do nosso dia-a-dia. E, claro, nos mostrar mais uma vez como a ciência é fascinante.
[Atualização – 12/08/15]
O colega Guilhermo Brito compartilhou no twitter que o Macaulay Library archive do laboratório de ornitologia da Universidade de Cornell digitalizou todos os registros de sua coleção, que incluem arquivos desde 1929. São aproximadamente 150 mil arquivos totalizando mais de 7 mil horas de gravação. O anúncio foi feito pela própria universidade e pode ser acessado aqui.
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