O que a pobreza tem a ver com a sustentabilidade? Tudo! Aliás, me lembro que no meu primeiro curso sobre responsabilidade social me foi ensinado que as empresas perceberam que precisavam ser mais responsáveis por conta da grande diferença social no mundo, afinal uma vez que elas faziam parte do mundo elas não poderiam se isentar de ser parte do que acontece nele. Mesmo por que dentre as 100 maiores potências econômicas 49 são empresas (dado de 2005).
Esse discurso do nascimento da percepção de responsabilidade social das empresas parece muito lindo, mas de verdade não acho que foi um momento de lucidez das empresas em tentarem ser mais corretas ou responsáveis com suas ações. Na minha opinião, diante de tudo que já vi por ai sobre o assunto, a coisa é bem mais perversa, se é que essa é a palavra mais adequada.
Não é de hoje que todo mundo sabe que a população que mais cresce é a de menor renda, também não é de hoje que a cada dia que passa a riqueza se concentra mais e mais, o que as empresas pensaram? “Poxa, eu preciso vender mais, mas a população que eu vendo não cresce mais, ou seja, a tendência das minhas vendas a longo prazo é diminuir.” Por mais que se possa aumentar o preço dos produtos para compensar essa perda isso não vai fazer o número de vendas aumentar. Qual a saída? Tentar incluir a população mais pobre numa faixa maior de renda para que se possa vender para ela, ou então criar produtos mais acessíveis para que a população que até então não tinha acesso possa comprá-los. Ai, usamos um discurso de responsabilidade social, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável o que deixa tudo mais bonito e aceitável.
Perverso, né? Mas o nosso sistema econômico é isso, ele não leva em consideração se teremos recursos e energia para tudo isso. O objetivo é sempre crescer sempre e mais, não importa qual custo, se social, ambiental, moral ou qualquer outro.
Desde o início desse blog até hoje sou muito mais cética em relação a ação das empresas, admiro e elogio algumas, critico outras. Algumas podem até ter um genuíno compromisso com a sustentabilidade, mas infelizmente o mercado ainda não entendeu isso. Vide a crise imobiliária americana que emprestou dinheiro para qualquer um sem qualquer critério (contando parece até brincadeira de criança ver que o problema foi só esse).
O mundo vai continuar com muita e muita pobreza enquanto acreditarmos que só produzir e consumir vão resolver todos os problemas. Afinal o que define a pobreza das pessoas é a escassez de recursos básicos para a vida (água, comida, casa, trabalho, lazer) e não a marca do carro, o modelo do celular, a televisão de lcd, a quantidade de comida industrializada que ela consegue comprar ou a quantas roupas e sapatos ela tem.
Posso ter sido muito pragmática (ou ignorante mesmo), mas fui procurar em vários dicionários a definição de poverty eu estava na dúvida de como traduzir, se por pobreza ou miséria. Depois de consultar o dicionário de Oxford, Cambridge e o Aurélio, cheguei a conclusão que a melhor tradução para poverty é pobreza mesmo. Miséria está muito mais relacionado à avareza do que a falta de recursos.
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4 Comments
Eu não apoio nem um pouco a forma como as empresas lidam com as questões de responsabilidade social e/ou licenciamento ambiental. Mas tento pensar no lado delas também, não deve ser fácil manter uma empresa aberta com a quantidade de impostos e regulamentos que existem hoje. O fato é que toda nossa economia está baseada apenas em crescimento crescimento e mais crescimento. O dia em que as coisas estabilizam um pouco ninguém sabe o que fazer.
A sustentabilidade não precisa ser sinônimo de estagnação, como alguns fazem parecer.
Mais certo seria continuar produzido, mas a custos ambientais menores, tendo maior distribuição. O consumo é grande nos países desenvolvidos mas é bem menor nos subdesenvolvidos. E a relação pobreza x consumo existe por que muitas pessoas consomem demais perto das outras. Talvez, se houvesse maior distribuição, e os que consomem mais passassem a consumir menos para que os que consomem menos pudessem consumir mais... utopia, né? Eu sei...
P.S. E entendam "consumir mais" como o básico: comida, roupas, água, saúde, educação...
Mas o nosso sistema econômico é isso, ele não leva em consideração se teremos recursos e energia para tudo isso. O objetivo é sempre crescer sempre e mais, não importa qual custo, se social, ambiental, moral ou qualquer outro.
Como, de resto, um certo alemão observava no século XIX... “As contradições internas do sistema capitalista de produção contém o germe de sua auto-destruição”.
Não se trata de ideologia: é mero pragmatismo. Que adianta acumular fortunas, se não há como comprar a Natureza?...