Fungos: amigos ou inimigos? Mutualismo e parasitismo

cogumelos roxos em líquen de um tronco de árvore

A função dos fungos, nas relações ecológicas, podem ser confusas e complexas. Como classificar como os fungos atuam no meio ambiente?

Texto escrito por André Fernandes Faria

Os fungos são organismos fascinantes que habitam nosso planeta há milhões de anos. Eles desempenham papéis vitais nos ecossistemas, atuando tanto positivamente quanto negativamente. Além disso, a relação entre fungos e outros seres vivos pode variar desde mutualismo benéfico até parasitismo prejudicial. Então que tal explorar essa complexa interação e entender melhor a natureza de alguns fungos?

Relações positivas entre fungos e outros organismos

O mutualismo é um tipo de relação na qual dois organismos diferentes vivem juntos, beneficiando-se de forma recíproca. No reino dos fungos, o mutualismo é observado em várias formas. Um exemplo notável é a micorriza, palavra grega que significa “raízes de fungos”, e designa uma interação colaborativa com as raízes de uma planta.

Nessa relação, os fungos fornecem nutrientes, como fósforo, aprimorando a absorção de água e minerais pelas plantas. Enquanto isso, as plantas, fornecem carboidratos e outros compostos orgânicos essenciais para crescimento e desenvolvimento. Sendo assim, esse mutualismo é fundamental para o sucesso de muitos ecossistemas terrestres e foi fundamental para a evolução de vegetais terrestres a aproximadamente 450 milhões de anos atrás.

Outra forma de mutualismo é observado nos líquens, que são associações simbióticas (do grego “viver junto”) entre fungos e algas ou cianobactérias. Nessa troca as algas fornecem nutrientes por meio da fotossíntese, enquanto os fungos fornecem proteção e um ambiente adequado para o crescimento das algas. Dessa forma, líquens podem promover o desgaste de rochas por meio da biomineralização, tornando os minerais mais acessíveis, além de participar em processos como fixação de carbono e nitrogênio.

Relações nada positivas entre fungos e outros organismos

No entanto, nem todas as interações com outros seres vivos são benignas. Muitos deles são parasitas, causando doenças em plantas, animais e até mesmo em seres humanos. Por exemplo, a ferrugem, uma doença comum em plantas, é causada por fungos parasitas responsáveis ​​por perdas econômicas significativas e danos ecológicos em todo o mundo.

Já em seres humanos, os fungos podem provocar infecções superficiais, como na pele e em unhas, sendo essa sua principal forma de infecção, afetando 25% da população mundial. Entre essas infecções, destaca-se a candidíase, que ocorre em aproximadamente 70-75% das mulheres em algum momento de suas vidas. Além disso, existem as infecções fúngicas invasivas, que são menos comuns, porém mais preocupantes, pois afetam principalmente indivíduos com imunidade baixa (imunocomprometidos), apresentando uma alta taxa de mortalidade.

Bom, até o momento só citamos fungos biotróficos, ou seja, que se aproveitam do hospedeiro vivo para obter nutrientes. Porém, existem também aqueles que são necrotróficos, ou seja, são parasitas que matam seu hospedeiro antes de alimentar-se dele. Eles são capazes de colonizar organismos já enfraquecidos ou mortos, decompondo-os e se beneficiando dos nutrientes liberados durante o processo de decomposição.

Fungos são complexos e podem ser tão bons quanto ruins

Em resumo, os fungos são organismos complexos que desempenham papéis tanto como amigos quanto como inimigos. Além disso, suas interações com outros seres vivos podem variar de mutualismo benéfico a parasitismo prejudicial. Por isso, é importante reconhecer sua importância na natureza, tanto em termos de sua contribuição para a sustentação dos ecossistemas como de sua capacidade de causar doenças. Tendo isso em vista, a compreensão dessas interações complexas é fundamental para o estudo e manejo adequado dos fungos, a fim de promover o equilíbrio ecológico e a saúde de todos os seres vivos.

O Autor

André Fernandes Faria é Bioquímico pela UFSJ-CCO. Atualmente faz mestrado no LEBIMO, no Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular e Morfofuncional e trabalha com produção de enzimas de interesse industrial por fungos filamentosos tendo biomassa como fonte de carbono.

Para saber mais:

Zeilinger, Susanne, et al. Friends or foes? Emerging insights from fungal interactions with plants. FEMS microbiology reviews 40.2 (2016): 182-207.

Humphreys, Claire P., et al. “Mutualistic mycorrhiza-like symbiosis in the most ancient group of land plants.” Nature communications 1.1 (2010): 103.

Bonfante, Paola, and Andrea Genre. “Mechanisms underlying beneficial plant–fungus interactions in mycorrhizal symbiosis.” Nature communications 1.1 (2010): 48.

Duran-Nebreda, Salva, and Sergi Valverde. “Composition, structure and robustness of Lichen guilds.” Scientific Reports 13.1 (2023): 3295.

Figueroa, Melania, Peter N. Dodds, and Eva C. Henningsen. “Evolution of virulence in rust fungi—multiple solutions to one problem.” Current opinion in plant biology 56 (2020): 20-27.

Brown, Gordon D., et al. “Hidden killers: human fungal infections.” Science translational medicine 4.165 (2012): 165rv13-165rv13.

Geeta, and Reema Mishra. “Fungal and bacterial biotrophy and necrotrophy.” Molecular Aspects of Plant-Pathogen Interaction (2018): 21-42.

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