
Talvez muitas pessoas não saibam, mas Sarampo já foi uma das maiores causas de mortalidade infantil no Brasil e no mundo, há décadas. Ela é considerada uma doença prevenível por meio de vacinação e, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) uma das doenças que pode ser eliminada das Américas, se a cobertura vacinal estiver alta.
Tomando como premissa que já tivemos o feito da eliminação de varíola (1971), poliomielite (1994) e rubéola e rubéola congênita (2015), o sarampo seria a quinta doença eliminada da América. A vacina de sarampo é parte da vacina Tríplice (sarampo, caxumba e rubéola) e passou a constar como parte das vacinas a serem oferecidas às crianças a partir dos anos 1980.
No Brasil o Plano Nacional de Eliminação do Sarampo foi lançado em 1992, em 1997 tivemos uma epidemia da doença, mas com uma diferença brutal dos anos anteriores: o número de mortes diminuiu drasticamente. No ano de 1997, foram 45 mil casos apenas no Estado de São Paulo e 53 mil casos no Brasil. Todavia, ao contrário da epidemia de 1990 (com 61 mil casos e 478 óbitos), tivemos apenas 60 óbitos. Já falamos sobre estes dados do aumento do sarampo e a importância da vacinação anteriormente.
Hoje viemos, novamente, falar sobre os casos de sarampo registrados recentemente em Minas Gerais e como os alertas da doença não são triviais e, definitivamente, não devem ser ignorados…
Mas são apenas dois casos! Isso é perigoso mesmo?
Respondendo de maneira rápida e direta: SIM. Especialmente por alguns fatores relevantes destes dois casos: são causos autóctones e de crianças não vacinadas. Isto é, casos que não são “importados”, as crianças foram contaminadas aqui mesmo (não voltaram do exterior contaminadas, por exemplo).
Claro que dois casos podem ser vistos como “pouco”, frente a tudo o que já vivemos. Mas em se tratando de uma doença que já foi um grande fator de mortalidade infantil, estas notificações servem de alerta:
- De que o vírus está circulando em território nacional
- Pessoas não vacinadas apresentam casos da doença, que podem se agravar
- A baixa cobertura vacinal proporciona que o vírus circule com mais facilidade
A cobertura vacinal de Sarampo no Brasil
Aqui no Brasil, segundo o calendário de vacinação, A Tríplice Viral SCR evita sarampo, caxumba e rubéola e deve ser aplicada com 12 meses de vida e a Tetra Viral SRC-V, que evita sarampo, caxumba, rubéola e varicela, com 15 meses, em crianças. No caso, são duas doses sendo a primeira a tríplice viral e a segunda a tetra viral. No Brasil, em 2024 registramos que a primeira dose tem cobertura vacinal de 93% e a segunda 68%. A recomendação da OPAS para chegarmos na eliminação da doença é de 95% de cobertura vacinal nacional.
Estamos abaixo do recomendado pela OPAS para a primeira dose! O que é gravíssimo. Especialmente por que em 2024, em função dos casos de sarampo registrados no país, fomos certificados novamente como país livre de sarampo endêmico, novamente. Isto é, livres de sarampo com contaminação em nosso país (excluindo os casos de pessoas contaminadas vindo do exterior).
A alta cobertura vacinal é o que garante que, mesmo com casos vindo de fora do país, o vírus não consiga contaminar pessoas e voltar a circular no Brasil.
Vale a pena falar de sarampo com apenas 2 casos?
Sim! É fundamental retomarmos a vacina como grande política pública nacional. Campanhas de vacinação que conscientizem a população, que também retomem a relevância para a população e desmistifiquem as desinformações que circulam fazem parte de uma estratégia eficiente.
O Brasil já foi um dos países com uma política nacional de destaque no mundo inteiro e ressaltar estes alertas, mais do que alarmismo banal, é apontar que ainda precisamos reestabelecer metas que já tivemos, salvando vidas e melhorando a saúde de todos.
Sarampo é uma doença grave, que já assombrou bastante nossos índices de mortalidade infantil. Vacinar é um ato de cuidado que não pode ser deixado de lado, à mercê de comunicações confusas e políticas que não impactem à população brasileira.
Vacinação — Ministério da Saúde (www.gov.br)
| Esquema de Vacinação:   De 1 a 29 anos – duas doses, sendo a primeira com a tríplice viral aos 12 meses e a segunda aos 15 meses com a tetraviral ou tríplice viral + varicela;De 30 a 59 anos – uma dose da vacina tríplice viral, se não vacinado anteriormente; Trabalhadores da saúde – duas doses da vacina tríplice viral independentemente da idade. Com intervalo de 30 dias entre as doses. IMPORTANTE: A vacina de sarampo não é recomendada para gestantes | 
Para saber mais
AGÊNCIA BRASIL (2025) Casos de sarampo tiveram aumento de 34 vezes em 2025, alerta OPAS, Agência Brasil.
ARNT, A. (2024) O sarampo volta a assombrar o Brasil, Blog do EMRC, Blogs de Ciência da Unicamp.
BONORA JUNIOR, B (2023) Quanto tempo leva para extinguir uma doença no mundo? Poliomielite, sarampo e Covid-19 como exemplos. Blog EMRC.
DOMINGUES, CM, ALLAN S, PEREIRA, MCCQ, SANTOS, ED, SIQUEIRA, MM, & GANTER, B (1997) A evolução do sarampo no Brasil e a situação atual, Informe Epidemiológico do Sus, 6(1), 7-19.
FONTES-DUTRA, M (2023) Caso importado de sarampo no país. Mellziland
MINISTÉRIO DA SAÚDE (s/d) Calendário Vacinal
___ (s/d) Sarampo
___ (s/d) Situação Epidemiológica do Sarampo
LISBOA, V (2023) Sarampo matava mais de 2,6 milhões por ano no mundo antes de vacinas, Agência Brasil, 06 de Setembro de 2023.
OPAS (s/d) Immunization Data and Statistics
___ (2024) Immunization coverage throughout the life course in the Americas
___ (2025) Number of Vaccine Preventable Disease (VPD) cases in the Americas
___ (2025) Sarampo
RIPSA (2006) D.1.1 – Incidência de sarampo Rede Interagencial de Informações Para a Saúde
 
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