Polinizações Cruzadas entre os grupos de pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade da Unicamp

Publicado por GEICT em

Por Thais Lassali

No último dia 26 de junho, ocorreu no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp o evento Polinizações Cruzadas, organizado por pesquisadoras e pesquisadores vinculados a diferentes grupos da universidade, todos eles voltados para os estudos em ciência, tecnologia e sociedade (CTS). Além do GEICT, participaram do evento o Grupo de Pesquisa Informação, Comunicação, Tecnologia e Sociedade (ICTS), o Laboratório de Estudos Socioantropológicos sobre Tecnologias da Vida (Labirinto), ambos ligados ao Labjor, e o Laboratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA), ligado ao IFCH. O encontro teve como proposta estimular a troca entre os pesquisadores dos diversos grupos, compartilhando os variados pontos de vistas possíveis sobre os estudos em CTS.

Ilustrar a mesa de abertura do evento Polinizações Cruzadas

Mesa de abertura do evento Polinizações Cruzadas. Da esquerda para a direita: Prof. Dr. Pedro Peixoto, Prof. Dr. Marko Monteiro, Maria Vitória Pereira de Jesus e Prof. Dra. Daniela Manica.

Mas por que um nome tão peculiar para um evento acadêmico? A polinização é a troca de pólen entre diferentes partes de uma flor, o que permite a fertilização e, posteriormente, a produção de sementes que possivelmente germinarão e resultarão em novas plantas. Polinização cruzada é aquela que ocorre quando o pólen de uma determinada flor acaba sendo carregado para outra da mesma espécie. Esse processo permite uma maior variabilidade genética entre as plantas, o que é crucial para a diversidade das mesmas. Como colocou Pedro Ferreira, o nome do encontro é justamente esse porque trocar os conhecimentos produzidos dentro de cada um dos grupos permite criar variabilidade e diversidade nas pesquisas.

Foto ilustrativa do público do evento.

Público do evento Polinizações Cruzadas.

foto ilustrativa do público do evento.

Público do evento Polinizações Cruzadas.

O evento

O Polinizações Cruzadas se dividiu em quatro mesas temáticas: Políticas, Tecnologias, Métodos e Ciências. Em cada uma delas, quatro pesquisadores apresentavam aspectos de suas pesquisas e, ao fim, um debatedor arguia e discutia o que fora apresentado.

A primeira mesa, Políticas, contou com Heitor Cofferri e Sara Munhoz, do GEICT, Fernando Camargo, do Labirinto, e Ana Santino de Sá do LaSPA. As apresentações abordaram temas relacionados aos mais diferentes aspectos da política. Tivemos desde uma discussão mais teórica sobre Direito, como a feita por Cofferri, e sobre a utilização de tecnologias de Inteligência Artificial no STJ, conforme debatida por Munhoz. Passamos também pelos meandros políticos e sociais que podem emergir tanto da biografia de um rio, como feito por Camargo, como das complexas relações ao redor da mineração de Lítio no Vale do Jequitinhonha, como nos apresentou Sá. O responsável por atuar como debatedor foi o professor Jean Carlos Hochsprung Miguel do Instituto de Geociências da Unicamp.

Foto da Mesa 1 do evento.

Foto dos participantes da Mesa 1, Políticas, do evento. Da esquerda para a direita: Heitor Cofferri (GEICT), Ana Santino de Sá (LaSPA), Fernando Camargo (Labirinto) e Sara Munhoz (GEICT).

Já a segunda mesa, Tecnologias, reuniu discussões teóricas e práticas que lidam tanto com o impacto, quanto com as possibilidades de usos de tecnologias como as inteligências artificiais, os podcasts e os sistemas de reconhecimento facial. Carlos Javier Lozvill (GEICT) abordou o déficit democrático na governança da inteligência artificial, destacando a urgência de abrir espaço para debates públicos e controversos que direcionem a IA para o bem comum, enquanto Rafael Gonçalves (LaSPA) debateu as agências algorítmicas. Irene do Planalto Chemin (Labirinto) trouxe um olhar sobre adolescentes e tecnologias a partir de um podcast que investiga como os jovens percebem o uso de tecnologias digitais em seu cotidiano. Já Maria Vitória Pereira de Jesus (ICTS) explorou os vieses raciais embutidos em sistemas de reconhecimento facial, questionando o “tecnochauvinismo”, ou seja, a crença na objetividade da tecnologia. O debatedor Felipe Mammoli, pesquisador do GEICT, destacou que pensar tecnologias vai além do high tech: exige compreender suas relações, historicidades e disputas, reiterando que não se deve naturalizar o que se considera tecnológico, algo justamente feito pelas apresentações da mesa.

Foto mesa 2 do evento.

Foto da Mesa 2, Tecnologias. Da esquerda para a direita: Rafael Gonçalves (LaSPA), Irene do Planalto Chemin (Labirinto), Maria Vitória Pereira de Jesus (ICTS) e Carlos Javier Lozvill (GEICT).

A terceira mesa, Métodos, reuniu pesquisas que exploram as possibilidades e os limites metodológicos no campo das CTS. Clarissa Reche (Labirinto) propôs a figuração como estratégia metodológica na pesquisa feminista, destacando a multiplicidade do papel das metáforas na produção científica. Arthur Prando do Prado (LaSPA) investigou o improviso no jazz, articulando corpo, técnica e repertório como formas de conhecimento. Fernanda Mariath (Labirinto) apresentou o podcast Feminista In Vitro como experimento metodológico, enquanto Cristiana Gonzalez (ICTS) discutiu as relações entre tecnologia e dinheiro, explorando formas de desmonetarização das trocas econômicas. Como debatedora, Sara Munhoz, pesquisadora de pós-doutorado do GEICT, destacou elementos comuns entre os trabalhos, como a repetição, o desvio, e as dimensões do prazer, do corpo e da memória.

Foto da Mesa 3 do evento.

Foto da Mesa 3, Métodos. Da esquerda para a direita: Clarissa Reche (Labirinto), Fernanda Mariath (Labirinto), Arthur Prando do Prado (LaSPA) e Cristiana Gonzalez (ICTS).

Por fim, a quarta mesa e última mesa, Ciências, abordou diferentes formas de produção de conhecimento e seus vínculos com as estruturas sociotécnicas contemporâneas. Fabiano Galletti Faleiros (LaSPA) refletiu, a partir do pensamento do sociólogo francês Émile Durkheim, sobre como um ramo da ciência contemporânea chamada “ciência das redes” contribui para naturalizar uma lógica reticular que replica a ideologia do neoliberalismo. Thais Capovilla (GEICT) apresentou os primeiros passos de sua pesquisa sobre o laboratório Viva Bem (Record.ia), com foco na Inteligência Artificial e na noção de explicabilidade, ou seja, a capacidade de um sistema ser compreendido sem mediação especializada. Já Jessica Ferreira Cardoso (GEICT) discutiu os desafios regulatórios em torno dos PFAS, substâncias químicas persistentes, e como sua definição como poluentes é construída e disputada por agentes como empresas privadas, agências reguladoras, laboratórios e cientistas. Quem atuou como debatedora na mesa foi Clarissa Reche, do Labirinto.

Foto da Mesa 4 do evento.

Foto da Mesa 4, Ciências. Da esquerda para a direita: Clarissa Reche (Labirinto), debatedora; Thais Capovilla (GEICT), Jéssica Ferreira Cardoso (GEICT) e Fabiano Galleti Faleiros (LaSPA).

As apresentações feitas no dia 26 de julho desestabilizam as fronteiras disciplinares ao cruzar as mais diferentes ciências, tecnologia, arte e comunicação pública da ciência. Focado na horizontalidade e na colaboração entre pares, o evento Polinizações Cruzadas foi um espaço de troca e experimentação de saberes sobre os desafios sociotécnicos contemporâneos.

Foto do evento Polinizações Cruzadas que inclui o público e os participantes que estão apresentando.

Foto do público e do palco do evento Polinizações Cruzadas.


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