Dinossauros inteligentes. Do Espaço!!!

Esses dias estive ajudando um colega com seu projeto de doutorado em paleontologia sobre dinossauros, um assunto sempre fascinante. Obviamente eu estou apenas dando meu parecer nos aspectos metodológicos, mas é sempre interessante entender um pouco mais sobre os organismos em questão. De qualquer forma, durante minhas pesquisas eu me deparei com um artigo de divulgação intitulado “Poderiam dinossauros mais avançados dominar outros planetas?”, no ScienceDaily. Aqui está uma amostra do que é dito na matéria:



Novas descobertas científicas levantam a possibilidade que versões avançadas do T. rex e outros dinossauros – criaturas monstruosas com a inteligência e sagacidade de humanos – podem ser as formas de vida que evoluíram em outros planetas no universo.



Colocações bastante ousadas, mas de especulações rasas a internet está cheia. Para minha (não tão grande) surpresa, o site indica um artigo da Revista da Sociedade Americana de Química como fonte da informação sobre os supostos dinossauros alienígenas. Obviamente assumi que era mais uma deturpação de alguma pesquisa por parte dos jornalistas. E de fato, a materia sugere que o conteúdo do trabalho é sobre quiralidade de aminoácidos, um tópico intrigante, sem sombra de duvida, com impactos muito importantes nas teorias de origem da vida na terra. Nada similar à dinossauros alienígenas inteligentes, obviamente.

Mas o que diz exatamente o artigo?

Atualmente não é surpreendente que L-aminoácidos e D-carboidratos são produzidos em sistemas biológicos, visto que enzimas que os produzem são elas mesmas homoquirais (não uma mistura com sua imagem espelhada). Na Terra pré-biótica, não existiam tais catalizadores quiralmente seletivos para fazer o primeiro aminoacido ou açucares ou nucleosídeos, então muitos cientistas tem especulado que essa seletividade poderia ter surgido em um mundo previamente aquiral.

O autor segue argumentando sobre como a influencia de luz polarizada de ondas curtas poderia ter destruído um tipo de enantiômeros, privilegiando os compostos que constituem a vida na terra. Aparentemente, tal processo apenas poderia ter ocorrido no espaço e não na atmosfera terrestre, e a partir disso o autor sugere que tais compostos foram gerados em meteoros que posteriormente foram lançados à Terra.


Estranhamente o autor se refere à “nós” repetidas vezes durante o artigo, ora falando sobre a comunidade científica, ora falando sobre quem escreveu o artigo. Isso é deveras estranho, ainda mais levando em conta que que o artigo tem apenas um autor. Fora isso o texto é bastante confuso e mal escrito. Mas… e os dinossauros? 

Uma implicação desse trabalho é que em outros lugares do universo podem existir formas de vida baseadas em D-aminoacidos e L-carboidratos, dependendo de que tipo quiralidade da luz polarizada circular no setor do universo ou de qualquer outro processo operando em favor de L-alfa-metil aminoacidos nos meteoritos que pousaram na Terra. Essas formas de vida poderiam muito bem ser versões avançadas de dinossauros, se mamíferos não tivessem a boa sorte dos dinossauros terem sido erradicados por uma colisão asteroidal. É melhor que não encontremos eles.

Err… o que?


Porque eles seriam dinossauros? Visto que não sabemos nada de como vida extraterrestre é (sequer sabemos se ela existe), eu não arriscaria dizer que ela seria composta por répteis arcossauros de 4 membros, com um esqueleto, um crânio, uma mandíbula e ovos amnióticos. Muito menos répteis arcossauros de 4 membros, com um esqueleto, um crânio, uma mandíbula e ovos amnióticos com inteligencia quase-humana! Será que o autor desse artigo sequer contempla a improbabilidade disso existir até mesmo na Terra? Afinal, das bilhares de formas de vidas que existem e já existiram, a grande maioria é composta de organismos procariotos unicelulares. Se você vai chutar que ETs se parecem com qualquer coisa, eu começaria por ali.


Eu só posso especular sobre a linha de raciocínio que leva uma pessoa a escrever isso, mas imagino que o autor caiu presa da noção errada de que evolução segue uma tendência histórica pré-determinada e “progressiva”, na qual o resultado final é, necessariamente, um ser antropomórfico e inteligente. O fato de um meteoro ter dizimado os dinossauros seria, então, um feliz acidente que impediu os dinossauros de se tornarem tais seres, dando espaço a nós. Outros planetas estariam cheios de reptilianos inteligentes…


Claro, isso tudo é ficção cientifica e não ciência, o que me faz perguntar: como isso passou pelo processo de revisão por pares da Revista da Sociedade Americana de Química? Um leigo bem informado seria capaz de identificar que essa passagem (o ultimo paragrafo do artigo!) não passa de especulação barata e que não serve proposito outro além de tornar o artigo como um todo suspeito e o processo editorial da revista uma piada. Me pergunto que tipo de revisor acadêmico falharia em notar isso.

Referência

Breslow. Evidence for the Likely Origin of Homochirality in Amino Acids, Sugars, and Nucleosides on Prebiotic Earth, Journal of the American Chemical Society.


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27, Abril, 2012- Parece que o artigo foi removido do ar em devido a suspeitas de quebra de diretos autorais. Whatever dude… whatever…


04, Maio, 2012- Notei que a figura original que havia colocado sumiu do post. Para minha surpresa notei que o Science Daily também tirou a notícia do ar.

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