>Trollagem literária

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Em 1917, o escritor William George Jordan — com o perdão da expressão — ficou de saco cheio de Gustave Simonson, um colega que também era membro do Clube de Autores de Nova York. Ao que tudo indica, Simonson era arrogante e pedante e estava convencido de que sabia tudo o que era possível saber sobre literatura russa. Então, um dia, Jordan procurou Simonson para saber sua opinião sobre Vyodne, uma novela inexistente do igualmente inexistente autor russo Feodor Larrovitch (1817-1881, à dir.). Simonson, talvez desconcertado, respondeu que não conhecia nada a respeito.
Isso poderia ser o bastante para qualquer um, mas foi só o começo de uma longa vingança literária. Jordan pediu ajuda a outro membro do clube, que apresentou uma palestra sobre Larronovitch e ofereceu um jantar em sua honra. A homenagem foi completa, com louvores e declamação de pseudopoesias do pseudoautor. O evento foi divulgado pela imprensa, onde Jordan também tinha seus contatos. Ele conseguiu convencer alguns jornalistas a escrever vagos artigos louvando Larrovitch. 
No ano seguinte, a conspiração chegou a ponto de publicar um livro, Feodor Vladimir Larrovitch: An Appreciation of His Life and Works [Feodor Vladimir Larrovitch: uma apreciação de sua vida e obra], que incluía um perfil biográfico, críticas literárias, cartas, poemas e um ensaio de Titus Munson Coan relembrando suas conversas com o “grande” autor russo. O livro tem retratos dos pais de Larrovicht, dele, de sua tumba e até a reprodução de um manuscrito original! Tudo era forjado, mas foi o que bastou para que Simonson se convencesse da veracidade da vida e obra de Larronovitch e, talvez orgulhosamente, escrevesse um artigo sobre ele nos anais do clube.
Essa trollagem toda foi logo esquecida, pois os envolvidos não tardaram a morrer: Coan, em 1921; Jordan, em 1926. Tudo teria passado por verdade até hoje, não fosse — por incrível que pareça — a intervenção de um jornalista esportivo (!!) da Suécia (!!!!), em 1932. Ele percebeu inconsistências na grafia do nome de Larrovitch (que vocês já devem ter percebido) em tudo que havia sido publicado sobre o suposto autor russo e escreveu ao Clube de Autores de Nova York, que admitiu a falsidade da história.
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