LEDs levam a lesmas lépidas e molestantes

Caracol em estilo steampunk. Sim, eu sei que deveria ter digitado “lesma” para a IA ao pedir estar arte, mas quando vi já era tarde – e depois as versões com lesmas não me agradaram.

Nota do Autor: por alguma falha no espaço-tempo (ou simples esquecimento), este texto passou uns dez anos perdido na minha pasta de rascunhos e só foi encontrado recentemente. Embora as informações possam estar desatualizadas, considero que é um artigo curioso e divertido demais para ser engavetado ou descartado. Por isso, após fazer pequenas correções e atualizar o que foi possível, resolvi publicar o texto.

A Grã Bretanha está sendo invadida por um exército — de lesmas gosmentas. O mais incrível é que são lesmas velozes (para os padrões lésmicos). E elas estão armadas com uma terrível arma biológica. Parece o começo de um episódio meio tosco de Doctor Who, mas é uma descoberta científica mesmo.

Segundo a Royal Horticultural Society — espécie de Embrapa da terra da rainha — a população de lesmas aumentou 50% de um ano pra cá [2012 para 2013]. Com verões cada vez mais quentes e úmidos, as lesmas estão deitando e rolando na Inglaterra. O problema não é novo. Lesmas sempre foram comuns no país, mas ficavam restritas ao sul da Grã-Bretanha. Agora elas estão invadindo o resto do país. Não de maneira lenta, mas bem lépida.

É o que indica uma pesquisa da Universidade de Exeter (financiada pela Bayer Animal Health). Lesmas veraneias não seriam um grande problema, exceto para os jardineiros e os cães. Para os jardineiros, lesmas são pragas; para os cachorros, um petisco fatal.

Still got LEDs

O que os pesquisadores britânicos queriam descobrir era justamente a velocidade das lesmas em seu hábitat urbano mais comum: o jardim doméstico. Para seguir os lânguidos movimentos das lesmas, os cientistas colocaram LEDs multicoloridos nas costas de 450 lesmas, que foram rastreadas por 72 horas por meio de time lapse. Para determinar suas trilhas, eles usaram tinta UV (ultravioleta, daquelas que brilham no escuro).

Tinha tudo pra ser uma pesquisa lerda — ainda que luminosamente lerda — e tão empolgante quanto uma corrida de… lesmas. Não foi bem assim. Os gastrópodes iluminados percorreram até 25 metros num período de 24 horas. A velocidade média de 1 metro por hora ainda pode nos parecer beeeem leeeeenta — nós vencemos a mesma distância em um passo e numa fração de segundo —, mas é bem lépida para uma lesma.

Por trás da lepidez lésmica está o velho truque de usar trilhas já existentes. Segundo o líder deste estudo, Dr. Who Dave Hodgson, as lesmas gastam até 40% da energia que consomem na produção da gosma que excretam para se mover sobre sua barriga-pé, o gastrópodo. Portanto, se for possível, as lesmas preferem usar um caminho que já foi, digamos, lesmificado. “É uma forma de cheating, como o slipstreaming”, disse Hodgson, professor de Ecologia em Exeter, referindo-se ao hábito bastante humano de seguir trilhas secas em pistas molhadas a bordo de um automóvel. A única diferença é que as lesmas seguem trilhas úmidas em ambientes secos.

“Elas são tão lentas que as pessoas nem pensam nelas se movimentando, mas elas se movimentam sim e podem percorrer um longo caminho numa noite”, disse o doutor. E é por aí que escorrega o perigo. Avançando silenciosamente, percorrendo um jardim por noite ao longo dos últimos anos, as lesmas têm se espalhado larga e lepidamente rumo ao norte. Parece que estão maquinando a invasão da Escócia. E, com elas, estão levando um parasita fatal para os cães.

EX-TER-MI-NA-TE?

O parasita é um vermezinho chamado Angiostrongylus vasorum, que pode se instalar nos pulmões do cão quando o animal doméstico come (acidentalmente ou não) lesmas infectadas que encontra no jardim. “Elas não são apenas mascadoras de alface, elas carregam parasitas que podem matar seus cães”, alerta o Dr. Hodgson.

Uma recente enquete com cirurgiões veterinários britânicos indicou que a parasitose pulmonar canina é agora endêmica em toda a Inglaterra. Antes, o problema estava restrito ao sul do país.

Porém, dar uma de dalek e exterminar todas as lesmas não seria uma boa ideia, segundo o Dr. Hodgson: “Eu não seria feliz ao sugerir que devia haver um apocalipse das lesmas e que todo mundo se livre delas.” Apesar de ser um problema nacional, elas são praticamente inofensivas e a solução está em dar atenção às interações entre cães e lesmas. Os cientistas sugerem que os proprietários de cães devem inspecionar seus jardins regularmente e evitar o contato entre os animais.

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