Elementar, meu caro Doyle

Dr, Bell. Mas pode chamar de Holmes, Watson e House.

Toda história de ficção tem um pé na realidade. Personagens, inclusive os mais importantes, podem ser inspirados por pessoas conhecidas do autor. Em 1877, enquanto trabalhava como secretário na Edinburgh Royal Infirmary, Arthur Conan Doyle (1859-1930) conheceu o cirurgião escocês Joseph Bell (1837-1911).

Mais que um cirurgião bem-sucedido, médico pessoal da Rainha Vitória na Escócia e lecturer da escola de medicina da Universidade de Edinburgo, Bell era notório pelas deduções que fazia a partir da observação dos pacientes que apareciam em seu consultório. Em um caso, por exemplo, ele percebeu que um homem era “um soldado, oficial da reserva, que prestou serviço militar nas Bermudas”.

O homem confirmou que era aquilo mesmo. Mas como Bell adivinhou? Ele explicou aos seus estudantes as pistas observadas: “O caso está na própria simplicidade. Ele entrou na sala sem tirar o seu chapéu, do mesmo modo que entraria numa sala em um quartel. Era um soldado. Um ar levemente autoritário, combinado com sua idade, mostrava que ele era oficial da reserva. Um pequeno rash em sua testa demonstrava que ele esteve nas Bermudas, onde sofreu um rash conhecido por só ocorrer lá”.

Em outra ocasião, Bell lançou um desafio aos seus estudantes: identificar uma droga amarga apenas pelo gosto. Para demonstrar isso, Bell botou a ponta de um dedo no frasco do medicamento e levou-o à língua fazendo uma careta. Ninguém percebeu que era uma pegadinha: “Gentlemen”, disse ele, rindo. “Sinto profundamente descobrir que nenhum dos senhores desenvolveu esse poder de percepção de que tanto falo. Se tivessem observado mais atentamente, teriam percebido que, embora eu tenha colocado o indicador no remédio, foi o dedo do meio que levei até a boca.”

Além de tudo isso, Bell esteve envolvido em algumas investigações da polícia escocesa como consultor forense. Doyle transformou Bell não em um mas em dois personagens: o poder de dedução ficou com Sherlock Holmes enquanto que o médico virou o personagem co-adjuvante, Dr. Watson (ainda que numa ocasião especial, Watson tenha dado uma de Sherlock). O cirurgião escocês sabia que havia inspirado Holmes e costumava se divertir com isso.

Inspirado em Holmes, outro personagem da ficção que pode ser considerado um neto de Bell é o ranzinza e sagaz Dr. House. No 11º. episódio da quinta temporada, House é presenteado com o Manual Of the Operations of Surgery de Bell.

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