O liga-desliga linguístico

Language

O que dá mais trabalho para um cérebro bilíngue: desligar a língua-mãe ou ligar o segundo idioma?

Let’s say that you are talking to someone in English and do nada, deixa escapar uma palavra em português. Não é um lapso de memória nem um falso cognato: você sabe perfeitamente bem, por exemplo, que a palavra para “trocar, alternar” é “switch“. E mesmo assim o que sai da sua boca é justamente “troca”. Esse pequeno apagão linguístico demonstra quão fácil é mudar de língua para o cérebro bilíngue. “Uma característica notável dos indivíduos multilíngues é sua capacidade de alternar rapida e precisamente entre suas diferentes linguagens”, explica Esti Blanco-Elorrieta, da Universidade de Nova York (NYU) ao MedicalXpress.

Trocar uma língua por outra, claro, exige algum esforço mental. Pesquisas têm revelado que a alternância linguística causa um aumento de atividade em áreas associadas ao controle cognitivo, como o córtex pré-frontal. No entanto, ninguém sabe qual o motivo dessa atividade extra: seria o desligamento da língua materna ou a ativação da segunda língua?

Para responder essa pergunta, Blanco-Elorrieta buscou a orientação da Professora Liina Pylkkänen, dos departamentos de Psicologia e Linguística da NYU. Logo, os dois perceberam uma dificuldade óbvia para o estudo do troca-troca linguístico: a ativação de uma língua e a desativação de outra ocorrem em pessoas bilíngues ou poliglotas at the same time. Quando você solta uma palavra ou expressão em inglês num diálogo com outro brasileiro, não tem delay se for fluente: você desliga o circuito do português, abre o canal do inglês e depois volta a ativar o sistema operacional da última flor do Lácio. Como se não bastasse, ainda há uma barreira motora: não dá pra pronunciar a mesma palavra em duas línguas ao mesmo tempo.

Em colaboração com Karen Emmorey, da Universidade Estadual de San Diego, os pesquisadores nova-iorquinos encontraram um meio de contornar as barreiras da simultaneidade e da pronúncia. Na verdade, passaram a usá-las a seu favor. Para conseguir isso, o grupo estudou indivíduos fluentes tanto em inglês quanto na língua de sinais americana (ASL). “O fato de que podem usar ambas ao mesmo tempo oferece uma oportunidade única para desemaranhar os processos de ativação e desativação — o on e off das línguas”, esclarece Blanco-Elorrieta.

Tradução Simultânea

Os participantes bilíngues dessa pesquisa eram estimulados pelos pesquisadores a passar por diferentes estados ou modos de comunicação. Em alguns casos, os falantes/intérpretes de inglês/ASL começavam a emitir uma mensagem numa das línguas e tinham que começar a falar nas duas (o que isola o processo de ligação). Em outros, partiam de um discurso em ambas as linguagens e tinham que escolher apenas uma (isolando, assim, o processo de desligamento).

Para captar esses processos com mais precisão, os cientistas também observaram os falantes/intérpretes diante de uma tarefa comum: ver a mesma imagem e expressá-la de modo semanticamente idêntico nas duas línguas. Em ambas as abordagens, a atividade cerebral desses participantes bilíngues foi medida através da magnetoencefalografia (MEG), uma técnica que mapeia a atividade cerebral a partir dos campos magnéticos gerados pelas correntes elétricas produzidas pelo cérebro.

Recém-publicados na Proceedings of tha National Academy of Sciences, os resultados indicam que, ao desligar uma das línguas, os bilíngues fluentes em inglês/ASL experimentavam um aumento nas áreas de controle cognitivo. Por outro lado, ligar uma língua era quase indiferente em termos de esforço. Essa indiferença na ativação da segunda língua independe do tipo de linguagem — pouco importa se a língua ativada era o inglês falado ou o ASL e seus gestos. Entretanto, o esforço de desativação é maior no caso da língua-mãe. “Especificamente, essa pesquisa revela pela primeira vez”, diz a prof. Pylkkänen, “que embora a desativação de uma língua requeira algum esforço cognitivo, a ligação de uma nova linguagem acontece praticamente de graça do ponto de vista neurobiológico.”

Por trabalhar com pessoas fluentes em linguagem de sinais, esta pesquisa pôde fazer algo que seria impossível com fluentes apenas em línguas faladas: estudar a fala simultânea em ambas as línguas. Por mais rápido que alguém seja ao falar, não dá pra dizer “amarelo” e “yellow” simultaneamente. Assim, intérpretes de ASL podem fazer algo parecido para responder à seguinte pergunta: falar línguas distintas ao mesmo tempo é mais trabalhoso que uma só? De maneira surpreendente, não. Ao produzir duas palavras de modo simultâneo (a versão falada e o gesto correspondente), os bilíngues inglês/ASL não tinham um esforço cognitivo muito maior. Na verdade, isso até os ajuda, já que torna mais fácil suprimir a língua dominante (o inglês falado) quando precisavam expressar a imagem vista apenas em ASL.

No fundo, a pesquisa apenas confirma algo que todo bilíngue já experimentou: não é fácil silenciar a voz que nos fala na língua materna. Sometimes, it gets louder e se mete onde não é chamada. Sorry.

Referência

rb2_large_gray25Esti Blanco-Elorrieta et. al. Decomposing language switching: MEG evidence from bimodal bilinguals [Decompondo a alternância de línguas: evidência de MEG a partir de bilíngues bimodaisPNAS (2018). https://doi.org/10.1073/pnas.1809779115

chevron_left
chevron_right

Join the conversation

comment 0 comments
  • Lidia Santana

    Fantásticas colocações , informações precidas e inovadoas. Adorei .

Leave a comment

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comment
Name
Email
Website