Capítulo 12
Como a desinformação tem atrapalhado nossa resposta à COVID-19p.94-97
26 de maio de 2020
Natália Martins Flores
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Revisão: Érica Mariosa Moreira Carneiro e Maurílio Bonora Junior
Edição e arte: Carolina Frandsen P. Costa
A notícia de que o Brasil atingiu, nesta semana, o segundo lugar de país com maior número de contaminados de COVID-19, tornando-se o novo epicentro da doença, mostra que estamos falhando miseravelmente no controle da pandemia. Uma avalanche de notícias e informações falsas tem nos distraído e dividido bem no momento crucial em que deveríamos focar todas as nossas energias no combate ao vírus.
Semana epidemiológica #22
Média móvel de novos casos no Brasil, na ocasião de publicação deste texto
1.031 óbitos registrados no dia (21.159 ao todo)
Especialistas têm chamado essa onda de circulação de notícias e informações falsas nas redes sociais de
Todos nós estamos vulneráveis a cair no conto da desinformação e das Fake News, independente de classe social ou nível de instrução. Nosso cérebro tenta se agarrar a certezas que nos tragam o controle da situação, diante do contexto incerto da pandemia da COVID-19. A falta de dados sólidos, já que os cientistas recém estão descobrindo como age o novo coronavírus, e o pânico de contrair a doença são ingredientes eficientes para espalhar desinformação, segundo avalia Cristina Targuila, diretora da Rede Internacional de Verificadores de Fatos (IFCN) [1]. Muitas vezes, a informação falsa chega pelas mãos da tia avó que não faria mal a uma mosca, no grupo de Whatsapp da família, com intenção de proteger seus parentes contra o coronavírus.
A comunidade internacional de verificadores de fatos tem observado diversas ondas de Fake News e desinformação. Tem de tudo: de teorias conspiracionistas da origem forjada do vírus em laboratórios chineses, uso de informações para espalhar pensamentos religiosos, antivacina e supremacistas, até informações sobre curas e falsas medidas preventivas para enfrentar a pandemia.
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Tudo fica mais confuso quando vemos autoridades e profissionais de saúde repercutindo esses discursos de cura. Uma das principais fontes de desinformação sobre COVID-19 no Youtube são canais de médicos ou pessoas que se apresentam como médicos, segundo uma pesquisa [2]. Em 30% dos vídeos com mais de 100 mil visualizações, o conteúdo vem relacionado à venda de produtos, cursos e publicações para aumentar a imunidade das pessoas. Ou seja, médicos e nutricionistas transformaram a pandemia em oportunidade de negócio.
Além de trazer riscos à saúde individual, a desinformação afeta o modo como estamos lidando com a pandemia. Muitas informações falsas têm sido usadas com fins políticos para enfraquecer as ações de isolamento e distanciamento social, única forma conhecida de conter o avanço do vírus. Em alguns casos, os mensageiros deste conteúdo são autoridades políticas e governos. O presidente Jair Bolsonaro segue batendo na tecla da cloroquina como medicamento que cura a COVID-19, mesmo com a comprovação de diversos estudos científicos de que a droga não traz benefícios e pode agravar os casos da doença. O deputado federal e ex-ministro da Cidadania, Osmar Terra, foi o congressista que mais publicou Fake News sobre a COVID-19 no Twitter, segundo o site Aos Fatos [3].
Em quem confiar, então?
Ao mesmo tempo em que agentes ativos tem disseminado desinformação, muita gente tem trabalhado incessantemente para minimizar as consequências da infodemia. Universidades e instituições de pesquisa criaram sites com informações confiáveis sobre a COVID-19 (veja os exemplos no Capítulo 1). Na plataforma COVID Verificado, o usuário pode mandar suas próprias dúvidas sobre o coronavírus. Tem site especializado na checagem de fatos, como Aos Fatos e A Lupa. A Agência Aos Fatos chegou a criar uma robô checadora de dúvidas sobre a COVID-19. Aqui, no Blogs, também separamos uma lista com fontes confiáveis para ajudar o leitor a navegar nesse mar de informações. Entre elas está, claro, o site da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Devemos adotar uma postura de desconfiança em relação às informações compartilhadas em grupos de Whatsapp e outros aplicativos de mensagem. Afinal, a nossa confiança em informações verdadeiras – comprovadas cientificamente – pode salvar vidas. ■
PARA SABER MAIS
- Knight Center Courses. Entrevista com Cristina Tardaguila. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IM7haZyQ9JM
- Machado, Caio et. al. Ciência contaminada: Analisando o contágio de desinformação sobre coronavírus via YouTube. Relatório 1 de estudo do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD) e Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (Cepedisa), maio 2020. Disponível em: https://laut.org.br/ciencia-contaminada.pdf?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=cincia_contaminada
- Fávero, Bruno e Cuba, Marina Gama. Osmar Terra é o congressista que mais publicou desinformação sobre COVID-19 no Twitter. Aos Fatos, 2020. Disponível em: https://www.aosfatos.org/noticias/cotado-para-saude-osmar-terra-e-congressista-que-mais-difundiu-desinformacao-sobre-coronavirus-no-twitter/.
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Outros materiais:
- Senechal, Alexandre. Cloroquina não traz benefícios e aumenta risco de arritmias, diz estudo. Veja Saúde, 2020. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/cloroquina-maior-estudo-ja-feito-nao-encontra-qualquer-beneficio/
- FAQ – Coronavírus. Disponível em: https://www.unicamp.br/unicamp/coronavirus/faq