Deu na Nature: Prontos ou não, lá vêm os testes genéticos.

do original “Ready or not”, Nature

Prontos ou não, os testes genéticos comerciais chegaram pra ficar.Várias empresas já vendem kits que permitem coleta e seqüenciamento de trechos do DNA do cliente para calcular risco de doenças como diabetes, câncer ou Alzheimer. Isto tem levantado preocupações. Afinal, os clientes estão cientes do que significa esse risco? Como manter os clientes atualizados com as novas pesquisas que irão refinar cada vez mais estes cálculos? Quem irá regularizar este novo mercado?

Os clientes potenciais destes testes devem ter conhecimento elevado sobre a biologia envolvida neste processo para poder tirar proveito desta informação, e as empresas devem se comprometer a manter estes clientes informados dos avanços nos estudos genéticos relacionados aos testes. Claro que deverá haver uma regulação, e talvez mínima já seja o sufuciente, como a que é feita hoje em dia em outros testes e exames, como os de ressonância magnética.
Mas este sistema só funcionará se também os pesquisadores desta área estiverem dispostos a tomar parte da responsabilidade desta revolução, agindo quando necessário para evitar abusos e enganos.

A química e a genética do amor

Acabou de entrar no ar uma empresa de serviços online para solteiros que querem achas seus companheiros ideais. Mas este site, ao contrário dos milhares que já existem nesta área, vem com uma idéia nova. Agrupar as pessoas pelo DNA.


Um fato da teoria evolutiva é que a diversidade propicia evolução. Principalmente se a diversidade for do sistema imune. Portanto quanto mais diferente entre si for o sistema imune dos pais, uma criança vai ter uma defesa maior a infecções, um maior repertório para responder a microorganismos.


Se esta informação estivesse só no DNA não conseguiríamos escolher as pessoas com sistema imune diferente do nosso, e a coisa seria aleatória. Mas alguns estudos têm mostrado que preferimos o odor natural de pessoas que têm o sistema imune mais diferente do nosso. Ou seja, os humanos usam o faro para ajudar na decisão de escolha de parceiro.


Foi apostando nisto que o idealizador do site de encontros montou seu negócio. Por 1.995 dólares você recebe um kit para coletar células raspadas de sua boca e enviar para um laboratório que seqüenciará essas regiões de diversidade do sistema imune, conhecidas como MHC. Claro que há um questionário como em todos os sites de encontros, talvez perguntas como qual seu hobbie ou comida preferida. Somando tudo isto, personalidade e genética, a promessa é de achar o seu par perfeito, com quem vai rolar aquela química, como promete o site.


Caso este site realmente funcione acima da média dos outros sites de encontro, será a prova de que em relações humanas os opostos se atraem.


Links:

K. Grens, “Darwin hits dating,” The Scientist, June 28, 2007.
http://www.the-scientist.com/news/display/53296/

N. Atkinson, “Match ‘n’ sniff: The MHC T-shirt conundrum,” The Scientist, September, 2006.
http://www.the-scientist.com/2006/9/1/32/1/

Garver-Apcar C.E. et al., “Major histocompatibility complex alleles, sexual responsivity, and unfaithfulness in romantic couples,” Psychol Sci, 17:830-5, 2006.
http://www.the-scientist.com/pubmed/17100780

Meu genoma, minha privacidade


Estamos cada vez mais perto de um dos sonhos da medicina: a medicina personalizada. A idéia é simples, conhecer cada pessoa, sua fisiologia, psicologia e genoma, e prevenir ou tratar cada um de acordo com as suas características especificas. Afinal somos diferentes uns dos outros, temos resistências diferentes a doenças e respondemos de maneiras diferentes aos tratamentos. Os seqüenciamentos pessoais de genoma terão um papel essencial nessa nova medicina.

Hoje em dia ainda é demorado e caro fazer seqüenciamento de um genoma inteiro, mas a perspectiva de isso vir a ficar mais fácil é clara. Recentemente um grupo anunciou o seqüenciamento de dois cromossomos de um indivíduo. O líder do grupo, que teve seus cromossomos 23 seqüenciados descobriu algumas coisas interessantes com isso: a seqüência de seu gene ABCC11 indica que ele tem tendência a ter cera de ouvido úmida ao invés de seca; uma repetição de quatro seqüências antes de seu gene MAOA indica um comportamento social normal, já que a presença de apenas três dessas seqüências ocorre em muitas pessoas com comportamento anti-social. Também algumas informações preocupantes foram descobertas. O seu gene APOE está associado a maior risco de doenças cardiovasculares e Alzheimer, e a sua variação do gene SORL1 também está ligado a Alzheimer.

Ótimo saber tudo isto certo? Agora podemos estar mais atentos e prevenir este cara contra estas doenças indicadas pelos seus genes! Mas vamos nos por no lugar do cidadão que foi seqüenciado. Essa tendência a Alzheimer não deve ser fácil de esquecer. Como lidar com esta situação? Muita gente pode se derrotar ou ficar com aquele fantasma da doença que pode aparecer a qualquer momento. Afinal não há ainda cura para isto. Devemos ter claro que estas ligações entre genes e doenças são produto de pesquisas que comparam seqüências de genes de pessoas que tem e não tem Alzheimer, por exemplo. Algumas variações podem estar muito ligadas à doença, e vão aparecer bastante no grupo dos doentes e não muito nos saudáveis. Mas não há um fatalismo, nada é certo. Alguns doentes podem não ter a variação e não-doentes podem possuí-la.

Além do peso psicológico que estes seqüenciamentos pessoais carregam há ainda outras questões em jogo. Como uma empresa de seguros agiria tendo em mãos o perfil genético de seus clientes? Fica claro que a chance de quererem cobrar de forma diferenciada, simplesmente com base nas tendências, é grande. Cobrar por doenças que ainda não surgiram se é que vão surgir. O mesmo vale para a contratação em empresas. Além de provas, entrevistas e dinâmicas, uma gota de sangue poderia ser parte da seleção, e a contratação dependeria de seu perfil genético. Claro que isto seria a base para a descriminação genética, já imaginada no filme “Gattaca“. Mas a sociedade parece estar se prevenindo. Leis que proíbem o uso de informações genéticas por empresas e que garantem a liberdade do indivíduo querer saber ou não essas informações estão sendo aprovadas nos Estados Unidos e discutidas por todo o mundo.

Referências:

Your Genes and Privacy – Louise M. Slaughter, Science 11 May 2007: Vol. 316. no. 5826, p. 797

All about Craig: the first ‘full’ genome sequence – Heidi Ledford,Nature Vol 449|6 September 2007