O progresso do Brasil pode ser percebido no aumento da expectativa de vida da população. Mas como problema nunca é demais, junto com o progresso vem as doenças características de países desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Uma delas é a Degeneração Macular Relacionada à Idade, o assunto de hoje nesse texto escrito a quatro mãos com o Dr. Caio Regatieri, que é oftalmologista, PhD em Ciências e meu colega de laboratório (onde faz pós-doutorado).
O que é a DMRI e como afeta a visão?
Essa doença causa importantes alterações na mácula (região da retina que deixa você ver nitidamente o centro do seu campo visual), fazendo com que as linhas fiquem tortas e a parte central da visão fique escura. Ela se apresenta em duas formas clínicas:
- DMRI úmida (neovascular ou exudativa): ocorre pelo crescimento de novos vasos sanguíneos atrás da retina a partir
da coróide (responsável pelo suprimento de sangue da mácula); pode ocasionar o descolamento da retina.
- DMRI
seca (atrófica): ocorre por acúmulos de material extracelular chamados drusa (comuns acima dos 40 anos) e também pode levar ao descolamento da retina.
A forma atrófica é mais comum e leva a perda lenta da visão, enquanto pacientes com DMRI neovascular perdem a visão de modo súbito e grave. Uma das “boas notícias” é que a DMRI não leva a perda total da visão por preservar a visão lateral, ou seja, ela não causa cegueira.
Pedi para o Dr. Caio deixar algumas dicas para passarmos para nossos conhecidos mais velhos (pais, tios, avós, etc.):
Como identificar?
1. Linhas retas, como o batente da porta e prédios, começam a aparecer distorcidas;
2. As letras aparecem borradas na leitura;
3. Aparecimento de uma mancha negra no centro da visão.
O que devo fazer se tiver DMRI?
Você deve checar a visão central de cada olho separadamente pelo menos uma vez por semana. Se ao fazer isso perceber alguma diferença procure seu oftalmologista rapidamente.
Existe tratamento?
Não para a DMRI seca. O estudo AREDS (Age-Related Eye Disease Study, ou doenças oftalmológicas
relacionadas à idade), realizado pelo “braço oftalmológico” do NIH, acompanhou 3640 pacientes por uma década para avaliar os efeitos de antioxidantes e zinco na prevenção da DMRI e da catarata. Nos resultados pacientes com DMRI intermediária ou avançada que usaram vitaminas antioxidantes apresentaram progressão mais lenta da doença.
Já a DMRI úmida tem dois tipos de tratamento: o primeiro utiliza laser para cauterizar os vasos anormais que surgiram na retina, apesar de também prejudicar a retina saudável próxima à área afetada pela doença. O segundo tipo e mais novo é o uso de medicações que bloqueiam algumas moléculas responsáveis pela formação deses vasos como o VEGF (sigla em inglês para fator de crescimento de vasos endotelial). Os medicamentos utilizados atualmente são Bevacizumabe (AVASTIN) e Ranibizumabe (LUCENTIS).
Perspectivas de tratamento
Apesar dos resultados favoráveis no tratamento com os anti-VEGF novas moléculas que bloqueiam a formação de vasos têm sido estudadas para tratar a DMRI na forma úmida.
O grupo de pesquisa formado pelo Depto. de Oftalmologia e pela Disciplina de Biologia Molecular da UNIFESP estuda a ação de novas drogas com esse potencial, sendo que um desses projetos investiga a ação de um medicamento chamado infliximabe. Normalmente utilizado para tratar doenças reumatológicas, a injeção de pequenas quantidades dentro do olho de ratos causou uma redução de 50% no tamanho da lesão neovascular. Outros experimentos mostraram que a droga não é tóxica para retina e em breve será iniciado o protocolo clínico para avaliação de sua eficácia no tratamento de DMRI úmida e também de retinopatia diabética.
Outro projeto utilizou um composto isolado da cabeça do camarão marinho L. vannamei, que possui potente ação antiinflamatória e pouca ação anticoagulante. Pequenas doses foram capazes de reduzir a área de lesão em 63%, e esta molécula também será testada em pacientes.
Como temos estudado muitas moléculas semelhantes em nosso laboratório, esperamos desenvolver de novos tratamentos para várias doenças relacionadas ao crescimento desordenado de vasos sanguíneos.
Melhor que falar de novos tratamentos só quando esses tratamentos são produto da ciência nacional, não acham?!
Para mais informações sobre DMRI e outras doenças acessem o site
da Unidade Paulista de Oftalmologia.
Regatieri,
C., Dreyfuss, J., Melo, G., Lavinsky, D., Farah, M., & Nader, H.
(2009). Dual Role of Intravitreous Infliximab in Experimental Choroidal
Neovascularization: Effect on the Expression of Sulfated
Glycosaminoglycans Investigative
Ophthalmology & Visual Science, 50 (11), 5487-5494 DOI: 10.1167/iovs.08-3171