Montanha russa de emoções: Platô

Você já experimentou a sensação de entrar numa montanha russa e lentamente ela seguir seu curso te trazendo aquele pensamento: “Quando é que a emoção vai (re)começar”? Foi exatamente assim que eu senti esse segundo ano do doutorado, momentos de calmaria seguidos de fortes emoções.

Meu segundo ano começou naquela empolgação toda de fazer tudo diferente, eu decidi mudar minha vida, recomeçar, deixar de lado tudo que não me fazia bem, me resolver com o meu passado e buscar uma nova versão de mim mesma. Mas como todas as promessas de final de ano, planejar é bem diferente de agir, e muitos desses meus planos se mostraram grandes desafios.

A idéia inicial era cuidar da minha mente, aprendendo a lidar com o estresse; aprendendo a cuidar do meu corpo, com exercícios regulares; da alma, buscando me conhecer cada dia melhor; dos meus relacionamentos, redescobrindo o que ainda me bloqueava, porque definitivamente, tempo não deveria ser um problema pra iniciar um relacionamento. E pra começar, eu decidi separar minha vida pessoal da profissional, liberar minha mente a partir do momento que eu deixasse o laboratório, e esperava que isso já resolvesse grande parte do meu problema com o estresse. De fato isso funcionou, apesar de que ainda naquela época, toda minha diversão também estava ligada ao lab.

Após um primeiro trimestre de calmaria logo veio o baque, duas semanas daquelas que você acorda pensando: “Pra que eu saí da cama?”, emocionalmente eu estava esgotada, e foi um momento de me perguntar “Pra que? O que eu tenho que mudar? O que eu tenho que aprender? Eu estou feliz? Se eu morresse agora, isso teria sido o suficiente?”. Muitas perguntas sem resposta, com excessão de uma, “Não, não era nada suficiente”. E eu precisava buscar pelo meu suficiente, eu precisava me reecontrar.

Provavelmente como recompensa por tudo de ruim eu ganhei um grande presente, uma viagem para o México, onde eu poderia reencontrar grandes amigos e me dar férias. Foi então que eu decidi me dedicar ao máximo para deixar minha vida no doutorado em ordem para depois tirar uns dias sem nem pensar em trabalho, e o foco foi 100% (Como em nenhum outro momento deve ter acontecido). Aqui eu aprendi a controlar minha ansiedade, me planejando, fazendo e não pensando no próximo passo (Viagem), para que durante a viagem eu pudesse me entregar da mesma forma.

Claro que isso teve consequências, minha viagem foi com 0 de programação, mas dentro de mim eu sabia que eu só precisava viver um pouco, sem pensar em um futuro que nem poderia chegar. Foi assim que eu passei dias intensos, com muitas emoções, muitas descobertas e algumas curas também. Eu reencontrei uma parte de mim que havia ficado no intercâmbio, e eu me vi sendo alguém que eu não queria mais abandonar. Além disso, eu me dei conta que eu era capaz de amar, de ser amada, eu só precisava me permitir. É, eu precisei ir pra longe pra perceber que o que me impedia de dar certo com alguém, era eu mesma.

Foi assim que eu voltei disposta a me permitir, a me apaixonar, a me envolver de verdade. Nesse momento minha prioridade deixou de ser o doutorado e passou a ser me entender com a minha vida amorosa, mas sem deixar os afazeres de lado, claro! Isso não terminou exatamente como eu esperava, e eu terminei o ano exatamente como eu comecei, solteira, mas com uma grande diferença, eu já conseguia assumir a minha vontade de estar com alguém, sem desculpas. Novamente entra a aceitação sincera de quem somos, o olhar sem julgamento que devemos ter inclusive com as nossas sombras.

Nesse momento eu já tinha feito grandes amigos ali, eu sentia que eu estava no meu habitat natural e tudo era tão simples e tão confortável. Eu me dei conta que eu sabia analisar as pessoas (ou achava que sabia), eu estava bem, segura, confiante, estava cuidando da minha alimentação, fazendo exercícios, tinha começado a meditar, enfim… era uma rotina gostosa, meu terceiro momento de calmaria e muitos planos para iniciar. Até que, ao final do ano, eis que surge uma proposta de emprego, e eu me deparei com uma grande mudança que poderia ocorrer se eu aceitasse. Novas pessoas, um ambiente mais duro e exigente (algo que eu ainda não tinha noção na realidade), uma nova linha de trabalho, e aí? Eu estava preparada? Eu era capaz? Eu estava disposta a correr esse risco? Como deixar as pessoas que eu aprendi a amar? O carinho ia ser o mesmo? Deu pra notar que eu pirei um pouquinho né?

Foram muitas perguntas nesse momento, e o que me ajudou a decidir foi uma das bases da economia: “Quanto maior o risco, maior o retorno”, será? De qualquer forma, eu queria muitas coisas da vida (e ainda quero) e tinha voltado de viagem decidida a me arriscar nos relacionamentos, mas a oportunidade que bateu à minha porta para mostrar que eu sou alguém que corre riscos e se joga de cabeça não foi bem a que eu esperava, mesmo assim, eu ia simplesmente deixar passar? Que tipo de hipócrita eu seria? Foi aí que eu percebi que não tinha como dizer não, e fui em frente apesar do medo… de novo. Afinal, quem disse gostar de calmaria?

“Nada é permanente, exceto a mudança.”

Heráclito

Dessa forma terminou meu segundo ano de doutorado, com a certeza de que eu preciso estar sempre em um processo de descobertas, e devo ser flexível para permitir que a vida aconteça dentro de mim. Assim, ficou pro próximo ano:

Aprendizagem: “Nada acontece sem a permissão!”

Ação: “Viver, viver e viver, porque só Deus sabe o que me aguarda no próximo minuto.”, claro que isso veio embebido em litros de ansiedade!

 

Espero que vocês estejam curtindo um pouquinho da minha história, e que continuem acompanhando até o último post. Até o próximo ano! 😉

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Sobre Sheila Tiemi Nagamatsu

Formada em Biotecnologia pela UFSCar, Dra. em Genética e Biologia Molecular com ênfase em Bioinformática na UNICAMP, apaixonada por desenvolvimento pessoal e, atualmente, pós-doutoranda em YALE na área de psiquiatria.

Uma resposta para Montanha russa de emoções: Platô

  1. Massa, é tenso jeje. parabéns, ling live a vossa pesquisa!

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