Montanha russa de emoções – A cura

Sabe aquela história de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar? Quando se trata das nossas emoções isso não é bem verdade, nós somos sim capazes de sentir a mesma coisa duas vezes, mas nem sempre de forma consciente. Quando se trata de depressão há um agravante, o desespero por saber onde você pode chegar. Há uma cura para isso? Qual a vantagem de ser o “segundo raio”?

Mal terminou a metade do ano e eu já tenho a sensação de que eu vivi uma vida inteira. No meio de toda a turbulência apresentada no post anterior eu passei a viver muito em função do que havia acontecido, isso porque apesar de eu conseguir encontrar oportunidades na minha vida, era como se eu não estivesse completamente livre para seguir outro caminho qualquer, eu estava presa a um passado que eu já não queria. E como não podia ser diferente, o viver no passado me trouxe uma nova onda de depressão durante os dois primeiros meses do ano.

Vocês devem estar curiosos do porque me sentir presa se eu já tinha saído do trabalho, mas a situação foi um tanto quanto complicada porque para pedir minha bolsa de volta eu precisava reviver a situação.

Além disso, muita gente do meu convívio diário tinha algum tipo de ligação com o centro que eu trabalhei, então sempre surgiam comentários sobre o que estava acontecendo, e ainda por cima, passar todos os dias lá por causa do namoro definitivamente não ajudou. Eu não havia superado o baque, e a primeira vez que eu voltei para uma reunião eu tive ainda mais certeza disso, eu senti meu estômago revirar, e eu precisava fugir.

Como ensina a psicologia, nossa primeira reação frente a um trauma é a negação, e eu neguei tudo que tinha relação com o que aconteceu, como se não tivesse valido a pena. Eu passei a reclamar das pessoas que estavam ao meu redor, do ambiente que eu estava, da cidade, até que eu entrei em desespero, porque eu mesma não me aguentava.

De uma hora pra outra eu comecei a mudar o meu exterior, entreguei meu apartamento e estava disposta a deixar a cidade, simplesmente porque eu precisava me afastar, mas o problema não me deixava sozinha em nenhum momento. Além disso, minha imunidade baixou pelo estresse e preocupação e eu passei a ficar doente com uma certa frequência, o que me deixava ainda mais preocupada e estressada. Isso tudo tinha virado um ciclo de loucuras.

No meio desse drama eu me vi na iminência de ter que defender meu doutorado, terminar artigos, e pra finalizar, passar por uma situação que me fez (de novo) colocar em cheque se eu realmente tinha nascido pra isso. Confesso que cheguei bem perto de desistir de tudo, estava continuando apenas por obrigação, eu havia perdido a vontade de levantar de manhã, eu havia perdido o encanto, aquele brilho nos olhos.

E eu definitivamente não era essa pessoa. Onde estava a minha positividade que eu não encontrava mais? Eu comecei então a analisar minha vida e decidi cortar tudo que pudesse aumentar o quadro depressivo: remédios, hábitos, locais e pessoas; e passei a aumentar a frequência daquilo que me tirasse dessa neura toda, voltei a frequentar o coaching, passei a retomar relações com pessoas e lugares que me fizessem bem e decidi retomar hábitos saudáveis (alimentação e exercícios). Foi assim que eu quebrei o padrão, e pude voltar a analisar com tranquilidade o que havia acontecido.

Mas, mesmo com a melhora, eu demorei um tempo para encarar que eu precisava parar e recomeçar, que eu tinha voltado a me colocar como vítima da situação, mas o que de fato eu estava fazendo para mudar? Eu passei a me perguntar pra que eu estava passando por aquilo, o que ainda tinha que aprender? E quando a depressão começou a me deixar, eu comecei a enxergar a luz no fim do túnel e conseguir sair de mim mesma para voltar a observar o mundo ao meu redor. E, com isso, me dei conta do que eu estava causando a mim mesma, de que eu não estava sabendo respeitar a pessoa mais importante da minha vida, eu mesma, e isso começou a refletir em tudo.

Quando nosso interior não está bem, nada ao redor está, porque só somos capazes de ver aquilo que conhecemos.

Confesso que mesmo sem a depressão, a motivação estava longe de voltar, eu não via muita perspectiva, e eu sentia uma falta imensa de ter o controle da minha vida, porque eu sentia estar esperando algo cair do céu. O que eu realmente queria? O que eu realmente deveria viver? Qual o meu propósito? Eu não estava feliz por causa da situação? Que sentido tinha em continuar isso? Por que eu estava me sentindo obrigada a algo? E nisso eu tomei uma nova decisão, ser feliz apesar dos problemas, porque eu não queria mais deixá-los me definirem.

Então, me reaproximei de algumas pessoas e fiz novas amizades, amizades essas que foram essenciais pra minha melhora. E quando eu penso nessas pessoas, uma frase retorna de forma recorrente a minha mente:

“Você é a média das 5 pessoas que você mais convive.” Jim Rohn

E é exatamente isso. Você por um acaso consegue ficar sem reclamar quando está perto de pessoas que passam o dia reclamando? As pessoas tendem a nos ensinar o que elas sabem, e mesmo de forma inconsciente, o ensinamento é passado. O que você precisa aprender? Tenha sempre ao lado pessoas que te acrescentem, te ensinem, e mesmo naqueles momentos ruins, você ainda pode aprender algo, esteja aberto.

Foi aí que eu voltei a me abrir, que eu voltei a esvaziar minha xícara* e comecei a encontrar a minha cura.

Finalmente eu consegui me abrir para analisar o que eu realmente queria da vida, a princípio mudar de área, mas vinha aquela questão recorrente, “Eu queria mudar de área por não gostar de bioinfo ou por ter passado por coisas traumáticas demais esses quatro anos?”. Independente da resposta o coaching me abriu uma grande porta, me deu um novo rumo a seguir e trouxe uma nova motivação.

No meio disso tudo eu consegui uma bolsa para terminar o doutorado, e isso me tirou um peso gigante das costas, mas eu ainda tinha grandes pendências a resolver. Numa dessas surgiu um curso de liderança, e em metade dele eu redescobri minha paixão pela bioinfo, eu me dei conta do quanto eu realmente gosto disso, mas ao mesmo tempo eu precisava viver um pouco da outra área do qual eu me apaixonei, o coaching, mas não da forma convencional, eu sentia falta de mais, porque o coaching como eu conhecia não era suficiente para o que eu queria, eu buscava um método que me ajudasse a resolver meu próprio problema, como liderar meu próprio projeto, como me tornar uma pessoa mais eficiente, como gerir meu tempo e principalmente, como buscar a motivação necessária para viver tudo que eu quero. E nesse momento eu posso afirmar que estou com o brilho nos olhos que eu perdi no meio do processo inteiro.

 

Aprendizados: “A nossa verdade sempre pode ser alterada, o fato será sempre o mesmo, mas a história contada por trás dele é que fará a diferença.”

Ação: “Transformar todas as dores passadas na minha maior benção**.”

 

E, apesar de ter terminado boa parte das minhas preocupações, final de doutorado é sempre final de doutorado, e a cada dia nossa história é redesenhada, e cabe a cada um de nós definir qual será a história a ser contada a partir de agora.

 

* Referência a uma história da filosofia oriental que compara o conhecimento a um xícara de chá.

** Referência a um post da Flávia Melissa

 

 

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Sobre Sheila Tiemi Nagamatsu

Formada em Biotecnologia pela UFSCar, Dra. em Genética e Biologia Molecular com ênfase em Bioinformática na UNICAMP, apaixonada por desenvolvimento pessoal e, atualmente, pós-doutoranda em YALE na área de psiquiatria.

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