No Zero a gente leu “Projetos de Modelagem Matemática: Ensino Fundamental e Médio” de Márcio Urel Rodrigues et al.
Quando estava elaborando a disciplina optativa Introdução à Programação em Scratch (discuto sobre essa disciplina neste texto: Scratch para professores de Química), vinha com uma proposta (bastante ingênua) em mente. Queria que meus alunos fizessem como projeto final da disciplina, algo relacionado à modelagem matemática. Por isso fui atrás de materiais de leitura relacionados e encontrei este livro, que depois de explicar a situação a Editora CRV me doou um exemplar para desenvolver tanto o planejamento da disciplina, quanto este post falando sobre o livro.
A parte 1 desse livro, eu realmente devorei. Ela trata sobre teorias da educação, os benefícios e condições que envolvem o emprego da modelagem matemática como forma de ensino, processos de aprendizagem e a parte que mais gostei (pois estava em uma busca por formas diferentes de avaliação), é o capítulo tratando sobre como avaliar atividades com modelagem matemática. Nesse capítulo em particular, são tratadas diversas estratégias, desde a mais tradicional, como várias outras, os aspectos que a envolvem, como são realizadas, e algumas críticas sobre cada uma delas. Penso que o livro critique bastante a avaliação tradicional (em comparação com as outras), pois esta acaba se tornando uma tendência (dar prova), que se não for confrontada com mais intensidade, pode devido a sua maior “tradição”, se tornar a predominante na mente do leitor. Mas essa é uma questão que mesmo confrontando, o livro ainda faz considerações de seus papéis, não havendo um manequeísmo a seu respeito. A parte 1 foi exemplar para o que esperava deste livro, já que ela contextualiza bem sem se aprofundar mais do que o necessário, na temática Modelagem Matemática no Ensino.
Nas partes seguintes o livro traz propostas acompanhadas de experiências e contextualizações teóricas a respeito da Modelagem Matemática nos Anos Finais do Ensino Fundamental e Médio. São textos de vários autores, cada um com um estilo de escrita próprio, com focos e formas de estruturar seus textos que mesmo dentro de um determinado padrão que se esforçavam em seguir, via-se as diferenças de um capítulo para o outro. Não considero que essa variação de autores e experiências tenha sido ruim, muito pelo contrário, o livro nos apresenta um banquete diversificado de situações e propostas que utilizaram modelagem matemática no ensino, e seus objetivos. Mas o que gera um certo incomodo nesta parte, é a questão da teoria que circunda cada capítulo, pois em poucos parágrafos tratar dos fundamentos de cada experiência, como se estivessem atendendo a um check list, ficou um tanto forçado. Houve assim uma certa repetição de um raso mergulho teórico em cada capítulo, e as vezes este mergulho ocorria tão rápida e suavemente, que se notava a intenção de dizer que foi tratada a teoria. Enquanto em outros, parece que o mergulho teórico se dava com tanta prioridade, que a experiência e proposta apresentava, ficava em segundo plano.
Assim, a parte 2 e 3 do livro, carregam ricas experiências e propostas validadas pelos seus autores, que podem inclusive trazer direcionamentos para quem esteja buscando ideias para trabalhar com esta abordagem. Mas senti falta de que em vez destes mergulhos teóricos, fosse feita uma discussão teórica sobre as propostas e experiências da parte 2 e 3, já que o livro termina assim, sem um fechamento ou amarração entre as partes. Pode-se dizer inclusive que estes capítulos poderiam ser trocados de lugar, acrescidos ou retirados sem interromper a compreensão ou leitura do livro. O que é uma escolha da organização, mas me deixou com uma sensação de que era possível ter feito um trabalho de discutir o que se apresentou, tratar aquela grande massa de experiências e propostas, e articulá-las tanto com as teorias expostas no início do livro, como também somar neste final um mergulho um pouco mais técnico e artístico entre as teorias ou conceitos que cada capítulo mostrou de relance.
A respeito do desfecho desse livro no planejamento da disciplina optativa Introdução à Programação em Scratch (Scratch para professores de Química), considerei que as experiências e propostas discutidas não se encaixaram tão bem com o que eu imaginava. Talvez pela minha própria ideia errônea de que modelagem matemática estaria diretamente relacionada com a elaboração de modelos computacionais, o que não é verdade. Sobretudo neste livro, vemos que o foco da modelagem está no processo de abstração e reestruturação do mundo dentro da linguagem matemática, mas não há um “passo a mais” que envolveria adequar estes modelos de forma que computadores fossem necessários para resolvê-los.
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Agradeço à Editora CRV pelo livro cortesia “Projetos de Modelagem Matemática: para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio” de Márcio Urel Rodrigues, Acelmo de Jesus Brito e William Vieira Gonçalves, que possibilitou a produção desse texto e me ajudou a compreender melhor sobre a estratégia de ensino por Modelagem Matemática e formas de avaliá-la.
Como referenciar este conteúdo em formato ABNT (baseado na norma NBR 6023/2018):
SILVA, Marcos Henrique de Paula Dias da. No Zero a gente leu “Projetos de Modelagem Matemática: Ensino Fundamental e Médio” de Márcio Urel Rodrigues et al.. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. Zero – Blog de Ciência da Unicamp. Volume 10. Ed. 1. 2º semestre de 2023. Campinas, 18 set. 2023. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/zero/5415/. Acesso em: <data-de-hoje>.