O Brasil é o país que mais faz comunicação científica institucional (de instâncias públicas, como universidades e centros de pesquisa)! Ao menos é o que mostra uma pesquisa recente com dados de oito países: Alemanha, Brasil, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Portugal.

Aqui no Blogs Unicamp, talvez sejamos suspeitos para falar da importância da divulgação científica, seja ela institucional ou não. Cada vez mais temos batalhado para que esse processo tenha mais equidade de gênero, etnia e seja participativo. Ao longo desses quase 5 anos, este não têm sido um processo isolado e o trabalho solitário de um ou outro cientista. Pelo contrário, grupos de pesquisa, experts de diferentes áreas estão ocupando este espaço e coletivamente, desenvolvendo juntos a prática da divulgação científica.

Assim como essa prática não é isolada, tampouco é asséptica. Dessa forma, nas trocas, cada vez mais comuns de um mundo on line, conversamos muito sobre qual o melhor formato para produzir conteúdos de Divulgação Científica e como interagir melhor com o público.

Quais formas?

Há quem diga, por exemplo, que a ferrametna de blogs esteja em extinção. Há divulgadores que há muito migraram para diversas outras plataformas. Ou seja, reorganizaram seus conteúdos em vídeos, podcasts, fotos ou desenhos, postagens de textos curtos (os famosos “fios” do Twitter, por exemplo) dentre outros formatos. Também há quem ache que escrever textos com cerca de mil palavras seja árduo e com pouco retorno. Mas, ao mesmo tempo afirme que os custos de outras plataformas podem se tornar difíceis de serem mantidos na frequência. Isto inclui a quantidade que tornem as publicações mais visíveis (graças ao algoritmos).

Além disso, a demanda de tempo e por uma equipe multidisciplinar empenhada em cada uma das etapas de produção de conteúdo é grande. Isto é, aqui ressaltamos o quanto seria importante termos a comunicação e a divulgação científicas com equipes multidisciplinares, demandando cientistas e comunicadores trabalhando juntos desde o princípio das idealizações dos projetos científicos.

Sobre a comunicação científica institucional!

Retomando os dados da pesquisa, a investigação incluiu a comunicação científica para não especialistas em instituições de pesquisa nos seguintes países: Brasil, Alemanha, Itália, Japão, Holanda, Portugal, Reino Unido e Estados Unidos da América. A pesquisa analisou três “tipos” de comunicação científica: eventos públicos, mídias tradicionais e novas mídias (interações on line, sites, blogs e redes sociais, por exemplo). É importante frisar que “comunicação científica” abrange uma série de ações, não apenas de divulgação científica.

Quando falamos interações on line, o mais usual ainda são sites institucionais (73% das instituições atualizaram seus sites ao menos uma vez por mês). Já nas redes sociais como o Facebook e Twitter, um expressivo número de instituições nunca as utilizou como meio de comunicação, (46% o Facebook e 60% o Twitter). Os blogs também não aparecem como um espaço privilegiado dentro das comunicações científicas institucionais. 

Outro ponto desta pesquisa é que apenas 30% de todos os institutos que relatam atividades de comunicação científica, fazem com uma alta frequência. Apenas 50% dos institutos adotou políticas de comunicação e 4 em cada 10 empregam comunicadores para executar esta tarefa, enquanto metade depende de comunicações centralizadas ou escritórios de relações públicas para comunicar suas publicações.

Esta pesquisa indicou ainda que a comunicação institucional não é, ainda, vista como prioridade nestes centros, com o orçamento da comunicação mantendo-se em torno de 3% do orçamento das pesquisas. Entretanto, mesmo parecendo um dado “não lá muito” animador, houve um aumento de comprometimento com as comunicações públicas de ciência (61%) e há expectativas de aumentar ainda mais o engajamento!

E como o Brasil está no cenário da comunicação científica?

Uma das questões interessantes que surgiram nos resultados é o Brasil ser o país que mais realiza comunicação científica em todos os itens analisados: eventos, mídia tradicional e novos meios midiáticos. O número de comunicações via interações on line difere do restante dos países. Especialmente em se tratando da rede Facebook, ficando em menos de 20% o número de instituições que nunca acessou esta plataforma como espaço de comunicação institucional.

Por outro lado, escutamos bastante sobre como “brasileiros não ligam para a ciência e não se interessam por ciência”.

Brasileiro não gosta de ciência? Será mesmo?

O estudo de Percepção pública da C&T no Brasil de 2019 aponta que 73% dos brasileiros acredita que a ciência traz mais benefícios do que malefícios para a sociedade e 55% acredita que cientistas são pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à sociedade. Nesta pergunta sobre a imagem do cientista, é interessante ressaltar ainda o crescimento da ideia de que cientistas são “pessoas comuns com treinamento especial”. Esta foi a resposta de 8% das pessoas em 2010 e 13% em 2015. Já em 2019 tivemos 23% das pessoas respondendo isso! 

A ideia de que cientistas são pessoas comuns com treinamento especial (acho que aqui no Blogs da Unicamp talvez falaríamos em treinamento específico – no sentido da precisão do treinamento…) mostra que de alguma forma a ideia de ciência e cientistas têm se aproximado do imaginário social de modo menos estereotipado, o que é fantástico!

Outro dado importante deste estudo é o Índice de Confiança de fontes confiáveis. Nesta parte da pesquisa, cientistas de universidades ou institutos públicos de ciência apresentam o segundo maior índice de confiança!

Por fim, esta mesma pesquisa apontou que 47% de brasileiros acessam frequentemente ou às vezes conteúdos científicos na televisão e 39% em redes sociais. Esta pesquisa é bem interessante e acompanhamos seus resultados sempre para pensarmos nosso trabalho como divulgadores científicos… 

No entanto, estamos falando da população brasileira. E nós, como cientistas e divulgadores de ciência? Como será que a ciência vem sendo divulgada por estas pessoas que são os “cientistas de universidades públicas”?

Ideias a partir desta pesquisa…

A comunicação principal dos institutos dos países mencionados é via eventos presenciais, ainda (ou era, antes destes momentos de pandemia!). Claro que eventos presenciais, com visitas aos espaços de produção científica, exposições, museus são extremamente interessantes (ao menos no nosso ponto de vista!). Entretanto, se formos pensar em um país com a nossa dimensão e com a concentração destes centros de ciência em lugares metropolitanos, é preciso pensar alternativas para populações afastadas dos institutos de pesquisa consigam acessar, interagir e dialogar com o conhecimento produzido nestes locais!

A pesquisa indica que a comunicação científica torna-se mais ativa conforme têm investimento e políticas institucionais, com contratação de equipes, formação neste campo e pessoas dedicadas a estudar e estruturar a comunicação científica institucional, uma vez que diversifica ações de forma planejada!

A pesquisa é uma das maiores já realizadas na área de comunicação científica institucional. E mais ainda, lança vários questionamentos importantes acerca de como estas comunicações devem ser feitas. Inclusive a partir da relação de profissionalização – tirando dos pesquisadores a possibilidade de suas próprias narrativas, por exemplo. Além disso, aponta para outra preocupação que é sobre como os recursos vão ser direcionados a uma atividade, sem prejuízo da verba para a ciência. Enfim, por último, destacamos a pergunta que os autores sobre se esta comunicação reverte em algo para os institutos e para a ciência em si.

Nossa visão sobre a comunicação científica e a divulgação científica

Aqui no Blogs Unicamp, vivemos debatendo sobre o fazer coletivo da divulgação científica. Claro que “Comunicação Científica” engloba muito mais ações e estratégias do que temos feito e nos proposto neste portal (vocês podem conferir algumas definições nos links das referências).

Todavia, também não percebemos a atividade de divulgação científica como segmentando-se das tarefas de cientistas, como profissionais apartados que eventualmente publicam ou divulgam resultados específicos para públicos não especialistas. Mas, sim, tal como esta pesquisa apontou: é preciso cada vez mais que nos atentemos à necessidade de profissionalizarmos a divulgação científica. Assim como, torná-la parte de nossos planejamentos e etapas da própria produção de conhecimento dos projetos e demandas cotidianas institucionais!

Como assim?

Aqui temos uma ideia de que divulgar ciência é mais do que apresentar resultados científicos – e temos batalhado por isso! É criar uma cultura em que cientistas e grupos de pesquisa se envolvam com o diálogo com a sociedade (e não de maneira individual e sobrecarregando os afazeres cotidianos). Também é investir cada vez mais em trabalhar ações e estratégias de este conteúdo chegar em um público cada vez maior, para estabelecer esta troca!

Isto, em nossa concepção, é buscar uma integração universidade-sociedade, a partir da busca por uma cultura científica, que dialoga, se critica e analisa. Isto é, busca interlocução e acredita que o conhecimento têm que ser ferramenta democrática para compreensão do mundo e de seus fenômenos – em todas as áreas de saber!

A divulgação científica, para nós, não é publicar resultados de laboratórios, apenas. É compreender os mecanismos e processos rotineiros da ciência entre nós – cientistas e divulgadores – e entre a população que não têm a ciência como profissão, mas como direito de conhecer e, também (porque não…), se encantar!

Para saber mais

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) (2019) Percepção pública da C&T no Brasil – 2019. Resumo executivo, Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2019.

Entradas M, Bauer MW, O’Muircheartaigh C, Marcinkowski F, Okamura A, Pellegrini G, et al (2020) Public communication by research institutes compared across countries and sciences: Building capacity for engagement or competing for visibility? PLoS ONE 15(7): e0235191.

Sobre Divulgação Científica

Flores, Natalia (2019) A divulgação científica é vista como estratégica pelo CNPq? Blogs de Ciência da Unicamp, V5, N9.

Carneiro, Erica (2020) Blogs de Ciência da Unicamp: Uma História – Série: Minha Dissertação em DC Blogs de Ciência da Unicamp, V6, N5.

Carneiro, Erica (2020) Blog como ferramenta de divulgação científica – Série: Minha Dissertação em DC. Blogs de Ciência da Unicamp, V6, N5.

Carneiro, Erica (2020) Como divulgar meu conteúdo de divulgação científica nas mídias sociais?. Blogs de Ciência da Unicamp, V6, N7.

Carneiro, Erica (2018) Blogs de Ciência da Unicamp – Ainda estamos aqui. Tubo de Ensaio, Blogs de Ciência da Unicamp. 

Takata, Roberto (2019) Divagação científica: o que é divulgação científica. Gene Reporter

Este texto foi escrito pela equipe administrativa e científica do Blogs de Ciência da Unicamp

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