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Divulgação Científica

Divulgação científica em trajetórias aleatórias da vida (ou “qual o caminho eu devo tomar?”)

Desenho de um gato, com cara de dúvida (mão na boca e pontos de interrogação ao redor do corpo), olhando um mapa em que saem várias setas. Acima do gato está a pergunta: pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?
Alice perguntou: Gato Cheshire... pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar?
Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato.
Eu não sei para onde ir! – disse Alice.
Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.
(Alice no País das Maravilhas)

Recentemente, eu escrevi um texto, a partir de algumas frases comuns de estudantes da Unicamp, ou outros espaços, que eu acompanho. Eu finalizei este texto perguntando para onde gostaríamos de ir com nosso trabalho. Parece-me que é uma pergunta importante em tempos de divulgação científica, especialmente em redes sociais, em que parte da nossa rotina – incluindo o trabalho – se passa nestas plataformas.

Ao contrário do que pode parecer em um primeiro momento, o conselho do Gato Cheshire não diz respeito a chegar em algum lugar por caminhos diversos. É exatamente sobre caminhar sem destino. Pode ser legal por um tempo, se teu interesse é apreciar o caminho. Entretanto, só sabemos quando chegamos em algum lugar quando sabemos que lugar é esse. E o Gato Cheshire fala, com seu irônico sorriso, que talvez seja uma boa ideia delinear onde queres ir, para além de curtir o caminho, saberes quando chegaste lá.

Sobre a divulgação científica nos dias atuais

Trabalhar com divulgação científica, atualmente, é dedicar-se a estes meios virtuais (mesmo em trabalhos presenciais). A comunicação acontece nas redes sociais. Mais do que isso, ao que tudo indica, quando resolvemos iniciar, parece que precisamos saber montar materiais com o formato que aquela rede exige, para alcançar mais pessoas.

Mas… (sempre têm um mas…) as redes mudam, os conteúdos chegam aos nossos seguidores de maneiras que nem sempre compreendemos. Às vezes temos algumas postagens viralizam e nem tínhamos ideia de que alcançaria tanta gente. Ganhamos seguidores e… flopamos logo em seguida.

Outros momentos, precisamos de ajuda financeira e não temos cacife ainda para #publis, mas como temos bastantes seguidores, não custa tentar um pedido né? E qual não é nossa surpresa quando não conseguimos nem um pedacinho ínfimo de nossas metas!

Em algumas ocasiões, montamos um conteúdo lindo, bem trabalhado. Estudamos semanas e… nada. E aí, de maneira despretensiosa compartilhamos um meme e comentamos algo de ciência que faz sentido, mas não precisa “aquele estudo todo” e… viraliza.

Uma treta aqui, uma descontraída aleatória ali, chega época de provas ou prazos de trabalhos e…

Cansa, né?

Estudando engajamentos

Se formos procurar no google algo sobre engajamento, teremos um primeiro conjunto de links dedicados às dicas de como engajar mais, ganhar mais seguidores, aumentar o engajamento das nossas redes e perfis. Mas é sobre isso?

De maneira genérica, podemos dizer que as redes sociais têm três tipos de engajamento em nossos posts: curtidas, compartilhamentos e comentários. Dependendo da rede isso faz nosso conteúdo ser mais ou menos visto por outros usuários – incluindo perfis que não seguem nossos conteúdos, mas seguem perfis que interagiram com o nosso post.

E há algumas confusões bem difíceis de se lidar quando trabalhamos com divulgação científica, pois por um lado nossa comunicação não necessariamente passa por uma monetização dos materiais. Por outro lado, pode ser sim que precisemos disso como recurso em algum momento. Nós podemos, claro, iniciar a divulgação científica sem pretensão de ser um trabalho. Todavia, não necessariamente isso diz respeito a não querer que nossos conteúdos sejam lidos por ninguém ou só por uma pequena rede de amigos e familiares, por exemplo.

(Para ver mais sobre engajamento, há um texto aqui no Cediciências e outro bem legal no Mind Flow).

Precisamos de planejamento e organização?

Quando falamos de engajamento e comunicação científica em redes sociais, temos que ter em mente que nosso nome ou nosso perfil contém conhecimentos organizados a partir de uma linha editorial (que pode não ter sido escrito e organizado por nós), mas que diz respeito à posicionamentos, modos de estruturar o que dizemos e conteúdos que se vinculam ao que pensamos e defendemos como forma de viver em um mundo como o nosso. Isso diz respeito à ciência, política, memes, fotos de gatos, correntes aleatórias, comentários sobre séries, etc.

Sim. Nossos perfis pessoais, quando divulgam ciência, divulgam muito mais do que só “conhecimento científico”, divulgam modos de ver e pensar o mundo. A linha editorial diz respeito, também, a quem nós queremos atingir (público alvo) e quais estratégias para alcançar este público.

Estamos falando aqui (de maneira bem rasa, diga-se de passagem) de marketing digital. E porque eu estou falando disso? Por ser desta maneira que as redes sociais são pensadas quando se trata de trabalho e divulgação… Estar nas redes sociais e interagir a partir da intencionalidade de sermos compartilhados por alguma ação que fazemos de maneira mais ou menos contínua (como a DC), nos leva a estas questões. E, neste sentido, precisamos tomar algumas decisões que parecem ser bem complexas.

O que eu quero com a divulgação científica?

Veja, não é sobre um conjunto de regras mais ou menos formais. O texto hoje é para pensarmos sobre o que eu quero com este tipo de ação. Qual o meu objetivo? Se eu não tenho isso claro para mim, como eu posso saber se estou conseguindo ter algum sucesso ou onde estou errando (se é que estou errando)? A divulgação científica, mesmo sendo feita de modo informal, gera demandas em nosso cotidiano e, por isso, precisamos lidar com os acontecimentos…

Existe, sim, mais de um conceito de Divulgação Científica, mais do que um objetivo específico e modos de alcançar estes objetivos. Há diferentes estratégias que podemos traçar dentro e fora das redes e, mais do que isso, conhecimento científico não basta para produzirmos bons materiais e bons resultados.

Cada um destes elementos (que são apenas alguns) podem gerar frustrações bem complicadas, seja por falta de planejamento, seja por problemas na execução dos trabalhos, seja pelo cansaço que ações voluntárias e sem demandas específicas nos geram.

Não tem fórmula mágica, mas também nem tudo é caos e desespero

Quase todo mundo que eu conheço, inicia a divulgação científica de forma completamente amadora e, muitas vezes, sem nem saber que é divulgação científica o que está sendo feito. Isso inclui eu (hahaha).

No entanto, se o que tu estás fazendo começa a ganhar uma certa proporção na tua vida, talvez seja hora de pensar em rumos que gostarias que isso tomasse. Mesmo que seja um trabalho voluntário. Neste sentido, volto a reiterar: o planejamento é fundamental. Compreender que não sabemos tudo, também.

Aqui no Blogs da Unicamp temos repetido o mantra “tenha um repositório”, ou “tenha um espaço próprio”. Isto quer dizer que talvez seja importante pensar em um site ou algo que esteja fora das redes sociais, que organize, estruture e tenha o teu jeito de ser na apresentação de conteúdos, postagens, currículo, etc.

Nas redes sociais, como a dinâmica é o último acontecimento e os assuntos do momento, nossos conteúdos se perdem com facilidade. Ter um modo de indexar isso e achar nossos documentos produzidos é fundamental. Em algum lugar, tens que ter controle das tuas produções.

Ah lá… Falou a pessoa mais organizada do mundo

Longe disso. Sou bem desorganizada. Por isso eu tento investir em espaços de produção, notas e planilhas que deixem claro para mim, o tempo que eu dedico às redes sociais e produção de conteúdos, tempo de estudos e tudo o mais. Com isto eu consigo perceber onde estou procrastinando e quanto tempo eu levo para produzir materiais – incluindo texto, imagens e trilhas sonoras, quando eu resolvo fazer playlist para postagens.

Reforçando a ideia, eu contabilizo minhas horas de estudo, quando programo conteúdos específicos. Eu também estudo fora das telas, sempre que possível (eu sou tiazona, estudo fazendo resumos em caderninhos). Isso me ajuda a concentrar, pois eu acabo desativando notificações e estudando mais lentamente, por exemplo.

São algumas ideias básicas de como eu faço, não é para ser funcional para todas as pessoas. A ideia que estou falando aqui é: encontre teu ritmo, adeque a produção ao teu ritmo e condições de manter os conteúdos. Não o contrário. Não force estudar mais, produzir mais, não aceite mais convites e demandas que vais dar conta. Parece ditar regra, mas são questões absolutamente obrigatórias para não gerar frustração por não estares fazendo tudo o que planejaste, quando na verdade teu planejamento não cabe no teu tempo acordado…

E as parcerias?

Aqui cabe um mundo de elementos a serem conversados. Que vou me aprofundar em outro momento. Vou só comentar que estar em um projeto de DC, com mais pessoas envolvidas (de áreas variadas, produzindo junto, ou organizando pautas de forma setorizada, organizando artes, agendas, estudando estratégias de comunicação), pode ser importante por vários motivos. Primeiro, no que diz respeito à diminuir sobrecarga (não precisamos fazer tudo sozinhos). Além disso, a maior produção de conteúdos gera rotatividade. Com isso, podemos ter conteúdos sobressalentes, para postar em momentos em que estejamos com prazos apertados. Por fim, pode ser que os prazos difíceis de uns, sejam tranquilos para outros.

Só para exemplificar: por qual motivo o Blogs de Ciência têm conteúdos diários para postar? São mais de 100 blogs neste projeto. Claro que estamos falando de um projeto enorme. Mas nós começamos com 10-15 blogs, há 7 anos atrás. Ninguém começa enorme. Se tem algo que leva tempo, é fazer caminhada conjunta. Pode ser até que a gente caminhe mais devagar, mas têm companhia sempre a cada passo – parece clichê, é clichê. Mas também é verdade.

Então onde eu sei mais sobre DC, comunicação e uso de plataformas?

    Eu sempre indico o Gene Reporter, que possui uma lista por temáticas esmiuçada com vários links e textos. Outro local que há muitos materiais interessantes é o Mind Flow e, claro, aqui no Cediciências, embora com uma velocidade e quantidade menor de publicações.

    Mas se tu queres estudar materiais que não sejam de DC da DC, aí seria bom partir para alguns tipos de pesquisas mais específicas. Eu, particularmente, gosto de ler artigos e livros que falem especificamente sobre compreensões de Divulgação Científica, articuladas à compreensão de ciência. Acho importante não desvincular aquilo que divulgamos, como resultados de uma pesquisa, por exemplo, do que tomamos como válido e relevante no fazer científico.

Assim, quando falamos sobre um campo de conhecimento científico, falamos também sobre como se faz e como se pensa cientificamente. Para mim, meu modo de organizar, estudar e divulgar ciência faz sentido completamente.

Vou listar, abaixo, alguns estudos interessantes, a meu ver, que pode ser um ponto de partida legal, além daqueles já citados ao longo do texto!

Artigos:

Bueno, WC José Reis: a divulgação científica como compromisso

Caldeira, FH (2015) O mecanismo de busca do Google e a relevância na relação sistema-usuário Letrônica, 8(1), 91-106. 

Lima, Guilherme da Silva e Giordan, Marcelo (2021) Da reformulação discursiva a uma práxis da cultura científica: reflexões sobre a divulgação científica. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v28, n2, pp375-392.

Lordêlo, FS, Porto, CM (2012) Divulgação científica e cultura científica: Conceito e aplicabilidade. Rev. Ciênc. Ext. v.8, n.1, p.18.

Massarani, Luisa Medeiros, & Alves, Juliana Passos. (2019). A visão de divulgação científica de José Reis. Ciência e Cultura, 71(1), 56-59.

Santos, RO dos (2022) Algoritmos, engajamento, redes sociais e educação Acta Scientiarum Education, 44(1), e52736.

Valeiro, Palmira Moriconi e Pinheiro, Lena Vania Ribeiro (2014) Da comunicação científica à divulgação, Transinformação, 2008, v20, n2, pp159-169.

Dissertações e Teses

Bonora Junior, Maurílio (2021) Análise da trajetória de formação como divulgador científico em imunologia dentro do especial Covid-19 

Carneiro, Erica Mariosa Moreira (2020) Perfil dos blogueiros/divulgadores de Ciência no Portal Blogs de Ciência da Unicamp

Costa, Leonardo Oliveira (2022) Divulgação científica e educação nas redes sociais digitais em tempos de COVID-19

GAMA, Liliane Castelões (2005) Divulgação científica: leituras em classes do ensino médio

Livros

Massarani, Luisa (2010) Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana, Rio de Janeiro: Fiocruz / COC / Museu da Vida.

Porto, Cristiane Magalhães, Brotas, Antonio Marcos Pereira, Bortoliero, Simone Terezinha (2011) Diálogos entre ciência e divulgação científica : leituras contemporâneas, Salvador : EDUFBA

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