Thanos e sua solução para o crescimento populacional
Seria Thanos um titã genocida e louco ou um malthusiano incompreendido e de boa intenção?
Em uma lua pacata e altamente tecnológica chamada Titã nasce o bebê Thanos, irmão de Eros e filho de Mentor, governador dessa lua. Devido à Síndrome do Desviante, uma mutação genética do universo da Marvel Comics, Thanos nasce com uma aparência assustadora e com alguns poderes que ninguém da sua raça possuía. Sua aparência era tão perturbadora que sua mãe viu a própria morte nos seus olhos.
Em certo momento da sua infância, ele conhece uma menina que sugere a ele e seus amigos que visitassem uma caverna inexplorada. Chegando lá, o grupo é atacado por um bando de lagartos gigantes e apenas sobrevive o pequeno garoto roxo. A mesma menina, mais tarde, incentiva Thanos a vingar a morte dos amigos, e ele o faz. Com o tempo, as sugestões dessa nova amiga, que vai se tornar sua grande paixão, vão ficando mais e mais violentas, a ponto dele destruir o seu próprio planeta e matar sua própria mãe. A menina, então, se revela: era a própria morte. E a partir daí, Thanos dedica sua vida a cortejá-la (leia-se: destruir planetas e matar pessoas).
Se você assistiu aos filmes Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato você deve ter estranhado a história desse personagem. Acontece que o Thanos do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) se baseia no Thanos dos quadrinhos, mas eles possuem diferenças fundamentais. Diferentemente do vilão clássico – aquele que faz ações ruins com intenções ruins – o Thanos que conhecemos no cinema é um ser mais humanizado, chegando até a demonstrar amor. Ao invés de reunir as Jóias do Infinito para causar um completo genocídio no universo e, assim, conquistar o coração da sua amada Senhora Morte, o supervilão roxo do cinema tinha a intenção de tornar o universo um lugar melhor e mais equilibrado. E essa intenção tem relação direta com a sua infância.
Segundo contam os filmes dos Vingadores, Thanos viu sua terra natal quase entrar em colapso devido a uma crise de falta de alimentos, que gerou muito sofrimento e conflitos na lua Titã. Quando ficou mais velho, obstinado a evitar que o mesmo destino ocorresse a outros astros, Thanos iniciou uma jornada a inúmeros planetas com o objetivo de aniquilar metade da população do universo e, com isso restabelecer o equilíbrio cósmico entre população e recursos. Apesar de uma ação obviamente reprovável (digna de um vilão clássico), a sua intenção era acabar com o problema da fome, com as guerras, e com todo tipo de desigualdade, melhorando consideravelmente a qualidade de vida da população restante. E o seu raciocínio era simples: “se existem milhões de pessoas que sem ter o que comer ou onde morar, por que eu não mato metade da população? Assim, quem ficar vivo terá tudo em abundância!”. Pode parecer meio sinistro, mas essa ideia de Thanos se assemelha a muitas teorias feitas por pessoas do mundo real.
A teoria populacional Malthusiana
No final do século XVIII, um pastor anglicano chamado Thomas Malthus, teve uma leitura de mundo muito parecida à do supervilão da Marvel.
De acordo com o economista britânico, a população estava crescendo em uma progressão geométrica (1, 2, 4, 8, 16, 32…), enquanto a produção de alimentos (recursos) só conseguia crescer em uma progressão aritmética (1, 2, 3, 4, 5, 6…). Assim, era questão de tempo até a quantidade de pessoas no mundo superar a quantidade de alimentos disponíveis. E quando isso acontecesse, haveria fome, doenças e guerra, que matariam várias pessoas e restabeleceriam novamente um equilíbrio na natureza.
Malthus tornou-se uma figura polêmica por defender que os principais culpados pela possível crise de recursos eram as pessoas mais pobres, porque elas tendiam a ter mais filhos e não tinham condição de cria-los. Diferentemente de Thanos, a solução de Malthus para superar o problema iminente da fome não era matar pessoas, mas a abstinência voluntária e o casamento tardio, principalmente nas classes mais baixas.
Apesar de Malthus não ter matado ninguém diretamente, suas ideias inspiraram uma série de desastres ao longo da história. A Leis dos Grãos, em 1815, que levou à Grande Fome da Irlanda; a Lei dos Pobres, em 1834, que levou à criação das “casas de trabalho” na Inglaterra, que eram como campos de concentração para os indigentes; a recusa do vice-rei da Índia, Lord Lytton, em enviar ajuda humanitária depois da morte de 10 milhões de indianos vítimas de fome; o Darwinismo Social, que defendeu a existência de humanos superiores a outros; o Holocausto; a esterilização forçada que mulheres de vários países sofreram; e a política do filho-único na China.
Apesar de Thanos ter matado um sem número de pessoas, podemos dizer que sua a visão de mundo não carregava nenhum preconceito e elitismo, como se vê em Malthus e em seus seguidores. Sua proposta era a de matar metade da população aleatoriamente, sem escolher entre mais pobres ou mais ricos. Assim, Thanos atuaria quase como uma força cega – e inevitável – da natureza, o que não minimiza o problema de sua decisão. Afinal, por que não usar seu enorme poder para dobrar o tamanho do universo, por exemplo, preservando a vida das pessoas? Considerando todo o seu poderio, parece que a escolha da eliminação das pessoas poderia ser revertida para outras soluções, ou seja, a morte foi uma escolha pessoal dele.
Dito isso, quem foi mais vilanesco? Thanos e seu genocídio “de boas intenções”, ou Malthus, que não matou ninguém, mas cuja teoria inspirou várias ações supervilanescas no mundo real?
O erro de leitura de mundo de Malthus e Thanos
O grande erro do economista foi não prever que a tecnologia avançaria a tal ponto que a humanidade seria capaz de produzir alimentos em escalas industriais. E por essa razão, a disponibilidade de alimentos cresceu muito mais do que uma progressão aritmética.
Além disso, outra importante crítica que se faz à teoria malthusiana é baseada no conceito de transição demográfica, proposta já no século XX por Warren Thompson.
Segundo a teoria proposta por este demógrafo, os países passam por 4 principais fases de transição demográfica. A primeira delas é a fase na qual as taxas de natalidade e mortalidade são altas, ou seja, nascem muitas pessoas e morrem muitas pessoas, logo, o crescimento da população é baixo. Felizmente, nenhum país encontra-se mais nessa fase, com a alta taxa de mortalidade definida por Thompson.
A segunda fase é o momento em que o país começa a obter melhoras nas condições sanitárias, a medicina avança e a expectativa de vida aumenta. Com isso, a taxa de natalidade se mantém alta, mas a de mortalidade cai. Como nasce muito mais pessoas do que morrem, vê-se acontecer uma enorme explosão demográfica. É o que vemos acontecer hoje em vários países subdesenvolvidos.
A terceira fase é quando o país entra em processo de industrialização, o que provoca migração em massa da população do campo para a cidade. E por ser mais difícil sustentar grandes famílias na cidade do que no campo, essa urbanização faz com que as famílias tenham menos filhos. Além disso, nessa fase começam a surgir os métodos anticoncepcionais, a população começa a se instruir, o planejamento familiar se torna algo comum e muitas mulheres ingressam no mercado de trabalho. Tudo isso contribui para uma diminuição das taxas de natalidade. Assim, morrem-se poucas pessoas, mas nascem-se poucas pessoas. E, com isso, temos uma queda vertiginosa do crescimento populacional.
Por fim, a quarta fase é o momento em que a maioria dos países desenvolvidos se encontra. As taxas de natalidade e de mortalidade se mantém muito baixas, o que leva a um crescimento populacional próximo a zero.
Ou seja, o crescimento populacional não é como uma bola de neve morro abaixo. Ele é sujeito a muitos outros fatores que precisam ser levados em conta para uma análise mais adequada.
Como é possível que Thanos, um ser inteligente e poderoso, não tenha pensado nisso?
É realmente muito curioso que um ser de inteligência sobre-humana possa defender uma teoria econômica tão ultrapassada. Mas podemos compreender seu erro de leitura olhando para os neomalthusianos.
Esse grupo reformulou a teoria malthusiana levando em conta o progresso tecnológico e o fato de que, mesmo com toda a tecnologia do mundo, a fome e a pobreza ainda existiam.Para eles, e para Thanos, o excesso populacional ainda era causa não só da fome e da pobreza, como também de gastos excessivos do governo com educação e saúde, afetando negativamente a economia. Até hoje existem correntes derivadas do malthusianismo. Pessoas que colocam a culpa da fome e da pobreza no crescimento populacional e, em especial, na população mais pobre.
Os ecomalthusianos, por exemplo, colocam a culpa do esgotamento dos recursos naturais da Terra no excesso de pessoas no mundo. Há não muito tempo, ouvimos políticos brasileiros propondo como solução econômica e solução ao problema da miséria e da violência o controle de natalidade da população pobre através de cirurgias de laqueadura e vasectomia. E há aqueles que reúnem o pior de Thanos e de Malthus: a crença de que a culpa da fome e da pobreza é o excesso de pessoas no mundo e de que a pena de morte para aqueles de comportamento desviante é uma solução que garantirá maior qualidade de vida para os cidadãos de bem. Seriam esses os MalthusiThanos?
A Teoria Reformista: virando os neomalthusianos do avesso
Segundo a Teoria Reformista, o grande erro dos neomalthusianos está em desconsiderar um dado crucial, que também é considerado na teoria de Thompson. Como fica claro no conceito de transição demográfica, é justamente a educação, a saúde, o desenvolvimento da ciência e tecnologia de um país, que ajudam na regulação do crescimento da população.
Por essa perspectiva, o altíssimo crescimento populacional elevado é CONSEQUÊNCIA e não CAUSA do subdesenvolvimento. É justamente a má distribuição de renda e de alimento, a falta de instrução, a falta de assistência médica, que levam às superpopulações, e não o contrário. Da mesma forma, poderíamos dizer aos ecomalthusianos que a causa do possível esgotamento de recursos energéticos e das mudanças climáticas globais não é o crescimento populacional, mas o uso de combustíveis fósseis (fontes não renováveis de energia), o desperdício e a poluição dos recursos hídricos, a poluição da atmosfera com gases do efeito estufa, etc.
O fato é que há comida para todas as pessoas no mundo. Há dinheiro para que todas as pessoas no mundo vivam com dignidade. Há recursos na natureza que são renováveis (como o etanol, biogás, biodiesel). Há fontes energéticas que não poluem tanto o meio ambiente. Portanto, culpabilizar quaisquer outras coisas por esses problemas é uma forma de criar justificativas para a manutenção da desigualdade no planeta, onde 1% da população concentra 87% de toda a riqueza global (segundo estudo de 2017 da ONG britânica Oxfam).
Portanto, se Thanos tivesse usado seu poder para criar milhares de escolas e hospitais, ou para influenciar políticos a criarem políticas públicas que minimizassem as desigualdades sociais e incentivassem o uso de fontes energéticas renováveis e menos poluentes, ele não precisaria matar nenhuma pessoa. Talvez precisaria ameaçar alguns políticos renitentes. Mas matar pessoas, como mostra a história, é algo que nunca resolveu nenhum problema, só os criou.
Muito boa, a analogia! 😉
Obrigado Aline!! 😀
Thanos e Malthus são bem parecidos em alguns aspectos. Ambos queriam controlar a população para que não houvesse uma crise populacional e faltasse recursos naturais. Porém Malthus culpava as classes mais baixas e defendia o casamento tardio como uma das formas de superar esse problema, já Thanos não utilizou critério algum se não o de eliminar 50% da população total. Letícia #ufjfpism2 #naotodeferiascnx
O personagem Thanks e o pastor Thomas Malthus tem uma pensamento semelhante, sendo: Faltará alimentos para as gerações futuras. De maneira simplificada, ambos culpavam a quantidade de pessoas pelo desequilíbrio do universo. Mas, diferente da Teoria Malthusiana, o Titã não tinha nenhuma forma de preconceito e elitismo, já que sua aniquilação foi totalmente aleatória.
#UFJFpism2
#nãotodefériasCNX
Apesar de terem ideias parecidas sobre o controle da crise populacional, apontam medidas diferentes. Enquanto Malthus acha que a culpa disso é a classe baixa por não terem muito contato com a tecnologia, Thanos simplismente resolve acabar com metade de toda a população. Jennifer Oliveira #naotodeferiascnx #ufjfpism2
Achei muito interessante! E pensar que existiu uma pessoa que teve quase a mesma ideia que um vilão da Marvel!#naotodeferiascnx #ufjfpism2
Thanos acredita que há recursos finitos no universo (uma ideia adequadamente insensata, considerando-se que o universo é infinito e está em constante expansão). Assim, se o crescimento populacional permanecer irrestrito, a crescente demanda por recursos irá inevitavelmente trazer devastação e ruína para todos. Reduzir a população universal à metade seria, na mente de Thanos, "não um sofrimento, mas sim uma salvação", pois seria uma medida feita para evitar a pobreza e a inanição. Maria Eduarda #naotodeferiascnx #ufjfpism2
Tanto Thanos quanto Malthus queriam controlar a crise populacional. Porém, a solução de Thanos era matar a metade da população sem diferenciar os mais pobres dos mais ricos, já Malthus achava que a solução seria o casamento tardio principalmente das classes baixas e a abstinência voluntária. Aline Medeiros #naotodeferiascnx #ufjfpism2
Thanos e Thomas Malthus queriam reduzir a população para controlar a crise populacional, porém a sua soluções eram diferentes , Thanos queria matar metade de toda a população , já Thomas acreditava que a solução série o casamento tardio e abstinência principalmente dos mais pobres.
Excelente! Analogia muito bem trabalhada, inclusive ressaltando todos os pontos relevantes das teorias demográficas e colocando em evidência - mesmo que ainda choque ser necessário - a óbvia resolução, pro óbvio problema - mesmo que a execução possa ser complexa. Parabéns...
Amei a analogia, fascinei-me muito com o filme e a personagem do Thanos e sua respectiva ideologia... Sempre busquei analisar essa situação (população - recurso) e qual seria a alternativa para o caos que se avizinha
Achei muito interessante a analogia com o universo da cultura pop, dos quadrinhos com a geografia da população. Porém, é importante ressaltar que Thomas Robert Malthus foi um dos pioneiros na análise da interação entre população e economia, economista liberal (adepto do liberalismo econômico) elaborou sua teoria pioneira com interesses nessa doutrina, buscando ajustar a acumulação capitalista de seu tempo (1ª revolução industrial). Dessa maneira, Malthus por assim dizer, inaugura o que chamamos nas ciências sociais de "economicismo", ou seja, de que a riqueza material é mais importante do que as necessidades da sociedade, em outras palavras, "pobre não merece viver". Malthus não tinha nenhum interesse em resolver problemas sociais, mas sim retirar entraves a acumulação. É importante ficar claro isso, pois o blog é de divulgação científica, tendo papel relevante nesse aspecto. Gostei bastante do blog! está de parabéns!
Thomas Robert Malthus foi um dos pioneiros na análise da interação entre população e economia, economista liberal (adepto do liberalismo econômico) elaborou sua teoria pioneira com interesses nessa doutrina, buscando ajustar a acumulação capitalista de seu tempo
Achei muito interessante ,Analogia muito bem trabalhada, oque eu achei mais interessante que o Thomas Robert Malthus ele foi um dos pioneiros na população e economista liberal (adepto do liberalismo econômico) elaborou sua teoria pioneira com interesses nessa doutrina, buscando ajustar a acumulação capitalista de seu tempo .
mano parando para pensar se o Thanos aniquilou metade da população do planeta para ter mais recursos para as pessoas por que ele simplesmente só multiplicou os recursos , claro os humanos com o passar do tempo pelo fato de serem gananciosos iriam abusar dos recursos mais aí ele multiplicava os recursos e botava na cabeça dos humanos que eles não poderiam abusar dos recursos simples assim e se for para escolher o verdadeiro vilão seria Thomas Matheus já que ele não matou ninguém mais criou vários conflitos.